quarta-feira, janeiro 31, 2007

A room with a view

[Pequim, Hotel Península]

terça-feira, janeiro 30, 2007

Cheguei

[para abrir o apetite...]

[ou não...]


[Básico. Muito básico. Não há tempo para mais. O despertador toca dentro de seis horas e há 36 que não deito a cabeça na almofada. Era só para dizer que cheguei.]

Regresso ao divã III

- Acordei e não voltei a dormir, Doutor. Era uma insónia.
- Tem a certeza?
- Ainda nem eram sete da manhã...
- E pensou em quê?
- Na minha vida, no que tenho de fazer a partir de agora.
- Então não era uma insónia...
- Não?
- É você que finalmente começa a acordar do passado. E o tempo para pensar no futuro já lhe parece curto.

domingo, janeiro 28, 2007

A neve, outra vez

Enquanto tomava o pequeno-almoço na pastelaria aqui do condomínio lia sossegadamente o Expresso. À minha volta havia burburinho e era eu a única pessoa sozinha na sala. Todos os outros estavam em pequenos grupo à conversa. Por isso só eu dei pelo escurecer do ambiente e levantei os olhos das páginas do Actual e da reportagem sobre Rossellini.

Nevava. Lá fora caíam grossos flocos de neve. Pelo segundo ano consecutivo nevava em Lisboa. Nevava em Belas, mais precisamente. Deixei o jornal para o lado e fiquei especada a olhar pela janela. Desde miúda que gosto de ver neve e, durante muitos anos, o meu sonho era ver nevar. Agora vivo num sítio onde o prazer me é dado a sentir pelo menos uma vez por ano. Faz amanhã um ano que o mesmo aconteceu e Lisboa vestiu-se de branco.

Hoje foi mais suave e nem os telhados chegaram a acumular os lindos flocos. Chegavam ao chão já em água.

Mas durante uns minutos eu voltei a ser criança. Sorri para dentro e telefonei a dizer que nevava. Recuperei um pouco dos meus sonhos de infância e só saí dali quando a chuva voltou e o meu rosto nem se molhava. Ainda levei o sorriso para casa.

Regresso ao divã II

Apertou as palmas da mão uma contra a outra.
- Não sei por onde começar, Doutor.
Silêncio.
- Não me aconteceu nada de novo.
Mais silêncio.
- De dia não se passa nada, insistiu, à noite é que não me deixam em paz.
- Os fantasmas?
- Sim, os fantasmas.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Regresso ao divã

Entrou de cabeça baixa e deitou-se no divã de sempre. Forrado num tecido aveludado verde e com uma almofada mais alta para encostar a cabeça. Ele mudava-lhe sempre o pedaço de papel que cobria a almofada e assegurava a higiene de cada paciente.
- Bem-vinda!
- Acha? Volto de má vontade.
Tinha-se despedido dele no dia em que assinara os papéis do divórcio. Julgara-se curada, a partir daí. Mas não. Os fantasmas tinham voltado em grande. E por isso ali estava, para espantá-los.
- Eles voltaram, doutor. E agora estou sozinha para enfrentá-los.
Suspirou.
- Não. Está comigo. Agora é que você está bem acompanhada.

domingo, janeiro 21, 2007

Quando sais de minha casa?

Há quase quatro anos a viver sozinha e ainda não aprendi a lidar com esta solidão que gasta. Não é uma solidão que partilho, mas um estado que me faz estar acompanhada por ti, na minha cabeça, com os fantasmas que teimam em não desaparecer. Mal me vês trancar a porta por dentro, cá estás tu para me lembrar da tua existência, do que passámos juntos, do que me fizeste passar, do que passarás agora e que eu não sei mas insito em adivinhar.

Quando é que sais de minha casa? É que eu mudei de morada e descobriste o novo lugar. Arranjei visitas e sabes sempre chegar quando elas vão embora, criei truques de companhia e sabes sempre vencê-los e deixar-me a pensar em ti.

