sexta-feira, junho 29, 2007

Erro Humano

Às vezes fazemos o melhor pelos outros e eles acham que não fizemos bem. Sentimo-nos então tristes e um pouco à deriva. Porque agir bem não é só fazê-lo... é também agradar.

quinta-feira, junho 28, 2007

A convivência com o tabaco (dos outros)

Eu não fumo. Nunca fui fumadora.

Lembro-me de ter experimentado um cigarro, ainda miúda, no sótão de casa dos meus pais, com o meu irmão do meio. Ele 'obrigou-me' a partilhar da experiência que ele então conhecia. Nunca mais dei uma baforada, até à noite de Ano Novo em que uma garrafa de João Pires deu cabo de mim. Estávamos na casa de Cascais nessa noite e, de cigarro na boca, lá fui perguntando à minha (hoje) cunhada até que ponto gostava do meu irmão mais velho. Só a bebedeira me permitiu tais facilidades... Enjoei, nessa noite, e para sempre, os cigarros. E nunca esquecerei a má disposição e os dias que se seguiram.

Quando casei 'escolhi' um não fumador. Irritava-me com ele sempre que, "só nas festas" acendia dois ou três cigarros. Fazia-o por prazer, mas também para me irritar. Tornei-me quase fundamentalista. Um dia divorciei-me (não por causa do tabaco) e, nesse mesmo dia, ele começou a fumar...

Recordo ainda a minha entrada numa redacção. "Não fumas, não bebes café? Espera uma semana ou duas e logo verás...". Passaram quase 14 anos e continuo sem fumar e sem beber café. Não gosto nem de uma coisa, nem de outra.

O meu namorado fuma. Muito. Faz do cigarro uma companhia, como refere a Carrie, citando Vasco Pulido Valente. Fuma no meu carro, na minha sala... ficamos nas mesas de fumadores, nos restaurantes. Naturalmente, incomoda-me. Já não sou fundamentalista porque a primeira experiência correu mal. Mas o cheiro do tabaco perturba-me e perturba-me ainda mais saber que estou com uma pessoa que, por causa dos cigarros, pode agravar os seus (e os meus) problemas de saúde.

Aposto agora na tolerância. Mas os fumadores são, normalmente, intolerantes. Eu tenho de 'levar' com o fumo deles, mas longe das suas mentes deixar de fumar um cigarro por minha causa. Se eu disser ao meu namorado para ficarmos na mesa de não fumadores - tenho esse direito! - ele deixar-me-á, na certa, a comer sozinha. E não me venham com o gesto ridículo de pôr o bracinho atrás das costas da cadeira do vizinho, porque não resolve nada. O fumo parece estar sempre de feição. Não refilo. Suspiro, tento não inspirar, aceito o facto de ter amigos e familiares que fumam e vou suportando.

Mas isto sou eu a pensar neles. Por uma vez podiam pensar em mim.

Porque vivo há seis meses na anormalidade [ii]

Ao fim de dois meses já tinha percebido porque é que os ex-fumadores se tornam fundamentalistas. Se eu não ‘posso’ fumar, porque raio podem as outras pessoas? Os sublinhados no texto do Pulido Valente traduzem a minha angústia diária.

Ao início, principalmente à noite, sofria sozinha. O cigarro também é uma companhia. Quantas vezes não repeti esta ideia quando me perguntavam como estava a correr… No trabalho, e curiosamente, foi onde me angustiou menos a ausência. Coincidiu com a abolição da sala de fumo. Longe da vista, longe do coração. Torna-se mais fácil quando não vemos que outros continuam a usufruir desse imenso prazer. Percebi por esses dias que associo mais facilmente o cigarro a momentos de lazer, de pausa, de descontracção, do que [como seria de esperar] a momentos de stress. Talvez por isso as férias tenham sido um verdadeiro tormento. As pessoas fumam muito. Passam a vida de cigarro na mão. Também é verdade que os únicos momentos em que achei que não ia resistir foram alturas de stress. Terça-feira de manhã… levantei-me da cadeira em frente à câmara e supliquei à R. [que entretanto deixou de fumar] que me desse um cigarro, enquanto as lágrimas começavam a rolar pela cara a baixo. Não havia cigarros no pasquim. E a vida continuou.

