domingo, novembro 12, 2006

Está uma bela tarde para um lanche no jardim...

Vejo daqui a relva plantada em escalracho, pronta a crescer e a multiplicar-se, até cobrir o rectângulo que tenho lá fora e que foi, até há poucos dias, a minha vergonha, o meu desespero, um dos sinais da minha intranquilidade e desorganização. Hoje sinto-me bem a olhar para as buganvílias plantadas nos canteiros laterais, e com cores alternadas de rosa e branco para crescerem misturadas e darem flor de duas tonalidades.

A partir de agora esta casa será diferente. Há mais vida para além da minha. É preciso cuidar dela como preciso de cuidar de mim - para começar vou arranjar as mãos amanhã de manhã, e pintar as unhas de carmim. Arrojado. - Vivi dois anos de horror a olhar pela janela e a ver um jardim que parecia a selva, no Inverno; os campos tunisinos, no Verão. Um espaço sem beleza, onde a vida das plantas se misturava com a morte; as secas consumiam as mais resistentes, e as ervas não deixavam brotar as flores. Era um jardim ignorado, mal-tratado, incontrolável porque nunca mexido.

Pensei muito e vi que não era capaz. Como na vida, nos jardins também precisamos de ajuda para crescer, para mudar, para apagar a imagem do passado e construir uma nova, de raiz, apenas com a mesma terra enquanto base. Este jardim representa-me. Sou também uma pessoa a florescer, aos poucos, com umas pinceladas aqui e ali de cor. A terra que me sustenta, a minha personalidade, não mudou, mas mudam agora as formas de estar, de sentir, de viver, de avançar.

Vou olhar todos os dias para o meu novo jardim e pensar nisto. Vamos crescer juntos. E trataremos um do outro, para que nenhum esmoreça e perca as folhas viçosas.

É que todos os dias podem ter uma bela tarde para um lanche no jardim...

2 comentários:

LurdesMartins disse...

Votos de um crescimento conjunto saudável!

Anónimo disse...

Agora, sim, gosto mais de ler-te... Beijo da Manuela.