Cartas de Amor
Começam sempre com palavras doces e são-me dirigidas. Guardo-as numa gaveta com cheiro a jasmim. Deixo que o tempo passe para que as palavras fiquem. São cartas de amor...
Quem as não tem?
As mais antigas têm anos e a letra ainda por formar diz-me que quem as escreveu ainda não tinha definido a caligrafia. Não têm rasuras mas escritas a azul parecem ter, nas palavras, um profundo sentimento de saudade, de alegria, de carinho. Vêm em papel pautado, tamanho A4, folhas arrancadas de um caderno escolar. Dias interrompidos para escrever. Talvez entre duas aulas, talvez enquanto fala o professor mais chato. E dão a volta para o outro lado da folha, terminam quase na última linha como se muito mais houvesse para dizer.
Outras há escritas mais tarde, pela mesma pessoa. As mesmas folhas A4 mas agora com o logotipo da empresa. Tarde com intervalo para escrever tantas linhas que me caíram no coração. E me fizeram sorrir. São promessas, perguntas, são desejos, vontades. Cartas de Amor escritas de forma apaixonada e verdadeira. Porque ninguém escreve sem sentir o que está a fazer.
E as mais recentes têm novo remetente. Adulto, pausado, consciente. São cartas de Amor sem a paixão de outros tempos, sem o gozo da juventude quase infantil. Mas trazem a responsabilidade e o carinho de quem cresce a gostar do outro. São poemas e linhas certas, escritas com a alma, com a mão segura, sem hesitações. Fico a pensar que gosto de lê-las, a todas, de recordá-las, de saboreá-las.
São tão poucas as cartas de amor dos nossos dias. O sms e o messenger vieram substituir essa caligrafia apurada, cuidada, letra a letra para fazer sentido num pedaço de papel dobrado em quatro. Sem precisar de envelope... Como podem as gerações de agora não ter uma carta de amor? Como guardam memórias e recordações? Deixam as mensagens escritas por alguns dias, mas logo a máquina pede mais espaço e são apagadas as palavras de amor. E vêm com abreviaturas, obrigam a adivinhar, perde-se tempo na procura da palavra, perdendo-se-lhe o sentido.
As Cartas de Amor não devem morrer. Um destes dias vou escrever uma. Para que fique para sempre.
3 comentários:
Bela surpresa, a Samantha!!!
Eu tenho várias... de tempos que já lá vão!
No meio das mudanças encontrei muitas. Algumas enviadas de além mar que me trouxeram boas e más memórias. outras escritas nos bancos da escola. ainda pensei em 'deixá-las' aqui. Talvez o faço quando tiver paciência de as passar pelo scanner.
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