Passaram seis meses. Não passa um dia, uma hora, em que não sinta vontade de acender um cigarro. Não fumo porque não quero. Mas sofro diariamente [muito!] com isso.

Porque vivo há seis meses na anormalidade

Os benefícios do tabaco

Viver sem fumar é como escrever sem pontuação. Pelo menos, para mim. A pequena cerimónia de acender um cigarro marca um "tempo": o princípio do dia, o princípio do trabalho, cada intervalo ou cada distracção, o alívio (ou o prazer) de acabar qualquer coisa, o almoço (quando almoço), o jantar (quando janto), o fim do dia, antes de fechar a luz, como um ponto parágrafo. O cigarro divide, acentua, encoraja, consola. Abre e fecha. É uma estação e uma recapitulação. "Já cheguei aqui. Falta ainda isto, isto e aquilo". Nas poucas vezes que tentei não fumar, tinha um sentimento de desordem, de arbitrariedade, de não saber passar de um frase a outra ou de um capítulo ao capítulo seguinte. Os fumadores, se repararem bem, não fumam ao acaso; fumam com ritmo.

O cigarro também é uma companhia. Sobretudo para quem trabalha sozinho. A maior parte das pessoas vai falando, pouco ou muito, durante o trabalho. Por necessidade ou por gozo próprio. Do "serviço" à intriga, há milhares de oportunidades para o grande e simpático exercício de conhecer o próximo: para gostar dele ou para o detestar, para o observar, o comentar ou o intrigar. De porta fechada, à frente de um computador ou de um livro, não há nada à volta. Aí o cigarro ajuda. É um fiel amigo: a pausa que torna o resto tolerável. E que, além disso, recompensa uma boa ideia ou manifesta o entusiasmo ou a execração pelo que se leu. Com quem se pode conversar senão com o cigarro? De certa maneira, o cigarro substitui a humanidade; e não me obriguem a fazer analogias. Mas, principalmente, fumar serve para pensar. Quando, a ler ou a escrever, paro a meio de uma página, porque me perdi num argumento ou não consigo imaginar como se continua, pego num cigarro e penso. Não me levanto, não me agito, não abro a boca, não me distraio. Fumo e procuro com paciência a asneira. O cigarro concentra e acalma. Restabelece, por assim dizer, a normalidade.
E este efeito "normalizador" é com certeza uma das suas maiores virtudes. Não comecei a fumar para ser adulto ou "viril". Comecei a fumar porque sou horrorosamente tímido e porque o cigarro é com certeza a maior defesa dos tímidos. Primeiro, porque ocupa as mãos e simula um arzinho de à-vontade. E, segundo, porque esconde e protege ou cria a ilusão de que esconde e protege. Por detrás de um cigarro, o mundo parece mais seguro. Mesmo se andam por aí a garantir que não.

Vasco Pulido Valente no Público de hoje

[Os bolds meus]

Quer fumar? Fume ganzas.

É que se for apanhado a violar a nova lei do Tabaco [que deverá ser aprovada hoje no Parlamento] sempre paga uma multa inferior àquela que pagará se estiver a fumar um cigarro normal. Isto porque as multas contra a droga [403 euros] são inferiores às propostas contra o tabaco [[750 euros]. Resta saber quanto pagará no futuro quem for apanhado a beber o seu copito de tinto. É que, droga é droga!

quarta-feira, junho 27, 2007

Coisas que me tiram do sério [vi]

A telephone box sits in flood waters in the Catcliffe area of Sheffield, northern England, June 26, 2007. Hundreds of people have been evacuated from their homes in South Yorkshire as officials warn a dam could collapse following severe flooding that has killed three people. REUTERS/Darren Staples (BRITAIN)

terça-feira, junho 26, 2007

Mulher no meio de um ataque de nervos ou post minimalista

Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

Inhale exhale Inhale exhale Inhale exhale Inhale exhale Inhale exhale Inhale exhale

segunda-feira, junho 25, 2007

Museu Berardo

Joe Berardo tem graça. Diz o que pensa e não tem pruridos em afirmar que é tudo muito bonito, a arte e tudo o mais, mas sem 'cacau' não se fazem milagres. Foi assim mesmo que ele se referiu ao Museu com o seu nome, esta noite, no Jornal da Noite da SIC.

