Nem por um minuto
Aproximou-se de mim no Inverno. Estávamos a chegar à época do Natal e achei que seria por causa disso... da azáfama que percorre esta quadra. Aliás, creio que a palavra 'azáfama' só se usa mesmo neste período. Não me lembro de ouvir ninguém dizer 'Ando na azáfama da Páscoa', ou até mesmo 'na azáfama do Dia de Corpo de Deus'...
Apanhou-me então nesta azáfama que eu acreditava não estar ainda instalada em mim. Por isso o estranhei.
À medida que os dias avançaram parecia não querer sair do pé de mim. Acordava ao meu lado, deitava-se comigo, perseguia-me durante o trabalho e, até mesmo aos fins-de-semana, lá andava ele, a rondar-me, como quem tem uma presa certa e sabe que não vai largá-la.
Tinha razão. Apanhou-de de vez não sei bem em que dia de Dezembro. Creio que se terá agarrado de noite e, quando acordei, lá estava, vitorioso, orgulhoso, contente por poder acompanhar-me, agora, sem me largar nem por um minuto.
Aceitei-o como pude. Não estava com forças para o despachar à primeira e ali andámos, juntos, até Janeiro, Fevereiro. Atravessámos Março e vimos juntos a Primavera florir. Creio que ele viu mais do que eu. Os meus olhos, já nessa altura se fechavam mais.
Em Abril decidi pô-lo a andar. Refilei, que 'isto não era assim, chegar e abancar', que eu também tinha 'uma palavra a dizer', por aí adiante. Afastou-se ligeiramente, parece-me que até ofendido, mas não deixou de estar à coca.
Em Maio continuamos juntos e ele volta a abraçar-me como nunca.
Este cansaço mata-me. E não sei quando me verei livre dele. Em definitivo.
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