Insónia II
Seis e meia da manhã. O despertador só vai tocar daqui a uma hora mas já não consigo dormir. Já comi um pêssego e uma fatia de melancia, já voltei para a cama, já fui à casa de banho, já fiz tudo para voltar a dormir. Não consigo. Estou num estado de nervos tal, que não consigo.
Às 10 e meia estarei a embarcar para Londres com um repórter de imagem, para uma entrevista ao Nigel Kennedy. Eu, inculta, não sabia quem era o Nigel Kennedy e agora sei tudo sobre ele. Vou entrevistá-lo a casa, em Londres, a ele, ao virtuoso do violino, ao homem que faz de Vivaldi uma brincadeira de meninos, ao homem que deixa plateias de rastos de tanto saltar e pular... e estamos a falar de música clássica.
Kennedy tem agora um novo disco, com o selo da blue note, o que quer dizer que entrou no mundo do jazz. É um sonho antigo dele, uma espécie de libertação de criança, tocar jazz com o violino. Eu já ouvi o disco e é delicioso, com todos os acordes em sintonia, com o instrumento sábio a fazer os contornos da música, com a batida que lhe é conhecida a fazer levantar o pé.
Mas eu estou aterrada de medo por ir entrevistá-lo. Eu até já fiz entrevistas a tipos conhecidos como o Moby, ou o Malangatana, para falarmos em pesssoas diferentes, mas este Kennedy, que para além de violino gosta de futebol e é simpatizante do Aston Vila, está a deixar-me com os nervos em pé. Não sei se é por ser um prodígio naquilo que faz, se é por ser um inesperado, se é por ser uma mistura de tudo e uma figura que aprendi a respeitar em apenas três ou quatro dias. Nigel tem um estilo punk, mais de 50 anos (não sei exactamente quantos), e não usa laços nos concertos de música clássica. É um homem que destrói as barreiras e não segue a tradição. Como começar a entrevista? 'Hi Nigel, how old are you? because I tried to find everywhere...' Oh! You don't look so....' Isto resultaria numa mulher, mas ainda não sei como começar a entrevista com um tipo bem disposto a quem pouco importa perguntar 'o que tem a dizer sobre este último trabalho?', pois ele há-de arranjar maneira de mo dizer de forma original e sem pergunta directa...
Estou nervosa às seis da manhã. Perdi o sono.
Quando forem 10 vou estar cheia dele.
À hora da entrevista (17h) vou estar um caco.
E quando voltar a escrever neste blog o título será o caos....
A menos que tudo isto acalme e a entrevista seja um sucesso. O que também pode acontecer. Com os loucos e génios, tudo é possível...
3 comentários:
Good luck!
Good luck! Vai correr tudo muito bem!
E quanto à ansiedade, não te preocupes, fiquei com a tua enquanto li o post. Estás livre do stress!
Beijinhos!
Esta dos 50 anos, deixou-me de rastos. Lembro-me dele MUITO mais pitinho, de cabelo em pé, tipo vassoura... aos saltos com o seu violino.
Tinhas-me pedido que eu ia contigo. Sempre te dizia umas piaditas e descontraíamos!
Que inveja.
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