Muitos ficarão chocados com esta frontalidadade. Eu acho-lhe piada. Isto porque fazem falta pessoas com capacidade de dizer o que lhes vai na alma, sem rodeios, sem vergonha, sem receio do que possam os outros pensar. Eu não sei quanto dinheiro tem Berardo, mas tem tanto que até Pinto Balsemão disse, um dia, que o Comendador seria um dos poucos portugueses de quem ele - Balsemão - poderia ser mordomo. Imagine-se a fortuna do madeirense...

Esta noite não poderei aproveitar a abertura gratuita do Museu para visitar as muitas obras que estão agora expostas no Museu Berardo de Arte Contemporânea, mas estou ansiosa por fazer uma visita. Gosto particularmente da arte contemporânea, e agrada-me saber que tenho um bom espólio à porta de casa. Muitas vezes andamos quilómetros para visitar museus fora de Portugal e, desta vez, temos uma boa razão para começar cá por dentro. Não sei se esta colecção está altura da de uma Tate ou de um Georges Pompidou mas, sem dúvida, é um conjunto de obras interessante, com artistas dos séculos XX e XXI, nacionais e internacionais.

Berardo concede entradas gratuitas aos funcionários públicos e aos sócios de clubes de futebol da Primeira Liga. Interessa-lhe, diz, ter pessoas no museu, e não um museu vazio, solitário. Até, pelo menos, ao final deste ano, estas borlas poderão levar mais gente ao CCB. E mesmo os menos atentos às coisas da arte deverão ficar impressionados e fixar um ou outro nome, uma ou outra peça.

Há, então, muitos motivos para conhecer, num processo rotativo, as 862 obras de Berardo. Não se pode perder esta oportunidade de engrandecer o que temos no País, ao mesmo tempo que enriquecemos a nossa cultura pessoal. Eu conto ir até lá em breve. Mesmo tendo de pagar bilhete, porque não faço parte de nenhum dos grupos privilegiados.

Afectos [xiv]

Quanto vale um 'porto de abrigo' disponível às horas mais impróprias?

sábado, junho 23, 2007

Sozinha em casa

Dizem-me muitas vezes, os meus amigos que vivem acompanhados, que não há nada melhor que uma tarde, uma noite que seja, passada na solidão do lar, em frente à televisão ou com um bom livro na mão; com o comando à disposição e o frigorífico cheio. Sem mais ninguém.

Eu tenho dificuldades em perceber este modo de estar. Não é que me atormente estar sozinha, mas descobri que não sei estar muito tempo sozinha em casa. Se chego e o sol ainda não se pôs lá ando eu às aranhas, a pensar como posso ocupar o tempo. E esforço-me por não ir para a cama às nove e meia porque sei que é cedo demais e que essa decisão me trará consequências na manhã seguinte.

Hoje é um desses dias, de solidão em casa. Não cheguei há muito tempo, mas o suficiente para não saber onde pôr as mãos. Vim agora ao computador para ver as horas passar. Mas nem sei o que faça a seguir, porque não tenho nada para comer - só umas cerejas - e não me apetece ver televisão sozinha. Tenho ainda a possibilidade de ler, mas tenho de começar um livro novo e não sei qual escolher.

É curioso como nunca estamos contentes com o que temos. Quantos não dariam tudo para estar, por esta hora, sozinhos em casa? Eu, porém, sinto-me assim como um cão abandonado, sem nada para ocupar o tempo, sem vontade de pensar nisso...

Estar sozinho em casa não é o mesmo que estar só, mas às vezes confunde-se.

Martírio

Nunca, em dez anos de profissão, me atormentou tanto a ideia de regressar ao trabalho depois das férias. Antes ser apedrejada em praça pública, do que ser sujeita à tortura que me espera terça-feira de manhã.

Post em diferido

[Apesar de tudo] Sevilha faz-me sentir em casa.

sexta-feira, junho 22, 2007

Mais aborto

O bastonário da Ordem dos Médicos quer centralizar numa única lista o registo nacional dos objectores de consciência. A medida é previdente. Pedro Nunes conhece a classe e quer evitar situações em que um médico é objector no serviço público e não o é no privado. Resta saber, se a medida for avante, se as clínicas que andam a pedir licenciamento à DGS para poderem realizar interrupções voluntárias da gravidez continuarão a ter médicos disponíveis. É que no serviço nacional de saúde os objectores de consciência rondam os 60%...

