domingo, outubro 08, 2006

Gostar de quem não gosta de nós

Gravo novamente o FM para a G. A primeira cópia foi ouvida até à exaustão. Presumo que da mesma forma como eu ouvi o AM. Talvez pelas mesmas razões. Não sei. Não deu tempo para perguntar. A G. está novamente numa das suas espirais de dúvida. As certezas duram pouco quando se tem 27 anos. Acordou um dia para descobrir que afinal não gostava de A. [lembram-se dele? O tal da ex-tão-ex-namorada que conseguiu engravidar dele]. Depois disso conheceu o D. Mais um caso problemático. Aqui não havia outra mulher. Mas existiam outros vícios. E uma ciumeira doida. Aos olhos de D. a G passava a vida a seduzir outros homens. Fazia-lhe cenas de novela mexicana. Só faltava voarem os pratos e os copos pela janela aberta. A ela que, confessava-me, não tinha olhos, nem cabeça, para mais ninguém. A paixão acabou no dia em ele tentou conduzir um jipe sobre as águas de uma barragem. Não era Deus. Nem esperava que as águas se apartassem. Eram as ganzas e o álcool a conduzir aquele jipe. Mas desta vez a G. não chorou, não esperneou. Desde o início – no segundo encontro ele levou-o para casa de um amigo onde se embebedou até cair para ao lado, enquanto ela assistia – que ela sabia as linhas com que se cozia. Ingénua, como o serão todos os que amam, ou julgam que amam, acreditou que podia mudar este homem. Não conseguiu. Não tem aura de madre Teresa. Desistiu. Fez o que deviam fazer todas as mulheres depois de um desgosto amoroso. Fez-se à vida. Foi conhecer outras pessoas. Fazer novos amigos.

A G. tem facilidade em fazer amigos. Ou não tivesse ela um palminho de cara e um metro e oitenta de corpo bem torneado capaz de fazer virar o santo Papa. De uma assentada conheceu o S. e o M. [sim, a G. conjuga o alfabeto latino melhor que ninguém]. Estética à parte – porque, diz, são os dois lindos, numa versão feminina de ‘eu tenho dois amores’ – começaram as dúvidas. O M. é do tipo estável. Carreira construída, casa instalada, uma boa conta bancária, super atencioso, pronto a dizer ‘sim’ no altar. São estas as diferenças em relação ao S.. O homem que lhe tira o sono esquece-se de lhe telefonar, não lhe responde às mensagens, deixa-a dias a fio sem dar sinais de vida. Combina jantares que desmarca a meia hora do encontro. Falha outros que nem chega a desmarcar. É o verdadeiro FDP. Não vou voltar ao tema. Mas é incontornável que temos uma tendência destrutiva de gostar de quem não gosta de nós. Será pelo desafio da conquista? Será uma veia masoquista? Será burrice pura? Ou será, tão somente, o amor um sentimento incontrolável? Que nos troca as voltas. Nos surpreende. Nos passa rasteiras quando menos esperamos...

3 comentários:

dondoca disse...

Nos livros e nos filmes (e porque não na vida real) tenho sempre este dilema: vamos com o "chato" do altar, ou com o fdp? Gosto quando se segue a paixão, tenho pena de quem era o caminho seguro.

ana disse...

Ainda este fim-de-semana, na revista Xis, vinha um artigo sobre isso mesmo: Dizia sobretudo que as relações afectivas não falham por acaso e que as nossas escolhas afectivas obedecem a uma lógica real mas também inconsciente relacionada com medos, carências e inseguranças infantis.
Não deixa de ser estranho... saberemos alguma vez se aquela pessoa é a pessoa "certa"?

Anónimo disse...

É por pura badalhoquice.