quarta-feira, março 01, 2006

Pontes

Gosto da Vasco da Gama porque me leva a casa do meu irmão. Gosto dela por ser bonita, vista de qualquer sítio de Lisboa. Gosto de vê-la da margem sul, de observá-la do lado norte. Gosto desta ponte inaugurada 'à feijoada' e com um recorte fino de uma arquitectura que nenhum enchido envergonha.

Gosto da 25 de Abril. Gosto da história que traz na travessia, da infância que recordo quando, por ela, soube quem era o 'Dr. Oliveira Salazar' e ali ouvi falar de uma Revolução com cravos. Até cheguei a pensar que o material nela usado - aço, parece-me - era assim, vermelho, por causa da insurreição militar e das flores. Gosto porque se vê do alto, quando os aviões voam vindos do sul. Gosto, porque Lisboa é um presépio iluminado quando sobre ela já vimos Belém.

Gosta da Ponte de Brooklyn. Atravessei-a a pé com uma amiga que me fica na memória das viagens. Mesmo as imaginárias, porque ainda as fazemos. Por ela - pela ponte - comprei um livro do Paul Auster que me fez gostar - ainda mais - do autor norte-americano que vive do lado de lá, fora da grande Manhatan. Gosto da estética e dos cabos cruzados a deixarem ver arranha-céus aos quadradinhos. Gosto de sentar-me nela para observar as outras que também conduzem à Grande Maçã. E gosto de senti-la sobrevoavada por gente com as economias estabilizadas, o suficiente para circularem de helicóptero em Nova Iorque.

Gosto da Ponte de Vila Franca. Sei que tem um nome importante, mas não o recordo agora... Lembra-me tempos idos quando fazer a recta do Infantado era gozar uma viagem de mil quilómetros (parecia) e que, no sentido Lisboa, queria dizer 'estamos quase a chegar'. Gosto da antiguidade que tem e do rio que me ensinou a conhecer, ainda no estado puro. Além de recordar o medo de atravessá-la. Sempre.

Gosto da London Bridge. Gosto de vê-la iluminada mesmo que não sejam jóias as de uma coroa que vemos. Também gosto da nova ponte, a que celebra o milénio, em Londres. Gosto de ver a Tate de um lado, linhas direitas e cores rosadas e, do outro - mais ao fundo, e já noutra travessia - as linhas clássicas de um Palácio onde rainhas e princesas podiam ser, no imaginário, uma história de encantar...

E gosto da Ponte de D. Luís. Imponente sobre a invicta, a recordar outro monumento numa capital com classe como é Paris. Gosto de passar sob ela e ver a Ribeira, sentir-lhe o cheiro, ouvir os sons que das janelas saem sem pudor. E também gosto da outra, mais adiante, a da Arrábida, mais recente... marca de betão que um dia foi a maior arcada do mundo.

Podia referir mais... uma maravilhosa nos Picos da Europa, numa terra cujo nome esqueci mas que associo a uma feijoada (outra) célebre, das Astúrias. Uma ponte romana de cruz erguida ao meio... e uma mais pequena, mais simples, feita há menos tempo, mas há tanto outro, que por ela passou o meu avô enquanto menino. Numa Ribeira a que assim chamaram por por lá correr um fiozinho de água, mais forte no Inverno.

De tantas pontes eu gosto.




Só detesto as do funcionalismo público. Não é por não gozá-las. Mas por saber que, por causa delas, o dia de amanhã - hoje, tendo em conta a hora - será bem mais difícil de gerir. É que os que a ponte gozaram vão querer atravessar a semana mais depressa. E eu é que não caio ao rio...

1 comentário:

Marta disse...

Gosto também da Ponte Vecchio. Mas de de a ver ao longe, sentada numa outra ponte do mesmo rio.