sábado, maio 13, 2006

O Café da minha rua

O café da minha rua fica no alto de um monte, virado a nascente, também a poente, estando sempre quente e iluminado. Tudo à volta é relvado e bonito e as árvores e flores estão cuidadas. O café da minha rua fica a uns míseros 100 metros da minha porta e permite-me, agora, passar por lá todas as manhãs para um Pequeno-Almoço que me modifica o dia.

Mas ao sábado - apesar de vender o 'Expresso' - o café da minha rua tranforma-se e sinto-me noutra rua qualquer. Entram e saem os meninos e meninas, roupas de marcas que variam entre a 'Timberland' e a 'Lacoste', cores garridas nas mães, óculos escuros nos pais, ar de fim-de-semana na família aparentemente feliz.

Ao sábado as famílias juntam-se, no café da minha rua. São novas famílias, alguns novos-ricos que ainda não sabem sê-lo e acreditam que as letras garrafais de 'Sacoor' nas costas são mais que pura propaganda a um homem, uma marca da moda que se fez mostrar assim mesmo... no corpo dos outros, exibindo o logotipo.

Ainda hoje reparei numa família: ela, a mãe, vinha atrás de um pai já barrigudinho, mas de marca, com três crianças lindas; eles vestidos de igual, dois, ela, de rosa e branco acabada de sair do banho. Dois foram brincar com os cães que também acompanhava a família, de raça, claro, e que também fazem necessidades, claro. Na relva aparada do café da minha rua...

Ela era uma mulher ainda bonita, rabo bem desenhado, peito saliente e um decote generoso numa roupa discreta, que é como quem diz, sem marcas à vista. Ela é que fez o pedido. Dois galões escuros. Não ouvi o 'por favor'. Os miúdos ficaram lá fora e ela não olhou mais para eles. Um deles, mais tímido, veio agarrrar-se ao pai vestido de azul-bebé, pólo de fim-de-semana, calças de ganga e sapatos de vela. Ele beijou-o carinhosamente mas pouco olhou para ela, para a mãe. Rondavam os 40, ainda curtos, acabados de chegar a ambos. Os filhos teriam, no máximo, 10 anos.

E eu fiquei a pensar se queria ter um família assim... Colorida, com marca, com crianças bonitas, com dinheiro à vista, com um ar pouco feliz.

Certo é que segunda-feira volto ao café da minha rua para o meu galão claro. Eles vão todos trabalhar cedo e as crianças têm de estar antes das 8h na escola.

1 comentário:

Anónimo disse...

novo-riquismo e "wannabes" são coisas q detesto. Não te invejo a beleza da rua e muito menos a vizinhança.