sábado, novembro 25, 2006

Sábado

Rebolei na cama até perto das seis da tarde. Tinha-me deitado cedo e não havia razão para ficar tanto tempo a dormir, tanto tempo a sonhar, tanto tempo a ruminar os sonhos acelerados que me faziam abrir os olhos de 10 em 10 minutos. Aparentemente não havia razão.

Acordei de vez com o telefone. Era a minha mãe que queria saber como eu estava. Não lhe soube responder. Talvez por ainda estar deitada, imaginando-me a dormir, talvez porque o meu sentido de presença própria ainda não estivesse activado, talvez por não saber de que maneira me encontro.

Saí para um galão e uma fatia de bolo cheio de creme. Não queria fazê-lo porque a balança diz-me que engordei 5 quilos, mas o estômago, a gula, falaram mais alto e acompanhei o doce com um pão de cereais e manteiga. Não almocei. Não janto. Além desta refeição o meu dia teve, em jeito de pequeno-almoço, uma taça de cereais com iogurte. O estômago encolhe e alarga à medida que os dias passam: às vezes pede-me tudo o que não devo comer, outras afasta-me de tudo o que devo comer. Em suma, alimento-me mal e engordo. Não sei o que é uma refeição de peixe, não como frutas nem legumes e só como sopa porque no refeitório as restantes ofertas são repugnantes. Excepto à quarta-feira, quando há cozido à portuguesa. Nesses dias sento-me à mesa como as pessoas crescidas.

Há um vazio na minha cabeça de sonhos não programados, quase sempre indesejados, quase sempre cheios de tormentos, de passados mal resolvidos, de agruras e de torturas. São sonhos que não quero ter mas que vêm e regressam à medida que expulso a primeira parte. São como uma série que não pára de dar episósios e que, no início de cada um, me diz, 'no episdódio anterior foi assim...'. E continuam a magoar-me a não me deixar dormir. Tiram-me o descanso da noite e obrigam-me a dias difíceis.

Acordo e saio da cama para não sonhar. Não sorrio o resto do dia. Quando acordo já anoitece e não pude ver o sol. Porque hoje não consta que tenha chovido. E a lua já lá está quando saio à rua e tudo o que desejo é que avancem as horas para voltar para a cama, esconder-me debaixo do edredão e imaginar o melhor para os meus sonhos.

Oiço os U2. Cantam Vertigo. É como estou: numa vertigem da vida e não sei se conseguirei o equilíbrio.

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