Aborto e taxas destabilizadoras

[Declaração de interesse: votei sim no referendo]

As mulheres que queiram interromper uma gravidez até às dez semanas vão estar isentas de pagamento das taxas moderadoras. A notícia vem no Público de hoje [depois da publicação da regulamentação da lei], com a garantia do ministro da Saúde.

Não deixa de ser irónico que num País em que se gastam anualmente cerca de 8 mil milhões de euros com a Saúde, com um Governo socialista que impôs o pagamento de internamentos e cirurgias realizadas nos hospitais públicos [o ministro da Saúde chama-lhes ‘taxas de utilização’], se venha agora dispensar de qualquer pagamento uma intervenção cirúrgica que será sempre realizada a pedido da mulher. Consta que ao abrigo do regime de isenções previsto para as grávidas... Grávidas que pelos vistos não o querem ser. Então para quê dar-lhes um privilégio inerente à condição que condenam?

Vale a pena ressalvar, e antes que me caiam em cima, que não estou contra este suposto privilégio por achar que a gratuitidade levará mais mulheres aos hospitais para interromper uma gravidez não desejada.

Sou a favor da despenalização da interrupção voluntária da gravidezi. Mas haverá necessidade de ser mais papista que o papa? Porque obrigar todos os contribuintes a pagar para resolver uma situação que é pessoal? Quem me paga a mim as pílulas e os preservativos que sempre usei para evitar gravidezes indesejadas? Ok. Concedo que esta visão pode ser minimalista e pouco séria. Então vejamos a coisa por outro prisma... Mas nem vale a pena irmos pelo discurso das filas de espera, das consultas no privado...

A vacina contra o Papilomavírus Humano (HPV), que pode provocar o cancro do colo do útero, está à venda desde o início do ano. Está indicada para raparigas e mulheres que ainda não tenham iniciado uma vida sexual activa e os estudos dizem que é altamente eficaz (quase em 100%). A vacina custa 481,35 euros [são três doses a 160,45 euros cada]. Foi o mesmo Governo, que agora vem dizer que os abortos são de borla, que não autorizou a inclusão da vacina no Plano Nacional de Vacinação, que permitiria às mulheres ter acesso gratuito à vacina. A interrupção de uma gravidez, por método cirúrgico, custa ao Estado entre 830 e 1.074 euros...

Dois pesos e dois medidas para questões de saúde pública que tenho muita dificuldade em perceber...

quarta-feira, junho 20, 2007

Shrek III

Até os ogres têm filhos...
É uma experiência a considerar. Dizem que é maravilhosa. Mas são precisos dois.

Parabéns Carrie!!!

Porque a vida faz-se de tudo o que aí vem.
Mais um ano.
Aproveita-o.

Rio de Janeiro IV


Rio de Janeiro III

Vende-se de tudo, na praia. Do camarão ao matte, passando pelos conhecidos biquinis e terminando nas redes, nos sucos de tudo e de mais alguma coisa, nas sanduiches, nas empadas, nos papagaios, nas tatuagens... Basta ter uns quantos reais para que a estada na praia seja mais do que um simples prazer ao sol. Nas cadeirinhas que também se alugam, claro.

O que me parece curioso não é só a quantidade de vendedores ambulantes que correm a praia do Leblon a Copacabana... é a pobreza que ali mora, com eles, que também grita pregões. É o valor que cada centavo pode ter, na vida de cada um. Comprei uns biquinis a uma carioca que me disse que, para poupar 20 centavos, não apanhava o autocarro com ar condicionado. É que 20 centavos, ao final de uma semana, somam um real. É dinheiro.

Por outro lado, a simpatia. Oferecem tudo com um sorriso e não se chateiam por levar um não. É normal. Não há falas entre dentes nem há comentários desgostosos. Apenas um obrigado. E assim ficamos...

