A Fábula - 2
Estava lua cheia e a toca também. Numa mesa da esplanada a coelhinha sorvia vagarosamente um sumo de cenoura sem alcóol. Bebia pela palhinha colorida que lhe tinham dado ao balcão. Estava maquilhada, mas discreta: um rímel negro a realçar-lhe as pestanas e, no pêlo do rosto branquinho, um blush rosado que lhe ficava bem. Estava com duas amigas, uma girafa simpática e uma lontra sorridente. Ela também sorria. Na mesa ao lado estva o panda gigante com o grupo do costume. Bebia um whisky com três pedras de gelo e batia a pata ao som da música, um hip hop que nem sequer admirava e do qual desconhecia o autor. Mas estava na moda. Não tirava os olhos dela e um dos do grupo reparou. Não lhe disse nada mas contava fazer uma ou duas perguntas no dia seguinte, quando estivessem a sós. Ela estva sossegada, nessa noite, com o corpo respirado e o pêlo sequinho apesar do calor da noite. Era Verão. Já tinham sido apresentados mas estavam ainda no limiar da vergonha quando os seus olhos voltaram a cruzar-se. Ela sorriu envergonhada e ele levantou-se. Tremeu. Foi encostar-se à cadeira da girafa para dar as boas-noites e comentar a música. A lontra começou a falar mas não era com ela que queria conversa. O sumo de cenoura chegou ao fim. Uma pedra de gelo ficou a derreter no copo de plástico.
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