quarta-feira, janeiro 10, 2007

Pode uma declaração de amor tornar-se banal?

Acordei com desejos de chuva. E ela lá estava do outro lado da janela hermeticamente fechada. Normalmente sofro com os dias de chuva. Aquele cinzento que se entranha nos ossos. Sobe pela medula e se aloja por cima da pálpebra esquerda. Não consigo reagir por muito que tente. Suplico aos ponteiros que se apressem. Que cheguem antes da hora. Que não façam esperar ninguém. Hoje, por algum motivo insondável foi diferente. Fiquei uns minutos sentada no chão em frente ao vidro, só para ver a chuva cair do outro lado. Pensei na frase com que adormeci ontem. Pode uma declaração de amor tornar-se banal? Pode um sentimento tanta vezes repetido perder o sentido original? Pode uma surpresa [quase] diariamente – e ainda que com variações - renovada tornar-se vulgar?

Gosto de surpresas. Gosto de ser surpreendida com um convite, com uma frase dita na mais despropositada das ocasiões. Mas gosto principalmente do impacto que as minhas surpresas têm nos outros. Mesmo quando estou longe penso na satisfação que pode causar um ramo de flores. E quando estou perto, um presente fora de horas. Uma mensagem apaixonada a meio de uma reunião, de um almoço. Frases inoportunas. Declarações sentidas. Não o faço à espera de um ‘obrigado’. Muito menos à espera que o retribuam. Faço-o apenas porque me faz sentir bem o sentimento de que fiz alguém um pouco mais feliz. Por muito pouco que seja. E ontem enquanto adormecia, sem a confirmação de um sorriso, pensava ‘pode uma declaração de amor tornar-se banal?

2 comentários:

Catarina disse...

Pode.

Mas é contra isso que algumas pessoas lutam. Felizmente. Acrescento.

dade amorim disse...

seria uma contradição em termos, não? Podem ser banais as palavras, não o amor.