Adeus ao Verão [ii]
Ao princípio é o malmequer. A flor amarela é a primeira pista deste mapa do tesouro. Ao lado uma estrada de terra batida. Sempre em frente até ao muro decorado com flores. O tempo passou por ali. Deixou marcas. Há uma placa que diz ‘cuidado com o cão’. Fica a dúvida sobre a existência do mesmo. Hesita-se no caminho a seguir. Pela esquerda não há saída ou entrada que valha. Mas é para ali que aponta o trajecto desenhado a azul no mapa. Parar o carro. Só pode ser por ali. E lá está, o trilho, escondido pela vegetação. Um carreiro estreito. Ouve-se a água de um riacho. As árvores [com nomes certamente pronunciáveis, mas nunca aprendidos] cruzam-se sobre as nossas cabeças. O meu [pouco mais de] meio metro de gente tem que se curvar para passar por baixo. As silvas prendem-se à roupa. As havaianas escorregam na lama. Fogem na pedra gasta pela água mole. Quando o arvoredo se abre vê-se o vale pronunciado do riacho. A costa recortada contra a luz do horizonte. Um silêncio que assusta. A descida é íngreme. Os [muitos] degraus acabam abruptamente a metros do chão. Uma última barreira contra a intrusão. Vacila-se com as vertigens. À frente o mar. As ondas quebram junto a um bando imenso de gaivotas. Não há vivalma. O paraíso é aqui. Corremos para o mar. Fazemos voar as gaivotas. Parecemos miúdos. Chapinhamos na água fria. Ficamos no areal vazio. Vemos o dia morrer na praia. Prometemos guardar segredo. Prometemos voltar para o ano.
2 comentários:
Pensava que só eu conhecia o caminho para a praia da A...
Bem, pelos vistos agora somos três...
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