quarta-feira, julho 30, 2008

A Espuma dos Dias

Roubo o título a Boris Vian para falar de ti. Desta ilha habitada para não ser deserta, chamada de Porto Santo para não ser Madeira. Experimento o sol e o mar, a piscina e o sol outra vez. Deixo-me dormir na sombra da tarde que desce de uma manhã segura de si, certeira, capaz de conduzir o dia. Adormeço sobre a cadeira a que chamaram preguiça, espreguiçadeira no papel do aluguer por 5 euros, uma experiência para o corpo que nela se deita. Oiço o riso dos miúdos na água da piscina e levanto-me até lá. Dou cambalhotas e rebolo no sal que me sabe na boca. A pouco. E volto ao livro ou ao sono, a Ian McEwan que descubro uma outra vez numa praia inglesa, Chesyl, parece-me. E olho em volta para ouvir o que outros lêem, o silêncio das palavras que ficam, das páginas que folheamos. E à noite abraço-te. Ainda faltam 4 dias.

domingo, julho 27, 2008

Aguarde a sua vez



Diz-me como compras dir-te-ei quem és? Pus-me hoje a pensar que seria possível escrever um daqueles livros de personalidade - mas do género fast-food - para mulheres. Seria alguma coisa do género: saiba que tipo de pessoa é, confira os seus traços de personalidade pela forma como vai às compras.
As fúteis seríamos todas, está bem de ver. Quanto ao sub-tipos teriamos a fútil-racional, a fútil-pessimista, a fútil-impetuosa, a fútil fácil.

Vamos esmiuçar:
Fútil-fácil - aquela que entra, vê e compra. Não precisa, não tem dinheiro mas a verdade é que também não pensa

Fútil-pessimista - aquela que cede aos primeiros 30% de desconto nas promoções por achar que depois será tarde demais Qualquer mulher com um pingo de auto-estima sabe que menos de 50% não é saldo que se apresente. E esta é uma fasquia de exigência que nos separa claramente da comunidade masculina.

A fútil-optimista - (na qual eu me insiro :)Aquela que se apaixona por uns sapatos da Fly London em Maio, que em rigor não precisa deles mas que fica a remoer durante vários meses porque-são-mesmo-giros-nem-altos-nem-baixos-e-super-coloridos-que-dão-tanto-jeito-para-o-verão. Dois meses depois regressa à loja e consegue comprar o último par 37 com mais de 50% de desconto. Pelo caminho, ainda entra na loja ao lado e sai de lá com um vestido que já tinha experimentado três vezes (ainda bem que as empregadas mudam de turno) e que, sendo o único desde os tempos do -20%, ainda resistiu até aos 60%.

É possível ficar feliz com tão pouco? É sim senhora e ainda bem! Porque se nos pusermos a pensar a sério esta parece ser a condição feminina. Ser mulher é um acto de espera:

- que as maminhas cresçam
- e que depois não descaiam
- que nos deixem usar saltos altos
- que falte pouco para chegar a casa e tirar os sapatos
- que os pelos acabem de crescer para finalmente os poder tirar
- que as unhas sequem
- que a máquina acabe de lavar
- que a roupa acabe de secar
- que o período venha
- que não venha
- que ele telefone
- que eles nunca cresçam
- que eles cresçam para os ver vencer
- que os cabelos fiquem todos brancos que sempre é mais charmoso que às manchas

sexta-feira, julho 25, 2008

dias produtivos

o negro da contracapa está esbranquiçado pelo sal do mar. de entre as folhas saltam grãos de areia que piso com os pés descalços. copio as frases que esta tarde, sentada a beira mar para fugir ao calor, li com os pés na água, e me fizeram sorrir. volto amanhã. por enquanto, recuso a tendência de sofrer por antecipação e deixo-me ficar de portátill nos joelhos a sentir a brisa que arrepia a base do pescoço. foram dias produtivos. de sol. de mimo. de mar. de livros.

do ócio

- Que fizeste durante todo este tempo?
- Fiz amor - confessou Samantar com naturalidade.
- É um motivo muito nobre. Se é essa a tua desculpa, pela minha parte estás perdoado. [...]

Uma ambição no deserto, Albert Cossery

dos livros

"Os livros não servem para sermos mais "cultos", mais "informados", mais "preparados". Servem para estarem presentes quanto tudo o resto está ausente: eles são o refúgio do mundo quando o mundo persiste em avançar do avesso. Eles são o porto que nos aguarda quando a embarcação está perdida ou destruída. Eles são o primeiro e o último brinde aos amigos que não tivemos, aos sonhos que não vieram. E, como na canção francesa, a todas as mulheres que não nos amaram."

