domingo, setembro 17, 2006

Sal... mas que Festival!

Ainda voltarei a este blog com este assunto e com fotografias a certificar aquilo que agora escrevo. Para já ficam as palavras de emoções imediatas, de sentimentos de agora, de momentos há pouco vividos. Cabo Verde é surpreendente. Pela positiva!

É agora hora de almoço, por aqui, mas hoje acordei antes das sete da manhã. Objectivo: filmar o amanhecer no Festival de Santa Maria que terminou hoje, em grande festa. Pensei chegar lá e ver meia dúzia de resistentes a dançar, outros tantos deitados na areia, e a maioria já a curtir a ressaca. Enganei-me: às 8h da manhã, actuava uma banda de reggae e dançavam os cabo-verdianos em peso. E digo em peso porque, no Sal, estão muitos de Santiago, da Boavista, aqui em frente, de Santo Antão... Um cenário incrível, mesmo se tivermos em conta que mais de metade da população 'viva' estava ao sabor do alcool, da cerveja e do grogue. Uma surpresa vê-los a todos de braços no ar, passada uma noite sempre nesta posição, sempre com os ouvidos na luta da música, sempre com os pés a escorregar na areia, sempre com o líquido a escorrer pelas veias e, cá fora, pelo corpo, porque está quente em Santa Maria.

A sensação de estar no meio daquela alucinação é única. Única porque é um povo sem pressas, sem stress, como eles dizem, povo da morabeza... EStá tudo ali a curtir o momento de um domingo de manhã com a noite passada em claro. Praia cheia de garrafas, roupa perdida no chão, mulheres que deixaram que se passasse das marcas, homens que 'abusaram' dessas mulheres, casais que ali se fizeram, amores que se viram nascer... mas todos sorriem e têm um brilho nos olhos. Dizia o vocalista dos Alpha Blondy (a tal banda reggae): 'Cabo Verde pode acabar com pobreza se atingir a estabilidade política... e iremos todos para o céu porque Deus ama-nos'. A mensagem foi aplaudida. O cabo-verdiano acredita nesse Deus que é amor, e tem esperança nessa vida melhor.

Ontem, numa visita para filmar as salinas, dizia-me o taxista: 'eu não roubo. Já disse ao meu filho; um dia que não tenhamos nada para comer, abraçamo-nos e morremos juntos'. Não é de arrepiar?

E nós que somos tão racistas, aí em Lisboa.
É preciso vir aqui para saber o que é um cabo-verdiano, para lhes sentir o cheiro de um sorriso amável e de um aperto de mão.

3 comentários:

Catarina disse...

Eu só roubava para alimentar o meu filho.

Lindas imagens.

Aprimazana disse...

Samantha, a mim, que me toca pessoalmente, obrigada pela, linda, descrição da "minha" gente!

so manel disse...

porra...traumatizei-te assim tanto? afinal já nos conhecemos há bem mais de 20 anos!!!