***

O regresso a Portugal fez-se na classe executiva. Ainda assim uma viagem dura e com os horários todos trocados. A prova está na hora já tardia a que escrevo este post. Ainda não estou dentro do relógio português, apesar de a diferença de quatro horas não ser assim tão 'aberrante'. Mas ao bronze que já escorrega para fora do corpo junta-se um sorriso de quem passou 9 dias em grande... A comer bem - no 'Gero, o mais dos mais, no Rio; mas também no Gula Gula, no Belmonte ou no Bracarense - neste último o melhor fillet mignon do Rio (leia-se, o melhor prego no pão) - a comer bem, dizia, a apanhar muito sol e calor, a tomar banhos de mar num Atlântico oposto ao nosso, a descansar...

Já sei que voltarei. Ou não tivesse um companheiro de viagem louco pela cidade maravilhosa. Não sei quando será. Mas vou fazendo planos...

sexta-feira, junho 15, 2007

Do passado, presente e futuro

Acho que foi o John Lennon (perdoem-me os grandes fãs se estiver enganada) que disse qualquer coisa como: "A vida é aquilo que acontece enquanto recordamos o passado e nos preocupamos com o futuro". As palavras exactas não seriam estas, mas o que interessa é o espírito do "dito". Eu concordo, mas tenho o problema de não conseguir desligar esse fluxo torrencial de pensamento enredado no diálogo entre o que já passou e o que ainda virá. Coisa cansativa e melindrosa esta de reflectir sobre um e perspectivar o outro, esquecendo-se o que está de permeio! Já agora cito mais alguns destes "ditos" - que li num site qualquer sobre emagrecimento e força de vontade - e que me fizeram sorrir. São uma espécie de manual para ansiosos e insatisfeitos (como eu) que deixo ao dispôr.

A) "Felicidade não é ter o que você quer, é querer o que você tem", sentencia Spencer Johnson.
B) "Não se deve lutar por ter sucesso na vida, mas por ter significado na vida de alguém", acho que foi a Oprah.
C)"Somos human beings, não somos human doings", não me lembro do autor.

PS- Samantha desfruta os sons, cheiros e sabores cariocas com a cara metade. Há-de voltar radiosa, em versão mel: no tom da pele, no dengue dos gestos, no doce das palavras. Viva o Rio e viva o Panda!

quarta-feira, junho 13, 2007

A explicação cósmica para todos os meus males*

“[as mulheres gémeos] são impacientes e procuram sempre um ideal de vida, apesar de muitas vezes nem sequer saberem o que procuram realmente, porque, na verdade, a imaginação não tem limites.”

Num post antigo a Miranda diz que sou a sua amiga mais
estável em toda a sua instabilidade’. Mas eu sempre soube que tinha que haver uma explicação para ser como sou. Está nas páginas da Happy Woman de Junho. A revista que comprei porque a Miranda disse que trazia descontos para massagens. E traz. E também diz outras coisas, que por respeito pelos interessados [ao caso eu], prefiro não partilhar.

*Ou não-tenho-a-culpa-de-ser-como-sou

terça-feira, junho 12, 2007

Rio de Janeiro II

No 'Vinicius', parte do Bar, ouvi um tal de Percy Ribeiro. Nunca tinha ouvido falar nele, mas deu gosto quando cantou a Garota de Ipanema. Bebi um suco de abacaxi - o meu preferido - para acompanhar o som. E fez-se noite escura para voltarmos ao hotel.

Entretanto já somamos dois dias de praia. Ali perto do Posto 9. Ontem e hoje o tempo ajudou e ficámos de papo para o ar a mastigar amendoíns e a beber água fresquinha. Um mergulho de quando em quando e as costas viradas para o mar, que o sol vem do lado do Ceasar Park. Nininha e Severino alugam-nos as cadeiras e hoje tivemos chapéu de sol, que o corpo já está a ficar vermelho e não se pode abusar.

Hoje é dia dos Namorados, por aqui. Coisa de grande importância para estes lados. Vamos dar um salto a uma livraria para beber um café e olhar para os livros - talvez comprar um ou outro. E depois jantar com amigos. Amigos do Rio.

Tudo está calmo. Continuo a ouvir o trânsito que não pára nem à noite e lamento que a mesma noite caia tão cedo - perto das seis horas. Mas é Inverno por aqui, e já não me posso queixar dos 33 graus que o termómetro marcou esta tarde.