Sempre foste um egoísta. Hoje, que nada sei de ti, a não ser que vives noutro país, tão longe daqui que me seria impossível rever-te, continuas a estar presente mais do que eu desejo, mais do que eu permito, mais do que devias estar. Não te quero na minha casa mas sentas-te ao meu lado no sofá como se não fosse nada contigo. Sobretudo deitas-te na minha e não me deixas dormir, ou entras nos meus sonhos como entras na minha casa: invisível, mas tão presente que não te posso ignorar.

Ao fim-de-semana tens mais tempo e apareces com mais frequência. Eu ainda tento ler um livro ou ver um filme. Mas obrigas-me a procurar alternativas, e nem sempre tenho companhia para um café. Estás nas páginas que leio e impedes-me de continuar, entras nas séries que vejo e retiras delas a atenção que merecem. E sempre que páro para descansar, lá estás tu, com aquele sorriso meio de lado, matreiro, próprio de quem acabou de fazer uma sacanice, aproximas-te e ficas ali, a olhar para mim, obrigas-me a desviar o olhar, e mudas de sítio para que nunca deixe de te ver.

Desapareceste sem deixar rasto, mas na verdade persegues-me todos os dias. Estou cansada que venhas atrás de mim. Estou cansada de não conseguir fechar-te a porta na cara e continuo a deixar-te entrar coladinho a mim, mesmo sem limpares os pés no tapete. És uma sombra que aparece sem sol. E eu estou cansada de te ter a meu lado. Esta forma é muito pior que a outra, a real, a que também vivemos em lágrimas.

Ou não será pior, mas boa também não é.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

A caminho

[Bloomberg]

Saúde

Esta semana gastei 610 euros em consultas. Não há ordenado que aguente.
Estou melhorzinha, graças a Deus. Pobre. Mas melhorzinha...

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Sem razão aparente

Escrevo sem ter o que dizer mas escrevo por opção. Não gosto de ver vazio o espaço de cada dia, o espaço de cada data que salta sempre que nenhuma de nós aqui vem. Não sei porque andam as outras meninas deste blog - especialmente tu, Carrie - tão ausentes, mas eu não quero estar ausente e não quero desabituar-me de vir aqui todos os dias, nem que seja para dizer olá. Olá a cada uma de vós, a quem por aqui passa, a mim própria que visito a página de quando em vez para ver se há novidades.

Eu não tenho nada para dizer, mas sei que sinto qualquer coisa que posso transmitir, que posso passar, que posso dizer aos outros, ou então só a mim quando só eu me compreendo e sei o que quero dizer. E às vezes também não sei. Venho aqui e não sei nada, não sinto nada, nada me impele a fazer o que quer que seja para alimentar este blog. Mas preciso de fazê-lo para saber que existimos, juntas, apesar de tudo, apesar das faltas de cada uma, apesar das faltas mais faltosas, apesar das ausências mais notadas. Eu venho como quem passa de visita.

Debito banalidades e sei que o faço. Mesmo assim não páro porque ainda não começou o Dr. House na televisão e porque ainda tenho tempo para escrever. Não páro porque os dedos aceleram no teclado e pedem que escreva, que diga mais, que deixe presente um sentido que fica no sentimento que o teclar deixa transparecer. Ninguém sabe a rapidez com que o faço. Só eu. E não sei porquê, porque não páro, porque não desisto. Hoje não me apetece abandonar o projecto.

Escrevo porque cada linha diz qualquer coisa mesmo que nada diga. Escrevo porque o sentido do meu escrever vale mais do que aquilo que aqui deixo impresso. Escrevo porque vivo ao fazê-lo. Escrevo porque me habituei a viver assim, mesmo quando nada mais me puxa para o sorriso. Pedem-me que acalme o teclar. Não me importo. Continuo nesta vontade de quem quer que saia alguma coisa de útil, mesmo tendo a certeza de que nada disso pode acontecer. Não está a acontecer. É pena. Mas também não faz mal.

Escrever é tão bom que satisfaz a alma. A minha está um bocadinho aqui, no dia de hoje. Espero ter mais conteúdo, um destes dias...