João Pereira Coutinho, in Expresso [12 de Julho 08]

segunda-feira, julho 21, 2008

[novos] vícios de verão


status report ii


Chegar a casa e regar girassóis, malmequeres, dálias, coroas imperiais e um sem número de coisas verdes, que não faço ideia de como se chamam, tornou-se numa espécie de relaxante diário. A água que me passa entre os dedos antes de chegar ao chão, que salpica para os pés, que me refresca nas noites que tem estado quentes. Como se querem. Os girassóis passam o muro e espreitam para o pátio dos vizinhos. O rosa choque da buganvília está enrolado nas grades da varanda. A Oliveira continua pequenina. E a magnólia não há meio de dar flores...

domingo, julho 20, 2008

post it

não ir para um festival, no meio de monsanto, de saltos altos.

sábado, julho 19, 2008

10 anos

Se estiver descalça, lado a lado com o F, ficamos praticamente da mesma altura. Falta um ou dois centímetros para que as nossas cabeças estejam ao mesmo nível. Mas o F. tem só 10 anos. Curioso, atento, perspicaz. Talvez porque as nossas cabeças ficam praticamente à mesma altura, esquecemo-nos muitas vezes que são só 10. E com isso somos desbocados. Medimos mal as palavras. E ontem à propósito de uns calções de banho, escolhidos por ele, e que são verdadeiramente aterradores, comparou-os com outros comprados pela mãe, e que no seu dizer são ‘gay’. Abri a boca de espanto. Perguntei-lhe se sabia o que estava a dizer. Que sim. Que são homens que gostam de homens. E continuamos a conversa primeiro com ele. Que ele não ligasse à opinião da tia, porque as miúdas iam gostar daqueles calções. E mais do que isso, o que gostariam mesmo era de lhos tirar. E eu chocada a dizer que o puto tem só 10 anos. Ele a rir com um sorriso constrangido, mas feliz porque o tratam quase como igual. Depois deixando-o um pouco de parte falando de filmes. Do tropa de elite, que ele viu com os pais, da Cidade de Deus e um pouco mais a despropósito do Delicatessen. Uma espécie de filme de culpa para a minha irmã. O Delicatessen tem uma cena absolutamente deliciosa em que um prédio inteiro, em que se ouve tudo, em toda a parte, age ao ritmo de um acto sexual. E eu a contar a cena, a falar de sexo, e agora nem vale a pena soletrar, porque o puto apanha tudo, e a esquecer-me que ele tem só 10.

sábado, julho 12, 2008

Heil Berlin II!






sexta-feira, julho 11, 2008

Heil Berlin!

A cidade recebe-nos com sol e o termómetro marca 32º. Passeamos a pé em direcção às Portas de Bradenburgo e miramos com gosto o Parlamento e a cúpula de Norman Foster. À chegada, o caos, múltiplos palcos e camiões, anúncios de um programa de televisão e os respectivos apresentadores em fotografia. Agarro-a pela mão para não perder de vista aqueles 11 anos despertos e curiosos. Explico-lhe o que sei e aprendo mais para ensinar. Visitamos o Reichstag e entramos num elevador que mais parece uma Torre de Babel. São todos mais altos do que nós. Falam línguas. Oiço espanhol, italiano, inglês e alemão. Falo o meu português para juntar a voz à multiplicidade. Ela ri-se e tapa os ouvidos. Descobrimos Berlim lá do alto e apontamos o que queremos ver. Três dias não chegam mas são suficientes. Assim andamos, entre a chuva e o sol, olhos postos na História e um ouvido sempre alerta. Falo-lhe de Hitler e de Eva Braun, do Genocídio e de Auschwitz. Ficamos chocadas. Deixo-me envolver pela fuga dos que passaram no checkpoint e dobraram uma Alemanha dividida. Visitamos o Leste, respiramos a Ocidente. As ruas pintam-se de grafittis e os becos mostram-nos o que se faz de melhor na arte da capital. Tiramos fotografias e sorrimos. Às vezes não, quase choramos. No chão, as marcas do Holocausto, o Museu do Judaísmo, tão moderno; a Sinagoga, a vontade de um povo perseguido e a humilhação.

Berlim é para ver, não apenas para visitar. Nesta segunda ida à cidade vejo mais, apreendo mais, sinto mais. E, de mãos dadas, corremos as ruas que conduzem a História e o passado. Bebemos da cultura e das gentes que agora sorriem, saímos do caminho para que uma bicicleta não nos atropele. Na Torre olhamos de cima e visitamos por alto. O cheesecake sabe melhor e vivemos então como se fossemos outras pessoas. Ela pergunta, eu respondo, se sei; procuro, se ignoro. E aprendemos juntas. Gosto disto. Quero voltar a senti-la comigo. Haveremos de conhecer mais.

quinta-feira, julho 10, 2008

desafios

é mais fácil ficar em Garbhapindasana por cinco respirações [inhale exhale inhale exhale...] do que expulsar o 'mundo' da minha cabeça.