A vida está boa.

África

O Agualusa voltou. Melhor do que nunca. Com sons, cheiros, sabores, cores de África. Uma África que [ainda] desconheço*. Mas que me está no sangue. Em ‘as mulheres do meu pai’ Agualusa vai à minha cidade.

“Passámos o dia de ontem a visitar os “pontos turísticos” e algumas possíveis locações oara o filme: o Grande Hotel da Huíla , o Cristo-Rei, a serpenteante estrada da serra da Leba, a fenda da Tundavala” [Pag.81]

Também fala da maior piscina do mundo. Da Chibia. E de Moçâmbedes. Fala de um país que me chegou pela voz dos meus pais. De um mundo que sinto como meu e que não encontrava desde a 'Estação das chuvas'. Os meus pais falam-me de Sá da Bandeira, uma cidade rebaptizada com a independência de Angola. Hoje chama-se Lubango. Terra com nome de maleita muscular, mas que a mim, como tantas em África, sugere enigmas e caminhos por percorrer.

[*à excepção de Maputo]

A expressão física da angústia

Hoje tive um dos piores ataques de angústia de que me lembro. Normalmente vem na forma de um vazio que é preciso preencher. Desta vez, optei por engolir uma fatia de tarte de amêndoa num minuto. Como nunca antes, experimentei as consequências: estômago inchado e uma tremenda dor de cabeça. O arrependimento agravou a coisa. Telefonei ao meu marido: "Estou cheia de angústia". Respondeu-me: «Não estejas. És linda». E como por artes mágicas, simplesmente, o buraco evaporou-se. Por agora, porque sei que há-de voltar. Quando acontecer, vou ter mais razões para o combater. A existência de quem me disse aquela simples e revolucionária frase é uma delas.

segunda-feira, junho 11, 2007

Rio de Janeiro I

Estávamos no 'Vinicius' a almoçar quando entrou, a correr, um casal de namorados. Vinham a fugir de um bandido que estava a apontar uma arma à cabeça de um turista. Eles viram e olharam para ele. O ladrão viu-os e decidiu vir atrás deles...

É assim o Rio. E confesso que fico um bocadinho amedrontada. Mas o espírito da cidade retira-me o medo no minuto seguinte. E lá ando eu mais à vontade, ainda que com pruridos a tirar uma ou outra fotografia.

À tarde formos à feira hippie que se realiza todos os domingos, aqui em Ipanema. Dá para ir a pé. Ainda comprei umas bujigangas e t-shirts para os meus sobrinhos. Não dá para dizer não...

Só mais uma coisa, por hoje... ainda no 'Vinicius', junto à janela, uma cena surreal: dois tipos aproveitam o trânsito parado no cruzamento para um espectáculo, no mínimo, arriscado. Um deles segura numa barra cheia de facas espetadas, com os gumes para cima. O outro faz mortais e prepara-se para saltar por cima do primeiro e da barra com as facas. Toma balanço, lá do fundo, entre os carros parados, e dá um mortal que me faz parar de respirar... salta então por cima das facas. Corpo bem contorcido, costas em arco. Perfeito. Da nossa parte teve direito a dois reais. Transpirava por todos os poros... E eu agradeci a Deus por não ter acontecido nada ao rapaz.

O trânsito voltou a fluir.

domingo, junho 03, 2007

92 anos

A minha avó tem 92 anos.

Passou o fim-de-semana em minha casa e contou-me as mesmas coisas três vezes, no espaço de 5 minutos. Levantou-se 15 vezes durante a noite e acordou-me outras tantas. Queixou-se de várias doenças e repetiu os queixumes até à exaustão.

Mas eu adora-a.

A minha avó tem mesmo ar de velhinha, cabelo branquinho e fatiota negra.

A minha avó tem 92 anos e eu gostava que ela chegasse aos 100, pelo menos. Sem sofrimento.

Haverá coisa melhor do que ter uma avó ao lado? É que sabe mesmo bem ter os miminhos dela. E ainda que se esqueça de tudo, nunca se esquece de mim.

Mais Riade





Também tenho andado por aí...


Pela Arábia Saudita, mais propriamente Riade.