Cedo demais
Acordo às sete da manhã de um domingo porque os sonhos não me deixam o sono. É como se muitas criamças se abeirassem da minha cama prontas a ver os desenhos-animados. Volto-me para um lado e para o outro e digo-lhes o que fazer com o comando da televisão mas, mal fecho os olhos, uma delas vem pedir-me que lhe esclareça uma dúvida. Assim são os meus sonhos: repetem as histórias e pegam no ponto em que estavam quando os abro e fecho outra vez. E ainda têm a desvantagem de não ter a voz doce e ternurenta das crianças que conheço.
Decido-me pelos cereais e saio da cama. Espalho bem o iogurte e misturo aquele creme branco com os All Bran que a mãe me deu. Sabe-me bem começar assim o dia, mas os olhos continuam a fechar-se, e só não me deito porque temo aquele sonho em que a minha sobrinha vai sozinha à farmácia e lhe acontecem alguns percalços, de tal maneira que tenho de ir atrás dela, para protegê-la e garantir que nada lhe acontece. Nos meus sonhos há bonecos que falam, animais que se transformam noutros, teclados que apitam, discos voadores que caem do céu, nas minhas mãos... há de tudo o que é mais inverosímel e sem graça.
Escrevo este post para desabafar. Embrulhada a uma manta porque dormi nua. Sozinha, mas despida porque o corpo pode querer respirar no seu todo. Vem-me à cabeça o pesadelo em que um dos meus colegas de trabalho perde um olho. Terrível. Sai de lá um líquido viscoso e, em segundos, volta a ter olhos castanhos e a chamar-me pelo nome. Nunca tinha sonhado com ele - que me lembre - mas esta noite andou por ali, a rondar-me, as horas que pôde.
Estou cansada. Depois deste post vou fazer uma nova tentativa. É domingo de manhã e não se ouve uma mosca. Os miúdos podem ver os desenhos animados, se quiserem. Estão em quase todos os canais. Mas hoje não vieram e acordam em casa dos pais. Provavelmente há muito que o fizeram.
Agora sonho com um sonho que gosto de ter. Um de que não me lembro pela manhã mas sei que me deixa serena.
É que ao domingo gosto de me levantar mais tarde.
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