sexta-feira, abril 04, 2008

Mentira

Eu não gosto de mentiras e há muito deixei de mentir. Aos 19 anos mentia ao meu pai quando, às cinco da manhã, ele seguia para o trabalho e eu me cruzava nas escadas com ele. Cansda, olheiras e cheiro a vodka-laranja, dizia-lhe que estava a chegar do trabalho. Ele acreditava. Mas eu ainda não era barwoman do Plateau...

Depois comecei a mentir ao meu namorado. Houve uma mentira dura, que veio depois de uma dura verdade. Numa noite de Inverno, quase a chegar ao fim do ano, num hotel à beira-mar, consegui contar-lhe que o tinha traído. Coisa complicada porque, já se sabe, as mulheres (muitas) quando traem, fazem-no com o coração. E eu estava com ele nas mãos, o meu namorado nos braços. Atirou-se para o chão a chorar. Foi penoso vê-lo naquele estado. A cena demorou muuito tempo, tanto que não sei se foram horas ou minutos, mas quando demos por nós estávamos já no dia seguinte. Perante as explicações e os porquês, perante a dor que me dava pena, perante a incredulidade e a injustiça, resolvi mentir. Disse-lhe que não, que não o tinha traído, que estava apenas a testá-lo, que me perdoasse a "mentira". Ele ficou descansado e voltou a sorrir. Não sei se alguma vez fez o mesmo mas, se sim, terá sido merecido. Anos mais tarde, já a caminho de assinar os papéis do divórcio, falou-me dessa noite e de como continuava sem saber o que realmente tinha acontecido. Arrependo-me hoje dessa mentira. Mais: arrependo-me (tanto) de o ter enganado porque essa é a mentira que mais abomino no ser humano. Nada justifica uma traição, penso agora. Nada. E demorei anos a perceber isso. Por isso não minto. A ninguém. Sou hoje clara como água e até evito as meias verdades. Aquela desculpa de não contar a verdade toda não me preenche, não chega.

Vem tudo à mesa isto por causa do dia das mentiras. Uma data universal que todos - e especialmente a Comunicação Social - usamos para uma pequena mentira. São, geralmente, mentiras que não prejudicam ninguém, uma espécie de "Inimigo Público" num só dia. Mas eu não gosto. Não colaboro, não minto. Serei como os ex-fumadores que se tornam fundamentalistas no dia em que abandonam os cigarros. Talvez seja assim... mas, de forma alguma, digo uma mentira. Sem querer parecer aqueles concorrentes do Big Brother cuja maior qualidade é ser "frontal" (adoram ser frontais!), sou assim uma espécie de grilo falante de mim própria, o anjinho a falar mais alto e a ensinar-me como dizer a verdade sem magoar em demasia. Às vezes falho. Mas prefiro essa falha a uma mentira. Verdade?

7 comentários:

Kaiser Soze disse...

niguém quer saber da verdade, é uma triste realidade...
quando a pergunta é "traíste-me?", a única resposta que será tida por verdadeira é um "sim" porque se disseres "não" ouves o "pois... e o que é que me havias de responder?"

as pessoas acreditam no que querem ouvir... só.

DonJuan disse...

Cada dia gosto mais do vosso blog.

Carrie disse...

meias verdades e omissões. as piores das mentiras...

S.R. disse...

Não acho que uma omissão seja uma mentira. Acho que há coisas qu,e a serem ditas, em nada contribuiem. No entanto, prezo a sinceridade. Mas uma sinceridade acima de uma frontalidade que, não raraz vezes só magoa gratuitamente.

Anónimo disse...

Nunca se deve confessar uma traição, nunca..nunca...
Se for apanhada na cama do amante, diga que foi drogada, bateu com a cabeça em algum lado e não sabe onde está, foi um rapto, mas negue, negue sempre, sempre.
Mas o ideal é não trair, tenho 13 anos de casamento e nunca o fiz, tive várias oportunidades e sempre evitei.... Temos que evitar as situações logo no início pois no fim é muito mais dificil.

Soraiadodot disse...

eu odeio de todo mentiras. sou incapaz de mentir...nem no dia das mentiras! acho que foi por causa da minha educação, os meus pais sempre me ensinaram que mentir é muito feio!
beijo*

S.R. disse...

Lapsos ao escrever num teclado, sorry.

Não acho que uma omissão seja uma mentira. Acho que há coisas que, a serem ditas, em nada contribuiem. No entanto, prezo a sinceridade. Mas uma sinceridade acima de uma frontalidade que, não raras, vezes só magoa gratuitamente.