Silêncio
Dois sete um dois zero zero quatro oito sete. Antes, quando ainda não existiam telemóveis, e os algarismos eram gravados a tinta em folhas de papel, sabia tudo o que era números de telefone. Dava menos trabalho do que procurar a agenda, procurar o nome, procurar o número. Agora contam-se pelos dedos das mãos os que têm o privilégio de me ficar gravados na memória. Há aqueles, como o da Charlotte, que sei por o mesmo há anos, os outros, como o da Miranda, que são fáceis de decorar pela repetição, e os que, como o da Samantha, ficam por serem marcados e remarcados no telefone do pasquim. Há ainda aquele[s] que decorei sem saber porque, sem saber sequer que tinha decorado. Que apaguei da memória do telefone, mas que insistiu em ficar colado na caixinha verde alface. E depois há o dois sete um dois zero zero quatro oito sete que memorizei por necessidade. Marcado até à exaustão desde ontem à tarde. Remarcado sem que do outro lado venham notícias. Boas ou más. Apenas um toque persistente. O silêncio.
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