Na estante
O ‘Bilhete de Identidade’ já está arrumado na estante. Duvido que alguma vez lhe volte a pegar, mesmo que me tenha prendido da primeira a última página, lido muitas vezes noite dentro, roubando horas ao sono. Ia a história já a meio quando um amigo me perguntou se estava a gostar. A resposta, como ele próprio o disse, não podia ter sido mais sincera: ‘Não sei’. A verdade é que continuo sem saber. Confirmei o meu ponto de partida: Maria Filomena Mónica (MFM) não tem estatuto para escrever uma autobiografia. É uma menina/mulher fútil que se perde em questões triviais, num registo que em muito se assemelha aos diários que eu própria escrevia quando tinha 16 anos. Escudando-se na superioridade intelectual de Vasco Pulido Valente, MFM passou ao lado do que realmente importa no período em questão: o Salazarismo e a Revolução de Abril parecem memórias confeccionadas com a ajuda dos livros de história, acessórios dos seus amores e desamores. Também confirmei a impressão inicial quanto à escrita. É pouco elaborada, com excepção dos três primeiros capítulos, em que MFM escreve sobre os pais e a avô. Porque é que o levei até ao fim? Porque sou teimosa, e como alguém escrevia, por puro “voyeurismo, do tipo que condenamos sabendo-nos incapazes de lhe resistir”.
[Adenda: Numa tarde de produtividade zero até tive tempo para ler uma crítica ao livro. Eu, que não passo de uma simples leitora, que aquilo que vou escrevendo está longe de ser crítico, concordei com tudo. Dito isto, não gostei da auto-biografia da MFM. Obrigada, JPG. Agora vão e leiam antes de gastarem o vosso dinheiro.]
8 comentários:
Acho que é pelo mesmíssimo motivo que escarafunchas o meu blog. Nem é preciso ir chatear o Freud.
Dia
Com uma pequena (grande) diferença. Tu escreves bem, ela é sofrível.
Hoje estou num daqueles dias em que escarafuncho os blogs todos. Produtividade zero. Devia ter ficado em casa a chocar esta gripe, em vez de a ter vindo passear para o Chiado.
Mas tens que concordar que é um belíssimo sítio para a passear. Ontem passeei a minha por esses lados e até fui expulsa do Hotel do Chiado pelas tropelias da minha loira.
Dia
Pois que, ao contrário de vocês, gostei do livro. Talvez porque, justamente, lhe faltam as tais análises e reflexões académicas que seriam esperadas de alguém com o seu estatuto. Está simples, pueril, mostra um lado mais banal, corriqueiro, que gosto de acreditar que todos temos, que nos desmistifica, nos nivela, não pejorativamente, mas que nos nivela no que a vida tem de mais quotidiano e até comum, aproximando-nos. Podia estar mais bem escrito? Com certeza. Mas até o não estar tão bem escrito como podia achei interessante.
O facto é que, a meu ver, toda a gente devia registar a sua história e a história da sua família. Toda a gente mesmo! Escritas mais merecedoras, vidas mais merecedoras,... isso já são critérios de recepção e a triagem, lá está, cabe ao receptor. Mas, alheios a esses critérios que, no final, farão com que algumas autobiografias sejam best-sellers e outras não sejam sequer publicadas, creio que esse registo deveria ficar, para nós e para os nossos. Talvez por isso me tenha interessado o modo como MFM nos legou o seu Bilhete de Identidade. Mostrou-se de outra maneira, deu-se naquilo que a faz mais comum, mais banal, desmistificou-se, humanizou-se... permanecendo, ainda assim, no seu universo. Gostei, sim. E acho que vale a pena ler.
Quando dizes que se desmistificou e se tornou mais banal, humanizando-se, estás a coloca-la num patamar demasiado elevado, que não me parece que corresponda à realidade. Ela é uma socióloga com algum prestígio, tem obra publicada… so what?! Isso faz dela mais do que eu e tu? Não percebo como podes achar interessante o facto de uma mulher como ela, uma estudiosa, falhar numa questão fundamental, a da escrita. Na minha opinião existem dois registos distintos no livro, e quando escreve na terceira pessoa, MFM não foge a uma escrita mais literária. O resto é um diário de adolescente… Tens razão quando dizes que todos devíamos registar as nossas vidas, eu faço-o regularmente. Mas daí a publicar um livro sobre o assunto…
Parece-me, e qualquer ida à FNAC o confirma, que Portugal está a cair na banalização de editar tudo o que se escreve. Com padrões de leitura e exigência muito baixos qualquer coisa vende. Há um lado positivo no fenómeno Margarida Rebelo Pinto, ela pôs muita gente a ler, mas será que é essa a cultura que queremos?
Quando escrevo sobre um livro não pretendo fazer crítica literária, faltam-me os pergaminhos e os conhecimentos para tal, mas gosto de opinar sobre o que vou lendo. E esta é a minha opinião sobre a MFM. E as opiniões são como os chapéus...
PS: Também acho que vale a pena ler, nem que seja para poder dizer mal com propriedade :)
Olá novamente,
Não tenho mais nada a acrescentar ao q já disse. Compreendo perfeitamente as tuas críticas e a tua perspectiva, fizeram-me repensar a leitura q fiz e gosto disso, gosto de diversificar os ângulos com que abordo seja o q for...
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O António Barreto que se cuide pois está a seguir.
Pertencerá ele aos "palermas c/ blazer" ou "sem blazer"?
Aguardam-se as cenas dos próximos ... isto não é assim muito diferente de uma telenovela.
O quê? Análise social?!?! Essa é boa.
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