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Ternuras

Sentaram-se os dois à mesa, ao meu colo. Ela quis comer a minha sopa e quase a deixei arrefecer para lhe dar, colher a colher, o creme espesso com sabor a legumes. Tirou a chucha e despachou a fralda porque queria estar ali, na minha perna, a comer da minha mão. Já tinha jantado, mas pouco importava. Não era fome que tinha, mas vontade de ser mimada.

Ele veio para a outra perna, aconchegou-se do lado direito e quase me impediram de comer, os dois, ali atracados sem quererem pai ou mãe. Apenas eu, pseudo-tia, prima, palavra que desconhecem para gente crescida, apenas eu era desejada por aqueles dois pedaços de gente. Ela 2, ele 4 anos.

Trouxeram primeiro oa livros do Noddy e contei duas histórias, mais uma da Dora e outra dos números e ainda outra, dos animais. Riam-se com as vozes que inventei só para os deliciar. Acertavam nas cores e nas perguntas que os livros fazem, assim para ensinar as crianças a crescer devagarinho, mas espertas. Contei com eles os cordeirinhos do comboio que não dormia. Acertei com eles as cores de cada fruto e decidimos de quais gostávamos, ou não.

Eu não jantei. Mas foi uma fim de dia como gosto de ter. Levei-os para a cama, um a um, primeiro com histórias - mais histórias - depois com canções que eles já sabem de cor. Embalei-os e dei-lhes um beijo de boa noite.

Eles nem sonham o quanto animaram o meu dia. Mas eu conto sonhar com eles.

Sentidos I

Um dia cinzento é um dia por viver.

Estados d'Alma [vii]

Capaz de matar por um cigarro.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Afectos [xi]

- E ela não precisa de saber o meu estado civil?
- Essa é fácil. Se não aconteceu nada desde ontem que se deva saber...
- Então qual é?
- Solteiro?
- Não.
- Divorciado?
- Não.
- Casado?!
- Não.
- ?????
- Apaixonado...

Do abalo sísmico

As melhores coisas da vida tendem a chegar pelas vias mais improváveis. Nas alturas mais inesperadas. Gostam de nos apanhar distraídas. Convencidas que a vida está em standby. Em modo de poupança de energia. Era assim que eu estava naqueles dias. Não percebi que o abalo sísmico podia ser um sinal. Um indício de que melhores dias estavam para vir. Para ficar durante muito tempo.

Tempo [ii]

Ao fim de duas semanas percebo como tens razão.

domingo, janeiro 14, 2007

Medo

Estava atordoada com uma enxaqueca que há muito não era tão brava. Na cabeça ecoavam-lhe as palavras da médica quando lhe pediu aquele exame. Ia fazê-lo no dia seguinte quando o relógio marcasse as três da tarde. Hora portuguesa. Enfiou-se na banheira depois de tomar aquilo a que chamava um "drunfe". Era um comprimido forte, capaz de a deixar com o estômago em fúria, mas também capaz de lhe roubar aquelas dores insuportáveis que tinham nascido de madrugada.

Regulou o chuveiro para um só feixe de água e não se importou quando lhe fez ricochete na cabeça, nos ombros, nas costas. Fechou os olhos e deixou-se levar por aquela massagem improvisada que às vezes lhe fazia bem. Era dada àquelas dores e já as conhecia bem. Já tinha alguns truques para combatê-las. Só não sabia como evitá-las. Deixou que a água lhe batesse forte no corpo e não deu importância à que saía para fora da banheira, molhando um tapete laranja berrante e o chão. Naquele momento só queria parar aquele sofrimento.

Pensou no exame. Pensou na preparação que andava a fazer. Tinha perdido um quilo num só dia. Precisava de mais dois. Só bebia água e chá. Tinham-lhe permitido café, mas não gostava. A enxaqueca seria fruto do medo, da falta de alimentação, de qualquer outra coisa que se tinha passado durante a noite e que ela não pôde ver.

Temia os resultados. Nunca tinha sido posta à prova, assim. Lembrava-se de uma outra ocasião em que uma outra médica lhe ameaçara um cancro, caso não se tratasse de imediato. Nessa altura não recuou e fez o que tinha de fazer. Mas agora não dependia dela. Dependia daquele exame que tanto lhe custava imaginar.

