sexta-feira, março 10, 2006

Não existem filhos (as) da puta... Apenas tolas e tolos

Raramente uso saltos altos e muito menos sapatos de ponta certeira capazes de bicar o fecho da braguilha à minha frente sentada. Nesse aspecto, não sou uma filha da puta.

Se conheço um tipo interessante com quem fico umas boas horas a falar, mudo de tom se ele tem aliança, se me fala da 'mulher' ou da 'namorada', mesmo que me venha com a conversa da tanga 'as coisas não andam bem', 'sinto-me sozinho', 'ela nunca aceitaria o facto de eu ter uma amiga...' Tenho por princípio evitar os comprometidos - o que é difícil, hoje em dia - o que talvez faça de mim, outra vez, uma 'não' filha da puta.

Porém...

E para tentar provar que não existem filhos, nem filhas da puta, deixo-vos hoje - haverá mais - um caso que quer provar a existência, isso sim, de gente tola. Gente burra que aceita tudo por causa de um tipo ou de uma gaja que se julgam filhos da puta. Não o são. Os outros é que são demasiado tontos.

Senão, vejamos:

Caso 1:

Seguem cinco pessoas num carro de marca fraquinha, idades entre os 16 e os 22 anos, flor da idade, esperanças e outras parvoíces da geração. Um casal - novos - segue à frente. Ele conduz. As curvas - da estrada - são sinuosas e ele conhece-as bem. Mas há perigo. Ela alerta-o. Ele prossegue. 'Tem cuidado', diz ela quando o carro resvala - há um ribanceira à direita dela, suficientemente inclinada para dar cabo daquela tarde que se previa quente a mergulhar numa fantástica barragem de águas azuis.

Sai! Diz ele. Se não estás segura, sai. Pára o carro - desafia ela. O carro pára. Ela bate a porta e segue a pé. O carro avança com uma daquelas acelerações viris e nervosas.

Ela conhece-o. Ela sabe que ele voltará para vir buscá-la assim descarregue o resto da miudagem. São sete quilómetros até ao destino, entre pinheiros e eucaliptos que erguem para o alto as chatices daqueles dois miúdos a jogar ao 'rato e ao rato'. Ele regressa, como previsto. Não a vê. O arvoredo esconde-a de propósito.

Vão cruzar-se sete quilómetros mais à frente, ele já deliciado nos mergulhos da piscina natural, ela cansada e de orgulho ferido. Mergulha, ela própria, numa profundidade que não será apenas a das águas.

Refrescada, decide regressar sozinha. Ignora todas as perguntas de vizinhos e amigos que por ela passam. Ali todos se conhecem e ela segue a pé porque quer. O carro dele há-de passar. E passa. Não pára, não abranda, nada. Segue como se passasse por mais um arbusto ali plantado à beira da estrada, daqueles que as rodas tocam e por pouco não estragam. Ela não sabe se o retrovisor repara nela. Ela já não vê nada.

Está quase a chegar a casa quando o velho carro se aproxima. Já só traz o condutor. Anda, diz-lhe ele, não vou, responde ele. Tens de vir, está a ficar frio, insiste. Não quero, diz ela.

A Lua desce.

E ela acaba por ir. Faltar-lhe -iam uns 500 metros para acabar aquele percurso e ter um bom pretexto para pôr fim ao jogo. Mas não. Desistiu quando era fácil parar. A tola desistiu e acreditou que os lugares vagos no carro eram todos para ela. Seriam sempre... Não eram.

Naquele entardecer na serra o carro seguiu com os dois. Mas a gasolina teria acabado ali mesmo, se houvesse verdadeira justiça. Não acabou. E chegaram juntos como se nada se tivesse passado naquele tarde.

15 comentários:

Anónimo disse...

É isso que chateia é que no fim acabamos por ser todas tolas...PQ nós acreditamos!

Carrie disse...

Só me ocorrem frases feitas como ‘preso por ter cão e preso por não ter’, faca de dois gumes e outras tantas banalidades. Mas é verdade é que é disso que se trata. Mulheres (e homens) só sofrem por que acreditam. Porque acreditam num amor, num projecto, num sonho, whatever… e quanto mais acreditamos, que o mesmo é dizer quanto maior é a subida, maior é a queda. E quando chegamos lá baixo nem sempre temos uma rede de segurança… e depois são os disparates que se sabe…

Se deixamos de acreditar, de sonhar, é porque somos umas cabras insensíveis… para mim, a escolha parece-me óbvia… Antes tola!

Leão da Lezíria disse...

Meninas, isto não vai soar nada bem, aviso já. Aconselho mesmo a parar aqui e não ler o resto do comentário. Mas um tipo que deixa a namorada ou a amiga ou quem quer que seja no meio de um descampado merece algum tipo de segunda oportunidade? Não vos lembra aquelas histórias do tipo que agride a mulher e depois conta-lhe uma história de arrependimento e ela acredita e dá seguimento à "never ending story"? Sonhar e acreditar é bonito, mas não seria melhor deixar esses sentimentos para quem os merecer? Agora podia ser deselegante, e dizer que as oportunidades atrás de oportunidades só alimentam a brutalidade. Mas não digo, porque me acusariam de estar do lado do infractor. E não estou.

joana disse...

