domingo, novembro 05, 2006

Carlos do Carmo

Acabei de chegar do Auditório dos Oceanos onde assisti, a convite do Rei, ao concerto de Carlos do Carmo com a Sinfonietta de Lisboa. Exemplar. É o que posso dizer: exemplar!

Este homem de mais de 60 anos e cabelo todo branco mantém uma voz firme e terna, um ar simpático, palavras doces e, melhor do que tudo o resto, uma capacidade e um gosto enorme por cantar bem. Venho entusiamada e até admirada. Há muito que não ouvia fado, e há muito mais tempo que não ouvia o Carlos do Carmo. Ele cantou os temas de sempre, A Canoa e A Lisboa Menina e Moça... mas também outros, de autores que desconhecia; e temas novos, de uma novo disco que está para chegar com poemas de autores tão estranhos (ao fado) como Nuno Júdice ou Fernando Pinto do Amaral... Palavras lindas saídas em verso de uma voz límpida e com a noção perfeita dos tempos, da métrica, das pausas, das palavras como devem ser ditas e cantadas no fado.

Mas houve mais quem me impressionasse. O Ricardo Rocha. Eu conhecia o disco do Ricardo Rocha, que toca guitarra portuguesa, e achava que ele era bom. Enganei-me: ele é muito bom. Uma espécie de querubim de Carlos do Carmo, o homem não precisa de mais nada para que se faça o espectáculo. As mãos dele sepenteiam a guitarra e tiram dela os sons mais afinados que ouvi nos últimos tempos. A guitarra realmente chora, mas será de emoção, nas mãos de Ricardo. E depois, a atitude. Sereno, não se ri com as piadas do cantor, que até se mete com ele por causa disso, e mantém uma postura profissional, quase infantil, como se ficasse zangado sempre que os seus acordes não são necessários numa ou noutra parte da música. É um virtuoso: o único que tocou todas as músicas de cor, e ainda improvisou para torná-las mais brilhantes.

Voltarei a ouvir Carlos do Carmo mal saia o novo disco. Fiquei com vontade de adormecer com aquela voz a entoar poesia nos meus ouvidos, a falar de amor e de saudade, de Lisboa e do Tejo, em palavras que encaixam e não se banalizam, mesmo que repetidas vezes sem conta. E o fado também se faz de repetições.

Por mim, este concerto podia ser amanhã outra vez!

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