quinta-feira, novembro 02, 2006

Irmão mais velho

Sempre tiveste uma grande lata e isso fez de ti, muitas vezes, o preferido de todos. Até certa altura tiveste boas notas e, até hoje, consegues ser dos mais espertos e inteligentes que conheço. Sempre informado, tens sempre uma opinião e uma palavra a dizer. E não és daqueles que dão seca. Às vezes tornas-te arrogante, é certo, mas as tuas qualidades estão acima de qualquer crítica.

Lembras-te dos tempos em que me prendias os braços e me imobilizavas o corpo para fingir que cuspias na minha cara? E eu virava-me de um lado para o outro a fugir à saliva que gostavas de exibir, para mostrar a tua superioridade em relação a mim. Esses tempos já lá vão. Hoje - tenho a certeza - se visses alguém fazer tal coisa corrias em minha protecção. Habituaste-te a proteger-me.

Quando eu mais precisaei e até agora. Os teus telefonemas caíram-me sempre como salvação, em momentos que prefiro nem recordar. Eras, do outro lado da linha, o meu fio condutor, o meu conselheiro, o meu ouvinte, aquele que me abria os olhos mas não me criticava, aquele que me entendia, aquele que me serenava.

Recordas-te da noite em que te bati à porta às 4h da manhã? Deixaste-me entrar e chorar, chorar, chorar. Percebeste logo o que se passava e não quiseste interromper o meu desabafo para pedir pormenores. Se eu tos desse - como dei, depois - melhor, senão, ali estaria o teu ombro, na mesma, a tua paciência, o teu sono levado pelo meu pranto.

E a noite do cinema? O filme que quis evitar uma experiência mais dolorosa. Estiveste comigo naquela sala de um cinema que não recordo, era um filme com um actor tão conhecido que me esqueci do nome dele. Foi um filme que vi para não pensar 'naquele' assunto, para chegar a casa e estar já tudo tratado, como aconteceu. Foste comigo até lá. Entraste para perceber que reacção teria. Foi muito má e presenciaste-a. Não tinha e não tenho vergonha de exprimir tudo o que sinto, ao pé de ti. Quiseste levar-me, ficar comigo, estar presente. E estiveste, mesmo sem estar lá.

És o mais velho. Ultimamente já não precisas tanto de me apoiar, de me telefonar, de me sondar. Mas estás sempre atento, Sei que estás. E isso tranquiliza-me. O teu número é dos poucos que sei de cor. E do outro lado, atendes-me sempre. E nunca disseste que não tinhas tempo.

Obrigada por tudo.
É bom ter um irmão mais velho como tu.

2 comentários:

Leão da Lezíria disse...

Jack Nicholson. About Schmidt. Adoro-te.

Lipa disse...

É linda a relação assim...
Se formos a ver os irmãos são dos poucos que temos nesta vida...é aproveitá-los e amá-los como ninguém...