quinta-feira, outubro 05, 2006

Apartamento 4

A piscina ficava no pequeno jardim. À volta, floresciam as plantas altas que desviavam os olhares mais curiosos. Aquele era um recanto para dois, mas cabia ali mais gente, se fossem convidados. A piscina era pequena e não permitia mais de três braçadas, mas apetecia estar lá dentro: a água borbulhava e luzia com o sol a bater-lhe e a dar àquele recanto sinais de descanso e de ternura. Dois corpos dormiam nas espreguiçadeiras. Suavam por causa do calor mas não fazia mal porque estavam resguardados do tempo. Ela fazia topless. Ele reparava nos contornos daquele corpo de menina que também lhe pertencia. E os dois fechavam os olhos.

O apartamento 4 tinha o conforto de uma casa para todos os dias, mas servia apenas para passar férias. Tinha dois quartos e três salas de banho, uma sala para estar e ver todos os canais de televisão, uma cozinha equipada e aquele jardim relvado, apetecível, descansado, escondido.

Quando puseram a chave à porta riram-se os dois. Nem acreditavam que estavam ali, só eles, só para eles. Fecharam a porta e abraçaram-se num agradecimento de se terem um ao outro para aproveitar aquela benesse. Os bens materiais não tudo, já se sabe, mas ajudam. E o apartamento 4 era a prova disso mesmo.

No quarto os tons eram de branco e amarelo e havia uma janela que só deixava entrar a luz. À noite a lua cheia punha-se à espreita dos dois corpos que agora se abraçavam numa cama, que não sendo una, era capaz de se juntar e de deixar unir quem nela se deitava. Os lençóis cheiravam a limpo, mas a um detergente suave, próprio para noites frescas e bem dormidas. Ela deitou-se mais cedo e o sono caiu-lhe nas pálpebras. Ele releu o jornal várias vezes dobrado e desdobrado e deitou-se depois. Uniram-se as mãos de um e de outro quando ela o sentiu chegar.

O apartamento 4 não lhes pertencia. Era um empéstimo. Por poucos dias viveram ali tempos felizes. As manhã de sol expunham os corpos nas espreguiçadeiras, lá fora, e só a fome os fazia levantar para procurar onde comer. Regressavam à casa para ser felizes, para recuperar forças, para recuperar o sono, para aproveitar as férias.

Foram embora satisfeitos, mas com vontade de voltar.

É que não é todos os dias que se tem a chave do Apartamento 4, na Quinta do Lago.