Não quero!
Tenho um brinquedo novo. Lindo! Foram semanas de espera que valeram a pena. À minha volta, o caos. O brinquedo antigo, velho mesmo, jaz a um canto deste tapete vermelho, junto às velas que ontem não acendi – porque voltei ao incenso, comprado a granel no centro comercial da Mouraria –, qual cadáver à espera de ser autopsiado, para a colheita de órgãos que se acumularam nos arquivos ao longo dos últimos cinco anos. Alinhados num montinho estão os livros de instruções que nunca lerei, os CD’s de instalação da internet e dos outros programas todos que farão deste brinquedo um prolongamento do anterior. O cinzeiro está cheio da noitada de ontem, uma embalagem de bolachas de manteiga está vazia há muito, e na caneca um resto de chá já frio. Apesar da desordem, que me mexe com os nervos, não me apetece sair. Hoje deixava de bom grado a ida ao Op Art, que afinal de contas vou ter que saltar. Não pegava num livro. Não ia ver os meus meninos. Não ligava a televisão.Adiava mais uma vez a hora de ir buscar a árvore de Natal à arrecadação ... Deixava-me ficar de pijama, sentada neste tapete vermelho, com a música que se deve ouvir no terceiro andar, o meu chá e o meu brinquedo novo. Mas não hoje. Vou tomar banho, vestir-me com o meu melhor sorriso e pôr-me a caminho do trabalho. Não! Vou ligar, dizer que morreu o canário, que tenho um calo no pé direito que não me deixa calçar os sapatos, que rebentou a canalização, que se furou um pneu... qualquer coisa. Só não quero sair daqui.
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