Gourmet

Cheguei a casa e tarde mal disposta. Escondi-me no escritório, agarrada ao computador, para disfarçar a neura. Ele, que entretanto já me trouxe um cálice de vinho tinto, está na cozinha a fazer o jantar. "Mesa", chama. E em poucas linhas de um post acabo de perceber que depois de mais um dia bera tenho muita sorte em estar em casa. "Mesa", repete. Não devo abusar :)

dia de avio

recomeço

Regresso ao Yoga dois anos depois num dos meus eternos e infindáveis recomeços. Durante hora e meia estico-me, contorço-me, dobro-me. Regresso ao Yoga e percebo que não me lembro da ordem das posturas. Que não consigo seguir a regra dos movimentos. Que a série se perdeu nos confins da memória. Só uma vaga sensação de conforto resta ainda na caixinha verde alface, a tal do terceiro compartimento da esquerda a contar da pálpebra direita. Não faço mais de oito posturas, de novo repetidas para serem memorizadas pelos músculos, pelo cérebro. E aquilo que há uma semana atrás parecia uma excelente ideia é de repente um verdadeiro tormento, quando na manhã seguinte não consigo mexer os braços e as pernas. Quando dói tudo. Até o dedo mindinho do pé direito.

domingo, julho 06, 2008

O drama da planície

Há alguém a sofrer de enjoos e já se nota a barriga. Já não me lembro quem. Mal a conversa começou do outro lado da linha entrei em pause. Deve ser uma prima ou a filha de uma amiga calculo. São sempre. A vida da minha mãe está povoada de gravidezes alheias. Uma por telefonema pelo menos...sugestões em jeito de insinuações.Já me vou habituando e isso é o pior. Este mês gastei uma renda em testes de gravidez tipo-adolescente-histéria-ao-mínimo-atraso. O meu organismo, fiel como uma obra-prima de um mestre relojoeiro suíço, gosta de me pregar partidas de quando em vez. Fez das boas nos últimos tempos. Patidas, sem nada mais. "Já só faltas tu", disse-me ele na sexta à noite, em plena festa de vodkas tónicos. Apeteceu-me partir-lhe um copo na cabeça. Ou no mínimo mandá-lo à merda. Mas até os homens já se metem nestas coisas?? Descobri mais um pelo público... branco. Procurei, procurei mas não encontrei em mim gravada qualquer data a indicar que o prazo de validade tenha chegado ao fim. O pior é que tudo indica que sim. E ainda me criticam por não escrever mais neste blog!

sexta-feira, julho 04, 2008

profissão a quanto obrigas

"Uma gaja de vestido a falar com os bombeiros é capaz de sacar notícias. Vou é ter que rapar um frio do caraças por causa disso".
A.B.

quinta-feira, julho 03, 2008

alimentar o estômago e a alma

Jantar na minha irmã e sufocar nos abraços e beijos dos putos.

brincadeiras perigosas

Georg: Why are you doing this to us?
Paul: Why not?

Funny Games, Michael Haneke (1997)


Estreia hoje. Vi a primeira versão, numa noite de princípio de Verão no King. Já lá vão uns dez anos. Falada em alemão [o realizador é, senão me engano, austríaco] ficou-me para sempre cravada, num qualquer recanto da caixa verde alface. Não por ser uma boa memória. Apenas por ser memorável pela forma como retrata a crueldade humana. O mal pelo mal. É puro terror psicológico. Michael Haneke revisita agora esta família de férias junto a um lago. Pai, mãe e filho. Bonecos de trapos nas mãos dois rapazes imaculados, pelo menos por fora…

quarta-feira, julho 02, 2008

As águas de Junho

Dicilmente encontro prazer maior. Deito-me de costas e deixo que a água me leve, corpo flutuante, o biquini a aparecer à tona, uma barriguinha que se levanta e os olhos fechados a imaginar tudo isto. O céu azul, carregado e azul, umas nuvens brancas, leves, passageiras, sem pressa. E as vozes dos miúdos que já não se ouvem. É hora de almoço e as crianças têm de sair do sol. Deixo-me levar, na piscina de pastilhas azuis e brancas, em contratse com o céu, por cima os pinheiros altos, as pinhas ali penduradas, um pássaro que passa e asas que batem, também o meu coração. Lentamente. São os dias de Junho que querem terminar, mas deixam saudades, a Sul. Abro os olhos e dou uma braçada, mais uma e outra. Encontro-te do outro lado da água, sempre molhado, os pingos a escorrerem-te na face. Dou-te um beijo, suave como os dias. Estamos de férias. E não há nada melhor.

trânsito

Há duas coisas que levam os portugueses para as estradas: o sol e o fim do mês...

'Há-des' ter muitos amigos

"[...] a família tem por objectivo a procriação."

Manuela Ferreira Leite, em entrevista à TVI

terça-feira, julho 01, 2008

angústias

quando está no auge o primeiro dia [de cinco] de dores de cabeça, só consigo perguntar quando chega a menopausa...