domingo, março 05, 2006

A minha sogra casou-se*

Tentei interpretar o facto de estar presente no casamento da minha sogra ainda antes de ter estado no meu próprio enlace com o filho dela. Uhmmm... Não interessa elencar aqui as razões pelas quais ela deu o nó, nunca o tendo feito antes, e os motivos porque eu ainda não dei o meu, apesar de ter vontade disso. É talvez mais importante concluir que as convenções não nos devem prender sejam num sentido ou noutro. A minha sogra chegou à conclusão de que valia a pena fazer algo em que até agora não tinha acreditado, outros acalentaram este sonho toda a vida e tiveram uma desilusão. Ou seja, o importante é acreditar que os rituais são isso mesmo: partilharmos com família e amigos um momento singular na nossa vida. Pode ser o prelúdio de um desastre ou, de facto, o início de uma bela história. O importante é vivê-la, recordar os bons momentos e seguir em frente quando acabar. Para que, com ritual ou sem ele, vivamos todas as histórias que destino nos reservar.

Não tenho sogra. Se tivesse provavelmente também não estaria a casar-se. Gostava de assistir a um casamento este ano. Uma festa muito especial, de uma mulher que adoro. Adiante. Há temas que só para algumas de nós ainda fazem sentido. Hoje tivemos jantar a quatro. Juntamo-nos pela segunda vez este ano. Não foi precisa nenhuma desgraça, nenhum quarto de hospital. Estamos juntas porque sim. Para trocar mimos e prendas de Natal. A senha hoje pertence à Samantha. Assumidamente, a mulher do momento.

A minha 'sogra de facto' é divorciada. Já passaram mais de 10 anos e ela nunca superou o facto de lhe terem trocado as voltas quando parecia que já não era altura de dar mais volta nenhuma. Fugiu-lhe o tapete de debaixo dos pés, quando ela já nem se lembrava que ele estava lá.
A minha mãe é viúva de um casamento de merda. Já lá vão dois anos e ainda lhe vêm lágrimas aos olhos quando se recorda do meu pai.
E eu estou acompanhada há vários anos. Bem acompanhada. E mesmo assim são muitas as vezes em que me sinto demasiado só. Moral da história? Não sei se a há e nunca fui demasiado moralista. Mas talvez estas três histórias - e não só estas três - revelem que dificilmente nos bastamos a nós próprios. Se assim fosse, talvez algumas coisas fossem muito mais fáceis. Mas muito menos coloridas e ternas, certamente. Às minhas amigas do peito, desejo-lhes o mesmo que a mim própria: a manutenção do laço que nos une e que, quando tudo o mais falha, nos ajuda a atenuar a dor e a manter a capacidade de nos conseguirmos rir das nossas mágoas e ridicularidades menores.

A minha sogra é casada. E bem casada. Mas eu já me divorciei do filho dela. A minha sogra manteve um casamento feliz com um homem que a respeita mas não soube dar aos dois filhos a necessária 'formação' para eles lhe seguirem o exemplo. E ao pai. -- Só para que se saiba, e actualizando o encontro desta noite - a senha é agora da Carrie! -- Continuando... Os filhos da minha sogra - diz-se que esses laços familiares nunca terminam, mesmo que o casamento morra - casaram-se: um com uma mulher dominadora que o controla a 100 por cento; o outro comigo. Eu não controlei a coisa e lá se foi o casamento.
Como diria o Chico Buarque: 'Foi bonita a festa, pá...' mas acabou-se.
A minha sogra é boa pessoa. Ainda o é, de certeza, apesar de não nos vermos há mais de dois anos. Creio que não voltarei a ter outra. Creio que não voltarei a ter outro marido - mas nunca digo nunca, no que a este assunto diz respeito - mas tenho a certeza que, solteiras, casadas, juntas ou divorciadas, as três amigas deste 'mais cidade que sexo' me bastam.
E se alguma delas casar, lá estarei! Porque apesar de já não ter idade para o 'chá de panela', não desdenho uma boa festa de 'trem de cozinha'.


*Escrito a 8 mãos, com votos de felicidade à D. Conceição.

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