sexta-feira, abril 11, 2008

Sem voz

O Dia Mundial da Voz é depois de amanhã, sábado, dia 12. Mas não é sobre isso que venho discorrer. Penso hoje naqueles que têm voz mas preferem ficar sem ela, omiti-la, escondê-la. Penso nos que calam, nos que não podem falar, nos que não conseguem fazê-lo. E não, não são questões políticas que os impedem. Apenas o ser. Ser como são. Os que guardam a voz têm para si os problemas, vivem com eles, não partilham, não dizem a ninguém, não querem ser ajudados porque acreditam que não precisam de ajuda. Silenciam e são silenciados, amordaçados por uma maneira de estar. Tenho um caso bem próximo. Começa a complicar-se a vida que partilha com outra pessoa. Um problema por resolver, por falar, por destrinçar. E uma crise que se agudiza, mesmo quando, do outro lado, mais não há do que compreensão e afecto. Não discutem. Ele reserva para si o que o incomoda. Ela procura-o, enternece-se, cria plataformas para o diálogo. Nada, não existe. Ele amua ou exalta-se quando sente que a privacidade de algo por resolver não é respeitada. Esquece-se que já não é o único a sofrer com o que vai mal. Ela já não sabe como falar-lhe, escuta mas não consegue ouvi-lo, observa e não pode vê-lo. Não se encontram na cama. Raramente. Porém, amam-se. Deitam-se muito juntinhos, beijos na cabeça e no nariz, palavras doces e sábias, momentos de carinho e ternura. Nada mais. O sexo foi posto de parte como se a vontade tivesse partido para um lugar distante e não tivesse encontrado o caminho de volta. Ela martiriza-se, questiona-o, sabe que o problema não está do seu lado, mas do lado de lá. É ele quem precisa de agir. Mas não. Ele espera que o tempo passe e que a vida se arrume por si, como numa revista de interiores onde as almofadas jogam com o tapete. Ela sente-se sem chão. Age como se nada fosse mas sabe que tudo se passa. As mãos tocam-se. Partilham o espaço, os dias e as noites, partilham o carro e até o emprego. Os interesses. Partilham como irmãos. Quase... Ele quer, diz-lhe já no limite. Mas não pode, não consegue. Ela deseja, mas não depende apenas de um. E enquanto ele não for feliz, numa vida qualquer que não tem a ver com ela, não poderão ser felizes os dois. Calam-se, quando o silêncio pesa. E lá fora celebra-se a voz e muitos já falam tão alto...

2 comentários:

criptog disse...

Haja voz ... e que a interior se exteriorize.
:)

Anónimo disse...

que história não triste! espero que não seja a tua...