segunda-feira, maio 01, 2006

Laramie

Acho que todos concordamos que os Estados Unidos são tão diferentes entre si e tão diferentes do que vemos - do que nos é dado a ver - nos filmes que, dizermos que são Unidos, é apenas uma tradição.

Ontem fui ver uma peça de teatro que demonstra isso mesmo. 'Laramie' é uma encenação de Diogo Infante - que não chegou a mostrar-se, uma pena! - no Teatro Maria Matos, em Lisboa.

Laramie é o nome de uma terra no Estado do Wyoming. Foi lá que um acontecimento real deu origem a esta peça. Um rapaz de pouco mais de 20 anos foi raptado, torturado e espancado, acusado de ser... homossexual. A coisa está muito bem contada, com pormenores até arrepiantes, sem nunca ser sensacionalista.

No palco estão 8 ou 9 actores - eles desdobram-se em várias personagens - que representam o bom e o mau da fita, a vítima e o culpado, o médico e a polícia; todos os que, depois de um crime, foram chamados a actuar e todos os que - como sempre que há um crime - aparecem sem ninguém os ter chamado. Era uma localidade pequena, Laramie. Todos se conheciam...

Além do maravilhoso jogo de luzes e da óptima interpretração de todos - e todos mesmo - os actores, houve duas coisas em Laramie que me fizeram pensar:

- O tema, em si. Eu, que tenho amigos - e bons amigos - homossexuais, que não tenho quaisquer tipo de comportamentos contra a opção sexual de cada um, eu que até converso com eles sobre o assunto, o último namorado, a última ida ao Trumps, etc... seria eu capaz de aceitar um filho\filha homossexual, um dia em minha casa? Esta é uma das questões que se põe no palco. A um público portuguguês: É que nós, portugueses, temos esta mania de ser o povo pacato que acha que todos são iguais, e que não se importa com as difrenças dos demais, usa autocolantes e pins, aceita-as - diz à boca cheia - mas, na hora da verdade...

- a segunda coisa que me surpreeendeu foi o público naquela tarde de domingo, 17 horas, para ser mais precisa. Talvez eu e a minha amiga R. fossemos as mais novas naquela sala. E eu há muito passei dos 30!!! Eram os maiores de 60 que ali estavam! Que falavam de outras idas ao teatro como quem nada mais faz na vida senão cultivar-se, que usam os seus melhores fatos para ir à salas, pois se estamos ali tão perto da Av. de Roma... e o teatro é uma arte maior! Eram eles que ali estavam a ouvir, dos actores, expressões como paneleiros, e putas e caralho. Sem pestanejar.

Foram eles os primeiros a pôr-se de pé para aplaudir uma peça muito bem feita.

Preconceitos?
Só os meus!

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