Não há como ter mau feitio e ser obstinada. Às vezes é um defeito, outras uma qualidade. Eu nunca teria entrado naquele carro!

Carrie disse...

Leão, Quando se sabe o fim da história é muito fácil falar assim. Tu certamente também terias dado uma segunda oportunidade.

Leão da Lezíria disse...

Carrie:
Podes apostar o teu ordenado de um ano inteiro em como não teria dado uma segunda oportunidade. E antes do fim da história, descrevi-o. Não era preciso ser vidente. E, finalmente, nestas coisa dos blogues, as cartas estão viciadas. Os meus posts e comments sou eu que os escrevo, o que me dá a suprema liberadade de lá colocar o que quero. O Leão da Lezíria é um bocado totó. O Zé nem por isso.

PS - Sabia que não ías gostar de ler.

Chatterbox disse...

Carrie, estes contactos na blogosfera são interessantes. Já quase que parece conhecermos a pessoa. Nunca me ocorreria ler um post teu a perdoar um fdp.
Independentemente de quem seja, é isso que ele é, un FDP.
Tal como no ditado, ninguém tem uma 2ª oportunidade para deixar uma 1ª boa impressão, um fdp se faz uma, vai fazer a seguinte.
DE CERTEZA! Má formação está nos genes. Tal qual o gajo que agride fisicamente.
Não sei o fim o fim da história. Mas aposto que não mereceu a segunda oportunidade que lhe deram.
O amor não supõe fazer de nós tolos. Para haver um tolo, há um esperto, um que se impõe e desrespeita. A isso chama-se subalternismo! E isso não é amor!
Leão, ai da/o fdp que se atravessasse no nosso caminho.

Leão da Lezíria disse...

Chatter:

Nunca me atravessarei no teu caminho...

Carrie disse...

Leão, para mim um e outro são indissociáveis e nenhum deles é totó. Mas essa mania de ser do contra está a tornar-se perigosa.

Não se trata de perdoar um fdp, simplesmente defendo que toda a gente merece uma segunda oportunidade. Assim como acho que NINGUÉM merece uma terceira... parece-me que é a essa terceira e quarta e quinta e... que te referes.

Chatterbox, eu sou aquele que escreveu que as mulheres gostam de fdp, razão pela qual fui atacada de todos os lados. Ainda restam algumas nódoas negras. Quanto ao resto… a resposta ao Leão deve ser esclarecedora.

Cas, mau feitio é coisa que não me falta...

Chatterbox disse...

DEZ anos de ordenado.
Não esqueço nem perdoo um FDP!
Conheces uma escola da psicologia que aborda a personalidade através de um eneagrama?
Sou um 8. Madre Teresa de Calcutá e Hitler também o eram.
Calculo que o leão também o seja.
Black and white. No greys!

Carrie disse...

Chatterbox (já agora, que raio quer dizer este nick?!),
Os cinzentos, assim como os vermelhos, rosas, azuis, verdes são uma óptima medida de prevenção contra fundamentalismos. Cada vez digo menos 'nunca'.

Chatterbox disse...

A person who talks a lot.
Info adicional: o meu encosto à costela anglo-saxónica e a minha tagarelice.
O meu mundo são só cores. Se leste algum post meu na mesadocafe, saberás que a intolerância é o meu cavalo de batalha.
Esta batalha é extensível a toda a pessoa ou assunto que desrespeite um único centímetro para além da sua própria pele.
Os fdp, por exemplo.
Vou ler o post que mencionaste e não o comentarei, mas se o fizesse, sabes o que diria.

PedroNuno disse...

Bom, Chatter, Leao, vcs a quem me dirijo sao da familia (muitos anos na praca a depenar frangos). Eu fui um dos que quase crucificou a Carrie no tal post. Neste, sou mais comedido. Chatterzinha, tu, eu, o Leao, estamos (tanto quanto sei...) de barriga cheia, vida razoavelmente estavel, pessoas com quem nos damos razoavelmente bem, de quem recebemos razoaveis afectos. Nao queiramos estar na situacao de quem gosta "demasiado" (palavra feia neste contexto) e vee o mundo a desabar. Olha que muitas das segundas oportunidades dadas parecem assim fazer sentido, enquanto a dependencia nao passa. Como e' que era? "O tempo cura tudo"? 'As vezes pode demorar mais um pedacito...

Carrie disse...

Pedro, obrigada pela solidariedade. Sim, o tempo cura tudo, só é pena nunca sabermos quanto tempo é que o tempos demora...

Chatterbox disse...

Bom, bem vistas as coisas, estou dependente do fdp do cigarro.
(Foi só para aliviar :))
Grandes e sinceras saudações aos contertúlios deste post.
Game over.