Há quem, a partir dos 30, perceba essa tua reflexão, Carrie.
Sou uma delas.
Há quem, a partir dos 35, não tenha alternativa, senão percebê-la.Conheço gente assim.
Na minha curta - mas sofrida, vivida, eu sei lá... - experiência, concluo que os jogos a que achamos piada aos 17, tornam-se viciantes aos 22, doentios aos 28, desesperantes aos 30, preocupantes aos 32. Mais não digo, porque não tenho idade para isso.
Creio ter a ver com o nosso ego, com a nossa auto-estima. Por um lado porque não sabemos dar, ao outro, a razão do nosso amor, do nosso gozo, da nossa satisfação e puro prazer... Ponto. Por outro, porque não sabemos, nós, lidar com os elogios, com o gosto do outro, com a entrega e com a dedicação que nos é dada. Soa-nos a falso. E partimos para outra.
Uma vez ouvi uma amiga desligar o telefone com a seguinte frase: 'Ele gosta demais de mim!'. Ri-me. Olhei para ela a pensar: 'Bolas... claro que gosta de ti. Tu és uma pessoa fantástica'. Ela disse-o com o humor que a carateriza. Mas com alguma preocupação. Como lidar com tanto 'gostar'?
O rapaz do telefonema já não é o namorado dela. Aliás, ela não tem, actualmente, um namorado.
É curioso. Conseguimos, por vezes, ser mais honestos e capazes de pôr a nú os nossos sentimentos nos momentos em que somos desprezados e, quando a coisa é partilhada, tendemos a fazer de conta que não é connosco. Penso, às vezes, que se me dizem 'gosto de ti' é ridículo dizer 'e eu de ti'. Fico com a sensação de estar apenas a retribuir. É como quando nos mandam um cartão de Boas Festas. Há uns que já dizem 'Agradece e Retribui'. Como quem diz... 'olha, não me tinha lembrado de ti, mas já que mandaste o cartão, aqui vai outro'. Não podia ser antes: 'Olha, fiquei tão contente por te lembrares de mim que não quis, de modo nenhum, deixar de dizer-te que também me lembro de ti'.
Acontece-me tanto...
Vai longo este 'post'. Porque o assunto que trouxeste à baila, Carrie, tem que se lhe diga. Tento, agora, ser o mais clara possível nestas coisas do amor e do gostar. Reclamo quando não o fazem comigo. Detesto entrelinhas e recados que não passam da intenção de os dar.
Às vezes ainda entro no jogo. Consciente que perderei sempre, seja qual for o resultado. É que este não tem soluções, nem mesmo invertidas, na página ao lado. Sai-se dele jogando até perder tudo. Na esperança de ganhar bom-senso, e uma grande dose de coragem.
Pela minha parte... gosto de ti. Muito. E das outras (semi) habitantes deste blog.