Faltavam dois dias. Só depois saberia se podia dormir descansada. E voltar a comer. Encostou a cabeça na almofada e sonhou com uma companhia: a mão da mãe, do namorado, de um irmão, de uma amiga. Só queria ter a certeza que não entraria sozinha naquele degredo. Sentiu-se pequenina e sem forças. Rezou uma oração e fechou os olhos.

sábado, janeiro 13, 2007

Panda

Deixo-te enrolado ao edredon num ressonar tranquilo que não me deixa dormir. Saio da cama e levantas a cabeça para perguntar onde vou. Venho aqui, escrever sobre ti, porque o teu barulho não me deixa descansar, mas a tua serenidade e o amor que tens por mim há muito exigem um post.

Saio da cama com a promessa de voltar, beijo-te o ombro e passo-te a mão pela cabeça. És um panda gigante adormecido na minha cama onde não consigo dormir contigo. Estás doente e isso preocupa-me. Mas és teimoso, mais teimoso que um asno, e não queres ir ao médico. Não sei como convencer-te a tratar de ti. De mim sabes tu tratar. Mimas-me como ninguém e tratas-me como uma princesa. Tu, o Rei, o Panda Rei que é também gigante e que não consigo abraçar de uma vez, és para mim o que nunca ninguém foi. Aprendo isso aos poucos. Deixo-te entrar devarinho no meu espaço ainda ocupado por fantasmas. E lá vêm os teus beijinhos, o teus miminhos, os teus presentes como se fizesse anos todos os dias. És especial.

Deixo-te a recuperar de uma noite mal dormida porque estás doente e não queres saber de ti. Estivesse eu mal e não terias dormido, preocupado. E eu, ao teu lado, só acordei com o barulho do teu ressonar. O teu sofrimento não me acordou, apenas o meu não me deixou dormir.

Oiço-te agora ao longe, num ressonar barulhento. Talvez volte para a cama, mais daqui a pouco, só para te ver sonhar.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Uma história por Dia

A minha mulher ganhava dois escudos a lavar casas à escova. Na terra, guardava as vacas desde os cinco anos e bebia água fresca da fonte. Veio para a cidade servir. Queres vir para a minha companhia? As mulheres dedicavam-se de alma e carinho porque precisavam, agora não precisam de nós para nada. As mulheres, senhor Guilhermino, precisam de se dedicar a algo ou a alguém; é esse o nosso fado, nada mudou, a conta bancária pode ter até quatro dígitos no início do mês, as contas podem até estar todas pagas, mas as mulheres precisam de se dedicar.

[Este é o fim do princípio da história do sr. Guilhermino. Uma daquelas personagens que só a Dia encontra, porque a Dia está sempre de olhos abertos para o mundo. Porque ela acha que nada de extraordinário lhe acontece. Porque tem um coração de manteiga. E porque escreve como ninguém.]

Pode uma declaração de amor tornar-se banal?

Acordei com desejos de chuva. E ela lá estava do outro lado da janela hermeticamente fechada. Normalmente sofro com os dias de chuva. Aquele cinzento que se entranha nos ossos. Sobe pela medula e se aloja por cima da pálpebra esquerda. Não consigo reagir por muito que tente. Suplico aos ponteiros que se apressem. Que cheguem antes da hora. Que não façam esperar ninguém. Hoje, por algum motivo insondável foi diferente. Fiquei uns minutos sentada no chão em frente ao vidro, só para ver a chuva cair do outro lado. Pensei na frase com que adormeci ontem. Pode uma declaração de amor tornar-se banal? Pode um sentimento tanta vezes repetido perder o sentido original? Pode uma surpresa [quase] diariamente – e ainda que com variações - renovada tornar-se vulgar?

