Dinheiro para gastos
Estou farta de viver à conta do mês seguinte. Farta de dever dinheiro a toda a minha família, farta de não ter dinheiro para comer o que me apetece, para vestir o que me dá na gana, para comprar o que gosto de ver nas montras, para decorar a minha casa de outra maneira, para pagar as dívidas fixas ao fim do mês. Estou farta que o dinheiro não me sobre. Estou farta que o meu ordenado não seja suficiente para uma vida regrada, serena, equilibrada, como a das pessoas normais, as pessoas que ganham menos do que eu e ainda têm filhos e outros gastos que eu não tenho. Estou farta de ser desorganizada, de não mandar para o banco todos os papéis que me pedem. A tempo. Farta de contar com o subsídio de Natal esquecendo-me que parte vai ser gasto em presentes, farta de não comprar os presentes que as pessoas merecem, farta que o dinheiro que tenho não chegue para aquilo que quero.
Pago a casa, e a água, e a luz, e o gás, e o ginásio, e a mulher-a-dias (só três horas por semana), e a lavandaria, e as portagens, e o gasóleo, e a TV cabo, e a Internet. Pago ainda o seguro do carro, o condomínio, as refeições de todos os dias. Não pago o supermercado que a minha mãe me oferece. Não pago o carro que os meus pais me deram há cinco anos; não compro roupa mas às vezes recebo-a de presente. Pago os médicos, os medicamentos, os estacionamentos, e às vezes corto o cabelo e arranjo mas mãos. Às vezes. Não pago discos, nem livros, nem dvds porque mos oferecem todos os dias no trabalho, não pago livros infantis para os meus sobrinhos lerem quando cá vêm a casa, e pago presentes de aniversário todos os meses. Também sou convidada para casamentos, e para baptizados, e para festas, para simples jantares onde não gosto de ir de mãos a abanar.
O dinheiro voa e não sobra para os gastos. O dinheiro está mais caro e a carteira fica sempre vazia, o multibanco queixa-se todos os meses, a conta-ordenado vai acabar e não quero usar o American Express. Mas já o usei. Porque as dívidas amontoam-se, porque todos os dias avaria uma coisa nova - o congelador, por exemplo, cujo arranjo me custou 90 euros - e todos os dias tenho de tomar o pequeno-almoço, e tenho de beber os meus galões, e não almoço porque também não tenho fome, e janto fora quando me convidam e pagam o jantar.
Esta é uma vida miserável que pode ser a minha, ou a de tantos outros. Vivemos acima das nossas possibilidades, não temos extras para o que der e vier, não somos organizados nas nossas contas mensais. Não temos dinheiro e somos pobres por isso. Não os pobres verdadeiramente pobres que, de facto, não têm dinheiro, mas os pobres que não sabem usá-lo, guardá-lo, mantê-lo. Somos os pobres dos tempos modernos.
5 comentários:
Ok, ok...
(o dourado ou o prateado?)
cash, de preferência...
O ACM pode vir a pensar que te 'encomendei' este post.
My god!!!!
Isso é a minha vidinha, sem tirar nem pôr...
Estou assustada!!!!!
Argggggggggggggg!!!!!!!!!!!!!!
... mas pelo menos, os blogs não se pagam!!!!!
Beijos e desejo que haja um acontecimento mágico universal que triplique as contas bancárias das pessoas como nós... hmmm.....
Revi-me absolutamente no post, com a agravante de que eu não pago casa...
LS
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