terça-feira, junho 13, 2006

Paixão

Gostava de a ter sempre nos pés. Rebolava com ela nos campos onde viviam e juntos, inseparáveis, corriam pelos mais estranhos caminhos, os mais diferentes pisos, as mais diversas curvas e contracurvas. Sempre sós. Não precisavam de mais ninguém.

Ele era pequeno e tinha aprendido a respeitá-la, a driblá-la para que ela só fizesse o que ele queria, a fazê-la pular quando havia motivos de alegria, saltitar quando se sentia uma criança. Ele tratava-a como um ícone, uma peça única e insubstituível. E ela gostava. Era uma verdadeira paixão.

Ela, a bola do menino, sentia-se amada como poucos outros objectos, e até mesmo pessoas. Era a bola preferida, o brinquedo único, a companheira.

Em tempos de futebol, na tv, o menino pregava os olhos com ela ao lado. Gostava de ver o que faziam as outras, mas sabia que era a sua a melhor. Às vezes até desejava tocar nelas, nas belas bolas que percorriam outros campos, outros pés, mas recolhia-se sempre na sua, na mais perfeita bola do mundo.

Em tempos de futebol na tv, o menino imitava com ela o que via outros fazerem. No intervalo copmbinavam a táctica e, no fim, passados os 90 minutos, lá iam eles preparar terreno, montar baliza e fazer de conta que o jogo era grande, suplicado pelos fãs, gritado pelos adeptos.

Ele chutava com jeito para não magoá-la, fazia remates de longe mas sempre escolhendo o melhor sítio para lhe acertar. Marcavam golos atrás de golos, os dois. Era uma bola feliz. Para um menino que só tinha aquela. A sua paixão única.

1 comentário:

Leão da Lezíria disse...

Belo post. É sobre o Ronaldinho Gaúcho, não é?...