domingo, outubro 29, 2006

Amor no meu imaginário

Penso em ti à distância de um oceano que nos separa. Sei que voltarás, em breve, e conto os dias que faltam para receber os apertos no nariz, as lambidelas no rosto, os mimos diversificados, a palma da tua mão na minha, o olhar que me segura. Grito quado metade disto acontece mas já não posso passar sem eles, sem os sinais do teu gostar, do teu amor, da tua saudade e da forma como me queres bem. Eu não sabia que havia alguém a querer-me bem assim. Eu não sonhava. Nem precisaste de mo dizer. Adivinhei pelos teus gestos, pelos teus olhos, pela forma como sempre entras no meu dia, seja de manhã, tarde ou noite.

Eu não sei o que viste em mim. Sou tão diferente daquilo que durante anos procuraste. E então descobriste-me e ainda me descobres, aos poucos, e ajudas-me a descobrir-me também, porque há coisas que nem sei de mim e há tantas que já esqueci. O amor existe? Eu não sei se te posso amar. Eu não sei se já não te amo. O amor é esta falta que tu me fazes? O amor é uma saudade que se deita ao meu lado todas as noites e acorda comigo de manhã cedo? Será isso o amor?

Eu já não sei. Perdi-o ou penso que o perdi e não sei como é amar ou penso que não sei. Amar até à morte, acreditar assim, amar para sempre, acreditar nesta forma de estar. Eu não sei se te amo ou se saberei amar-te como mereces, mas o teu amor enche-me de medo e de vontade de gostar de ti, também eu, sem saber se faço bem ou mal, se é desta ou de outra maneira qualquer.

Fazes-me falta agora, nesta sala onde escrevo depressa num teclado negro onde vejo o brilho do verniz vermelho escuro das minhas unhas que preferes brancas. Leio-te nas capas de alguns livros que povoam os meus cestos e as minhas prateleiras e sei que estás nelas como se estivesses aqui. Leio-te nas crónicas do Lobo Antunes de quem tanto gostas, mesmo que o considere distante e arrogante, e inútil. Mas tem a tua aprovação e isso merece o meu respeito. Vejo-te nos dvd's das séries que gostas de ver enquanto te ris sozinho, e que voltas atrás para repetir cenas e contas aos amigos em pormenor e sabes quem entra, quem realiza, quem caracteriza, quem produz. Sabes tudo como se também soubesses se te amo ou não. Coisa que eu não sei e não te vejo a querer saber. Por medo, não queres saber.

Beijava-te neste momento com a ternura que há mais de um ano nos une e ultrapassa barreiras que julguei intransponíveis. Por esta hora lerás um jornal, verás um filme, ou simplesmente dormirás com o teu sono pesado que me acorda se dormes comigo que me deixa louca a respirar o ar da noite, que não me deixa descansar, mas que me deixa descansada porque a tua presença é mais importante que o meu sono quieto. Beijava-te agora as mãos, sempre quentes e deixava que me embalasses nos teus braços gordos, no teu grande corpo que não me importo que tenhas, que não pensei vir a ter, que não julguei agarrar e que agora só me toca, e esse toque faz-me bem.

Do outro lado do Atlântico virás com sabor a sal, pouco queimado sem praia, mais culto e sabedor de tudo o que já sabes porque os livros entram na tua vida à velocidade da luz e só quando eu chego se apaga essa luz para que se acenda outra, talvez a das estrelas, talvez a que nos faz sonhar, talvez a que me faz pensar. Será isto o amor?

5 comentários:

A. Pinto Correia disse...

Se o que aqui descreves não é amor, então o que será?
Porque sim. Porque as pessoas devem ser felizes: sê-o em plenitude.

LurdesMartins disse...

Amor não sei... mas saudade...

Leão da Lezíria disse...

Gostava que alguém escrevesse assim um post sobre mim...

Rita Coelho disse...

Palmas!

Catarina disse...

Muito bonito.