sexta-feira, outubro 13, 2006

Viagens

[Com sorte] As viagens de trabalho são parentes pobres das férias. Algumas que são apenas enfadonhas visitas a aeroportos. Conheço o de Frankfurt e Heathrow quase tão bem como a Portela. Nunca visitei Frankfurt e as visitas a Londres resumiram-se a duas estadias de menos de 24 horas.

Fui de Lisboa a Cannes num Volvo S80. O volante esteve várias vezes na minha mão. Tremi quando me apercebi que o conta-quilómetros estava nos 200km/h. Há quem ainda trema quando se fala nesta viagem. Passamos a fronteira e dormimos em Itália. Ainda passei pelos casinos do Mónaco. Conheci Cannes uns anos antes. Uma semana passada no centro de estágios de uma das minhas empresas xpto. Horário das 8h às 18h. Duas horas de almoço. Piscina mesmo à mão de semear num Junho repleto de sol. A mesma piscina para onde fui atirada vestida. [Era a única que, novata naquelas andanças, não tinha levado fato de banho. Desde então, mesmo no Inverno, o biquíni vai sempre na mala. Como o chapéu-de-chuva no Verão.] Conversávamos até altas horas. O conceito de bar aberto era levado à letra. Depois do café os empregados desapareciam. O líquido das garrafas também. St. Paul de Vince. Uma vila medieval de sonho de onde, uma noite, fomos expulsos devido ao barulho.

Vi S. Francisco em dia e meio. O suficiente para me apaixonar por aquela terra de contrastes. Passaram quase 10 anos e ainda me lembro do átrio do hotel cheio de ‘teenagers’ em noite de baile de finalistas. Lembro-me das ruas de Chinatown e de como voltei a encontrar os mesmos cheiros meses depois em Nova Iorque. Dessa vez ganhei quatro dias de férias. Estadia garantida em casa do marido de uma amiga que mal conhecia. Com viagem paga era impossível recusar a proposta. Andei tanto naqueles quatro dias que me doíam os tornozelos de cada vez que os pés tocavam o chão. Quando comecei a trabalhar na noite de terça era uma mulher feliz. Há postais de Nova Iorque perdidos nos arquivos do blog. E há memórias de Orlando. Dos parques temáticos para onde fugíamos à noite depois das conferências. Uma das cidades mais feias que me foram dadas a conhecer. O contrário de Washington. Uma cidade linda, ainda que vista pela janela do carro. Fica a memória de um almoço com gente interessante.

Fui à apresentação do Peugeot 407. Aterrei em Geneve. Andei dois dias pelas estradas molhadas da Suiça. Vi nevar pela primeira vez. Decidi que queria seguir o sector automóvel. É a verdadeira boa vida. Excluídas que sejam as conversas sobre monitorizações, cilindradas e afins. Dois dias a testar o carro de um lado para o outro. Ao terceiro voei para Paris. Foi a primeira vez que adormeci numa conferência. A única em que versava sobre motores de automóveis! Fiquei convencida que não tinha sido feita para aquilo. Mesmo assim, há dois anos testei uma Astra no sul de Inglaterra. Fiz parceria com uma amiga de longa data. Sorte a minha, ela não gostar de conduzir.

Paris foi a primeira cidade que conheci em ‘trabalho’. Aspas, muitas aspas. Conhecer a cidade a convite do Turismo de França. Três dias de bónus oferecidos pelos esforços de nove meses de trabalho. Visitei a cidade de uma ponta à outra e ainda fui à Disneyworld. Já lá voltei umas quantas vezes depois disso. Nunca mais de 24 horas. É pena.

Madrid é quase só cidade de pernoita. Jantares mais ou menos secantes, com pessoas normalmente aborrecidas. Acho que a isto se chama trabalho.

Se a memória não me falha, falta só a Eslovénia para completar o périplo pela Europa. Lubliana conhecida ao final da tarde. À pressa. Uma hora entre o check in e o jantar de gala. Prova de vinhos. Acordar de madrugada para fazer quilómetros de autocarro. Conferência. Autocarro. Aeroporto.

A Maputo fui como assessora de imprensa. Mas durante um dia fui secretária, fotógrafa, ama-seca. Ganhei uma ida ao Kruger Park. Ainda me falta a viagem a Angola. Não perdi a esperança.

O Brasil é uma história à parte. Porto Alegre. Rio de Janeiro... Vão as arquivos se quiserem.

Há um lado mau nestas viagens. O stress dos fusos horários que obrigam a acelerar para cumprir os prazos de Lisboa. As refeições que não se fazem porque o deadline não permite. Horas perdidas em aeroportos. O cansaço de acordar sempre mais cedo do que em casa. De deitar tarde à custa de jantares formais com os gestores xpto. Operações de charme. Uma seca para nós e para eles. O desespero de passar tanto tempo sentada num avião. É trabalho, certo? Uma pessoa habitua-se. Mas há uma coisa que durante todos estes anos nunca consegui ultrapassar. É um contra-senso. Aparece sempre quando me deveria estar a divertir. Nas horas passadas a conhecer as cidades. Aquela sensação de isto-é-muito-bonito-mas-falta-aqui-qualquer-coisa. E essa qualquer coisa é sempre alguém com quem partilhar o momento. E não chega serem aqueles colegas que conhecemos há anos. Que quase tratamos como amigos. Esse alguém devia ser no mínimo tão especial como o momento. Por isso estas viagens sabem sempre a pouco. Mas é trabalho, não é?

2 comentários:

lr disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Por razões várias, gosto muito deste teu post.
E acho que há sempre maneira ou tempo de dar a volta à questão de "partilhar o momento"...