Gosto de surpresas. Gosto de ser surpreendida com um convite, com uma frase dita na mais despropositada das ocasiões. Mas gosto principalmente do impacto que as minhas surpresas têm nos outros. Mesmo quando estou longe penso na satisfação que pode causar um ramo de flores. E quando estou perto, um presente fora de horas. Uma mensagem apaixonada a meio de uma reunião, de um almoço. Frases inoportunas. Declarações sentidas. Não o faço à espera de um ‘obrigado’. Muito menos à espera que o retribuam. Faço-o apenas porque me faz sentir bem o sentimento de que fiz alguém um pouco mais feliz. Por muito pouco que seja. E ontem enquanto adormecia, sem a confirmação de um sorriso, pensava ‘pode uma declaração de amor tornar-se banal?

terça-feira, janeiro 09, 2007

Não há livro de instruções

As regras talvez sejam mais simples do que suponha. Estou mal habituada, é o que é.

IGV

Vazio

Nos últimos dias, ontem com mais propriedade, percebi uma das desvantagens de deixar de fumar. Sente-se mais a solidão. O cigarro é uma companhia que não nos abandona. Está sempre lá. Vantagem? Ganhei horas e horas de sono. Não aguento a noite sem um cigarro. Por isso durmo. Muito.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

O dia em que o Natal acabou

Tirei bola a bola: uma dourada, outra vermelha, outra cor de prata. Tirei a estrela do topo e retirei as luzinhas que deram luz à casa durante três semanas seguidas, dia e noite, sem piscar. Desmontei cada ramo e acocheguei tudo na caixa da árvore de Natal. Também já arrumei o anjo que estava em cima da mesa. Arrumei o Natal nas caixas devidas.

Havia expectativas próprias da época. Achei que ias ligar-me para falarmos. Achei que passarias por cá, pelo País, para umas férias curtas. Não sei se o fizeste. Se passaste, não dissesete nada, nem sequer tentaste um telefonema vazio como é teu costume. Eu notei a ausência e quase chorei. Os dias foram difíceis e aumentaram as dores de barriga. A ansiedade também, servida com dores de cabeça e uma falta de apetite atroz. Nem os doces me seduziram... as fatias douradas pareceram-me pedras de calçada banhadas a açucar, mas sem sol; os sonhos não fizeram jus ao nome; e o Bolo Rei nunca foi o meu preferido, mesmo agora que há um Rei na minha vida. E tu, que não me deixas.

Disseram-me para não esperar mais por ti, que não valia a pena, que não merecias, que iria arrepender-me e que o sofrimento não compensava. Disseram-me que não vales nada, que nunca valeste, que só me fizeste mal, e enunciaram-me cada falha tua, cada dia em que chorei, cada vez que me desiludiste. Recordo esses tempos com mágoa. Mas já te perdoei.

Este Natal quis renascer, antecipar a Páscoa, no que ela traz de revolução. Mas não fui capaz. O ano não começou bem, e estes primeiros dias têm sido difíceis de levar. Mesmo assim, prometo a mim mesma fazer qualquer coisa, não esperar que aconteça, não esperar mais por ti. Vou ver se o meu inconsciente me deixa sossegar, serenar, dormir em paz. Vou esperar que não me apareças de noite, nos mais estranhos sonhos, nas mais diversas versões. Quero-te feliz. Mas procuro também a minha felicidade.

É que afinal o Natal não é todos os dias, e eu já pus nas caixas todas as decorações da época.

domingo, janeiro 07, 2007

Babel

E se um dia uma arma mudar a vida de muita gente? A arma usada para caçar, comprada pelos mais pobres para matar chacais, atinge o ser humano. E nesta Babel onde falamos línguas diferentes e por isso não nos entendemos, a arma da caça fere o ser humano, o mais frágil. E Inarritu dá a volta ao mundo, passa pelos Estados Unidos, pelo México, e por Marrocos, ainda vai ao Japão, num só filme que é um murro no estômago.

Babel não tem um Brad Pitt lindo ao virar da esquina, um Gael Garcia Bernal a despertar corações. Não. Tem dois homens, dois actores que ali não entram em capas de revista e são seres humanos que cometem erros. Não são heróis, nem aventureiros, nem nada que os afaste de nós próprios. São gente como nós a quem acontecem imprevistos. Como a qualquer um podia acontecer.

