A cidade recebe-nos com sol e o termómetro marca 32º. Passeamos a pé em direcção às Portas de Bradenburgo e miramos com gosto o Parlamento e a cúpula de Norman Foster. À chegada, o caos, múltiplos palcos e camiões, anúncios de um programa de televisão e os respectivos apresentadores em fotografia. Agarro-a pela mão para não perder de vista aqueles 11 anos despertos e curiosos. Explico-lhe o que sei e aprendo mais para ensinar. Visitamos o Reichstag e entramos num elevador que mais parece uma Torre de Babel. São todos mais altos do que nós. Falam línguas. Oiço espanhol, italiano, inglês e alemão. Falo o meu português para juntar a voz à multiplicidade. Ela ri-se e tapa os ouvidos. Descobrimos Berlim lá do alto e apontamos o que queremos ver. Três dias não chegam mas são suficientes. Assim andamos, entre a chuva e o sol, olhos postos na História e um ouvido sempre alerta. Falo-lhe de Hitler e de Eva Braun, do Genocídio e de Auschwitz. Ficamos chocadas. Deixo-me envolver pela fuga dos que passaram no checkpoint e dobraram uma Alemanha dividida. Visitamos o Leste, respiramos a Ocidente. As ruas pintam-se de grafittis e os becos mostram-nos o que se faz de melhor na arte da capital. Tiramos fotografias e sorrimos. Às vezes não, quase choramos. No chão, as marcas do Holocausto, o Museu do Judaísmo, tão moderno; a Sinagoga, a vontade de um povo perseguido e a humilhação.
Berlim é para ver, não apenas para visitar. Nesta segunda ida à cidade vejo mais, apreendo mais, sinto mais. E, de mãos dadas, corremos as ruas que conduzem a História e o passado. Bebemos da cultura e das gentes que agora sorriem, saímos do caminho para que uma bicicleta não nos atropele. Na Torre olhamos de cima e visitamos por alto. O cheesecake sabe melhor e vivemos então como se fossemos outras pessoas. Ela pergunta, eu respondo, se sei; procuro, se ignoro. E aprendemos juntas. Gosto disto. Quero voltar a senti-la comigo. Haveremos de conhecer mais.