segunda-feira, janeiro 08, 2007

O dia em que o Natal acabou

Tirei bola a bola: uma dourada, outra vermelha, outra cor de prata. Tirei a estrela do topo e retirei as luzinhas que deram luz à casa durante três semanas seguidas, dia e noite, sem piscar. Desmontei cada ramo e acocheguei tudo na caixa da árvore de Natal. Também já arrumei o anjo que estava em cima da mesa. Arrumei o Natal nas caixas devidas.

Havia expectativas próprias da época. Achei que ias ligar-me para falarmos. Achei que passarias por cá, pelo País, para umas férias curtas. Não sei se o fizeste. Se passaste, não dissesete nada, nem sequer tentaste um telefonema vazio como é teu costume. Eu notei a ausência e quase chorei. Os dias foram difíceis e aumentaram as dores de barriga. A ansiedade também, servida com dores de cabeça e uma falta de apetite atroz. Nem os doces me seduziram... as fatias douradas pareceram-me pedras de calçada banhadas a açucar, mas sem sol; os sonhos não fizeram jus ao nome; e o Bolo Rei nunca foi o meu preferido, mesmo agora que há um Rei na minha vida. E tu, que não me deixas.

Disseram-me para não esperar mais por ti, que não valia a pena, que não merecias, que iria arrepender-me e que o sofrimento não compensava. Disseram-me que não vales nada, que nunca valeste, que só me fizeste mal, e enunciaram-me cada falha tua, cada dia em que chorei, cada vez que me desiludiste. Recordo esses tempos com mágoa. Mas já te perdoei.

Este Natal quis renascer, antecipar a Páscoa, no que ela traz de revolução. Mas não fui capaz. O ano não começou bem, e estes primeiros dias têm sido difíceis de levar. Mesmo assim, prometo a mim mesma fazer qualquer coisa, não esperar que aconteça, não esperar mais por ti. Vou ver se o meu inconsciente me deixa sossegar, serenar, dormir em paz. Vou esperar que não me apareças de noite, nos mais estranhos sonhos, nas mais diversas versões. Quero-te feliz. Mas procuro também a minha felicidade.

É que afinal o Natal não é todos os dias, e eu já pus nas caixas todas as decorações da época.

1 comentário:

Anónimo disse...

Samantha, o comentário demorou uns dias mas é sentido.
Se pudesse, dava-te um abraço. Um daqueles que há quem diga que são especiais...