domingo, janeiro 07, 2007

Babel

E se um dia uma arma mudar a vida de muita gente? A arma usada para caçar, comprada pelos mais pobres para matar chacais, atinge o ser humano. E nesta Babel onde falamos línguas diferentes e por isso não nos entendemos, a arma da caça fere o ser humano, o mais frágil. E Inarritu dá a volta ao mundo, passa pelos Estados Unidos, pelo México, e por Marrocos, ainda vai ao Japão, num só filme que é um murro no estômago.

Babel não tem um Brad Pitt lindo ao virar da esquina, um Gael Garcia Bernal a despertar corações. Não. Tem dois homens, dois actores que ali não entram em capas de revista e são seres humanos que cometem erros. Não são heróis, nem aventureiros, nem nada que os afaste de nós próprios. São gente como nós a quem acontecem imprevistos. Como a qualquer um podia acontecer.

E a criança que quase mata vê depois morrer o irmão numa luta de atiradores. Tudo tinha começado assim: a ver quem atira melhor. E a arma que antes servia para matar o inimigo das cabras num deserto profundo, depois de dar a volta ao mundo, transforma-se no elemento perigoso do filme. Mesmo assim, é a língua a melhor arma, e a que nos faz mais falta.

Faz falta à japonesa que chega à adolescência morta por uma relação sexual; faz falta ao homem que tem a mulher nos braços e não parece haver quem a salve, faz falta às crianças que se vêem no meio de uma outra cultura onde degolar galinhas é uma festa, faz falta a cada um de nós, ao fim ao cabo, para percepcionarmos tudo o que se passa num filme cheio de sons, cheio de comunicação, pleno de histórias com um fio condutor que não podemos perder.

Babel é um grande filme. Deixa-nos calados por uns minutos.

PS: Obrigada aos meus companheiros de fita. Sem eles teria ido para casa dormir!

2 comentários:

Anónimo disse...

Um grande filme. Pelos pequenos momentos que proporciona. Pequenos grandes momentos.

Anónimo disse...

Embora não seja uma ideia nova o filme é em geral bem conseguido com 2 senãos:

1- pacing muito lento na primeira parte do filme (justificado pelo desenvolvimento da história).
2- A entronização do "bom selvagem" como vitima da globalização.

No geral, gostei!