Voltar a escrever
Vou deixar-me de lirismos. Render-me a evidência que nunca produzirei grandes obras literárias. Quando é que começas a escrever um livro. Eu ajudo. Escrevo-te o prefácio. Vou falar sobre as coisas mais comezinhas. A greve do metro que me rendeu mais uma hora de sono. Vou voltar a escrever sobre os cheiros de Verão. O aroma das sardinhas assadas que daqui a nada entrará pela janela do segundo andar. Afinal quando comemos sardinhas sem espinhas?. Escrever sobre a travessa que vejo do outro lado do vidro. Sobre a rua onde, de tempos a tempos, se ouvem gritos. Em que se trocam mimos e alguns sopapos. Insulta-se a família do outro até à quinta geração. Da janela espreitamos a casa dos vizinhos. Não pedimos chávenas de açúcar, nem raminhos de salsa, mas desvendam-se as tatuagens do vizinho que, saído do banho, cabelo molhado, boxers justos, insiste em apanhar a roupa estendida sempre em trajes menores. Escrever sobre as ausências e as presenças. Entendes se te disser que ao fim de três dias passados a teu lado sinto a tua falta? Escrever sobre o teu cheiro, que não estando aqui, me começa a perseguir nas ruas do Chiado.
1 comentário:
(já mudei o linqui do dormitório)
Escreve sim, sobre tudo isso, sobre o cheiro que às vezes nos persegue, e é tão bom que as marcas são guardadas em silêncio de toques.
:)
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