sábado, maio 27, 2006

Talvez

Numa ocasião ouvi um cliente habitual comentar na livraria do meu pai que poucas coisas marcam tanto um leitor como o primeiro livro que realmente abre caminho até ao seu coração. Aquelas primeiras imagens, e eco dessas palavras que julgamos ter deixado para trás, acompanham-nos toda a vida e esculpem um palácio na nossa memória ao qual, mais tarde ou mais cedo - não importa quantos livros leiamos, quantos mundos descobramos, tudo quanto aprendamos ou esqueçamos -, vamos regressar. Para mim, aquelas páginas enfeitiçadas serão sempre as que encontrei entre os corredores do Cemitério dos Livros Esquecidos.

Bea diz que a arte de ler está a morrer muito lentamente, que é um ritual íntimo, que um livro é um espelho e que só podemos encontrar nele o que já temos dentro, que ao ler aplicamos a mente e a alma, e que estes são bens cada vez mais escassos.


A Sombra do Vento, Carlos Ruiz Zafón

Talvez seja possível gostar de um homem que não lê os mesmos livros. [Mesmo que esse homem não queira conhecer a história de Julian Caráx. Não se apaixone pela Bea. Não se curve perante o amor do Daniel. Não derrame uma lágrima quando chegar ao fim da história, porque nunca chegará à última página]. Talvez se baixar a guarda e deixar a vida entrar, por todos os sentidos, o amor possa acontecer de outra forma.

2 comentários:

Aprimazana disse...

Carrie, não sei se já te tinha dito, mas A Sombra do Vento foi o melhor livro que eu li este ano. Não é nada complicado, abrange quase todos os géneros literários, prende do princípio ao fim e tem personagens apaixonantes.Fiquei fã do Ruiz Zafon.

Chatterbox disse...

Honestamente acho possível amar um homem que não LÊ os mesmos livros que eu.

O factor de exclusão reside na minha necessidade de ter a certeza que ambos estamos a ESCREVER a mesma história!