E a criança que quase mata vê depois morrer o irmão numa luta de atiradores. Tudo tinha começado assim: a ver quem atira melhor. E a arma que antes servia para matar o inimigo das cabras num deserto profundo, depois de dar a volta ao mundo, transforma-se no elemento perigoso do filme. Mesmo assim, é a língua a melhor arma, e a que nos faz mais falta.

Faz falta à japonesa que chega à adolescência morta por uma relação sexual; faz falta ao homem que tem a mulher nos braços e não parece haver quem a salve, faz falta às crianças que se vêem no meio de uma outra cultura onde degolar galinhas é uma festa, faz falta a cada um de nós, ao fim ao cabo, para percepcionarmos tudo o que se passa num filme cheio de sons, cheio de comunicação, pleno de histórias com um fio condutor que não podemos perder.

Babel é um grande filme. Deixa-nos calados por uns minutos.

PS: Obrigada aos meus companheiros de fita. Sem eles teria ido para casa dormir!

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Conselho do dia

Reagir!

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Não tenho paciência

Para nada. Para ninguém.
Estou farta deste meu mal-estar, desta minha forma de viver, desta incapacidade de ultrapassar um estado de espírito negativo, que acaba comigo, que não me deixa sorrir.

Oiço risos à minha volta e não consigo suportá-los. Oiço burburinho e vozes alegres e votos de Bom Ano e não consigo acompanhá-los. A minha vontade é fugir. Sair deste ano, do passado, deste século, deste ser que sou eu para depois reaparecer como outra pessoa numa qualquer parte do mundo onde consiga respirar. Agora não sou capaz.

Cada manhã afoga-se na cama com vontade de não sair. Cada refeição é evitada com desculpas mais ou menos diferentes e sem justificação nenhuma. Cada companhia é aceite como se de uma benção se tratasse. A minha mãe não precisa de mais do que uma palavra para saber que não estou bem.

Sinto-me a afunilar. Não posso olhar para frente porque não vejo nada. Espero que ao meu lado siga alguém, sempre que possível, porque não quero estar sozinha. Mas mesmo acompanhada sinto-me só. Quero sair deste estado que me mantém presa e não me deixa correr para fora dele.

Se a minha vida fosse um filme eu seria um ser aprisionado, agarrado às grades de uma cadeia, com uma luz pequenininha em cima a deixar entra uma nesga que nem dá para ter esperança. Não aconteceu nada para isto. Nada de novo se passou. Os meus dias não tiveram sobressaltos.

Sou apenas eu que continuo a existir.

Rejeição

Miraculosamente, ou não, consegui sobreviver ao primeiro dia sem tabaco. O mesmo não se pode dizer da noite. Acordei às duas, às quatro, às seis… às oito decidi que não vali a pena continuar às voltas na cama. As olheiras, que eu julgava serem efeito secundário do tabaco, estão hoje mais pronunciadas que nunca. A decisão de Ano Novo – a primeira que tomo em 32 anos de vida – ameaça deixar-me com os nervos em franja e ainda mais irascível [se é humanamente possível…]. Ao segundo dia deparo-me com um novo problema. O meu corpo rejeita os adesivos. Por mais que siga as instruções a porra do adesivo simplesmente não cola. O cérebro deve ter percebido que estou a tentar enganá-lo. Que esta nicotina não serve. O que ele quer mesmo é sentir o fumo a enrolar-se na boca. A sair lentamente numa expiração controlada. Fumar é um vício de mãos e de boca [sem segundas interpretações, sff]. E para isso não há adesivos. Há apenas força de vontade. Resta saber onde a encontrar. Principalmente desta vez, em que não existem motivos de força maior a sustentar a minha decisão…

terça-feira, janeiro 02, 2007

Tempo

Parece que 2007 tem minutos maiores.

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Estados d’Alma [vi]*

Contando os minutos como um condenado no corredor da morte.

* Em versão 'quem-me-manda-tomar-resoluções-de-fim-de-ano?!'