Elogio fúnebre*
Não é segredo para ninguém. Basta ler meia dúzia de prosas. Destas que aqui estão. Expostas aos olhares mais indiscretos. Penduradas ao sol como a roupa branca da aldeia. Uma verdade incontornável. Como a inconfidência dos meus olhos. Os meus maiores traidores. Dizem sempre o que sinto. O que penso. Choram de alegria. Mais facilmente do que de tristeza. Sou uma sentimental. É essa a verdade incontornável. E hoje voltei a senti-lo. Nunca pensei que fosse custar. Mas porra! São sete anos de vida. De convivência diária. De refúgio. De fuga. De encontro. De sorrisos. De lágrimas. De amanheceres. De solidão. De amizade. De descoberta. De calor. De percalços. De jornais amontoados. Tudo no espaço confinado de três portas. Foram milhares de quilómetros. Foi um vidro partido em Madrid. Um pneu furado na via do Infante às duas da manhã. Rallies pela serra. A partilha de momentos inesquecíveis. As idas a Santiago. As tardes em Sevilha. O frio na madrugada das Astúrias. Amanhã separo-me dele. Definitivamente. Há pouco, quando o ‘limpava’, senti um aperto no peito. Sei que o gajo está velho. Todo ‘partido’. Mas é meu. Foi meu desde o primeiro dia. E vai deixar saudades. O meu Clio.
[* Ou o fim do pesadelo sem ar condicionado.]
5 comentários:
Sete anos? 7 anos? Já?!
'inda me lembro quando estavas toda orgulhosa com o carro novinho... muito moderno, à altura.
(Olha, só me ocorre que os homens deviam ser tão confiáveis como o teu Clio)
Como te entendo.
Quando me despedi do meu Clio, fiel companheiro,por mais de seis anos, desde o meu primeiro dia de carta, senti que perdia uma parte de mim.
Num momento de ciúme incontrolável percebi que: se não era meu, não seria de mais ninguém. Entreguei-o para abate e chorei a sua morte.
Conheço alguém que quando ficou sem o seu primeiro (não vale sequer a pena descrever o estado avançado de velhice em que se encontrava o pobre Panda)... suplicou, quase de lágrima no olho à sua nova companheira: «Por favor, prometa-me que vai tratar bem dele».
É difícil deixar para trás um bom parceiro, mesmo quando está ruidosamente velho.
Boas viagens.
7 anos; o numero 7. Sempre. Tao importante nas relacoes; tao importante na cadencia das ondas; e tambem aqui tao impiortante no renovar do carro. Tera tudo a ver com renovacao? estamos formatados para renovar algures entre o sexto e o oitavo ano? Sera' o setimo o limite medio?
Chatter, espero que no tal "ruidosamente velho" nao te estejas a referir ao teu parceiro :). Porra, temos ja muita experiencia, mas ruidosamente velhos e' insulto... miuda!
E quando vamos estrear o novo???
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