It’s not getting better
Somos cada vez menos nós próprios. Somos cada vez mais como queremos que os outros nos vejam. Andei anos convencida que com a idade algumas coisas deixariam de ser precisas. Porque amadurecíamos e isso faria de nós pessoas mais sinceras connosco e com os outros. Enganei-me.
Passados os 30, e olhando para as mulheres (e homens) fenomenais que me rodeiam, percebo que nunca deixamos os bancos da escola, que nunca perdemos a timidez que nos impedia de ser frontais e nos fazia passar bilhetes, rabiscados em folhas roubadas aos cadernos do T.P.C., pela amiga-do-primo-da-amiga do nosso-mais-que-tudo do momento. É certo que aprendemos algumas coisas e nos sofisticamos. Deixamos de rabiscar bilhetes. Agora escrevemos sms ou usamos o messenger. Exactamente pela mesma razão. Falta-nos a coragem de olharmos de frente aquele(a) que nos desperta as feromonas. Inventamos coincidências que nunca chegariam a acontecer por muito que os planetas se alinhassem, arranjamos desculpas para estar no sítio certo à hora certa. O que nunca, ou raramente, fazemos é olhar nos olhos de alguém e dizer-lhe simplesmente "I love you. And not, not in a friendly way, although I think we're great friends. And not in a misplaced affection, puppy-dog way, although I'm sure that's what you'll call it. I love you. Very, very simple, very truly."
Com a idade vem, qual pack ‘dois-em-um’ que nenhuma de nós encomendou, uma noção do ridículo, ou da decência, que nos impede de ser espontâneos. Passamos a medir com regra e esquadro cada gesto, pesamos várias vezes cada palavra, não vá o entusiasmo do momento pôr mais pimenta num simples “olá”. Contemo-nos e amordaçamo-nos, sabendo que quem der o primeiro passo, quem mandar a primeira mensagem ou fizer o primeiro telefonema demonstrará uma fraqueza miserável.
Como em tudo a generalização pecará por excesso. Haverá quem, com a idade, perca a paciência para o jogo mais perigoso de todos, a sedução. Ou será melhor dizer o amor, porque afinal, nunca sabemos quando, onde, porque alguma coisa vai acabar... ou começar.
4 comentários:
Gostei muito deste teu post. Tenho pensado várias vezes nestes jogos em que transformamos todas as relações e no desperdício de tempo e energia que representam, no desnecessários que são e no modo como parecem artificializar-nos. Nunca me soube orientar nestes jogos de gato e rato, pára-arranca, aquece-arrefece, mostra-esconde... Perco-me nas estratégias, nas máscaras, nas sombras, nas intenções q nunca percebo se chegarão ou não a ser concretizadas. Para quê tudo isso? Para quê complicar não é? É engraçado o paralelismo que estabeleces com os jogos adolescentes, pq nisto das emoções ficámos mesmo presos a uma eterna adolescência de joguinhos sem fim...
obrigada por pores de forma tão clara tudo aquilo em que tenho pensado nos ultimos dias. vou reler.
Pergunta 1:
Estás apaixonada, Carrie?
Pergunta 2:
Não te parece que é mais claro se fizermos a tal proposta em português?
À parte a brincadeira...
Vou dar continuidade ao teu pensamento. Porque também o tive. Tenho-o.
E temo-o.
Resposta 1: Estou.
Resposta 2: Esta é fácil. Está no “Problema de Expressão” dos Clã.
“Só para dizer que te amo,
Nem sempre encontro o melhor termo,
Nem sempre escolho o melhor modo.
Devia ser como no cinema,
A língua inglesa fica sempre bem
E nunca atraiçoa ninguém”.
BB, lê as vezes que forem precisas. Foi escrito a pensar em ti.
Rosebund, apesar do desperdício de energia e de tempo, estes jogos são muitas vezes o que nos faz sentir vivos. O importante é saber distinguir entre as pessoas que valem o esforço, as quedas, e aquelas que nunca merecerão mais do que um simples sorriso, quanto mais a nossa paciência e o nosso tempo.
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