terça-feira, março 14, 2006

Volta sempre aos lugares onde foste feliz

Não voltes a um lugar onde foste feliz. Diz a sabedoria popular, dizem as ‘regras da sensatez’ escritas pelo Carlos Tê. Lembrei-me destas palavras enquanto apanhava sol numa esplanada onde fui feliz. Acto contínuo, saltaram da caixinha verde alface, milhares de frames coloridos de sorrisos. O cenário eram as ruas desta cidade, mas também o rio da minha adolescência, o pelourinho que nos acolhia nas noites quentes de Agosto, uma casa em miniatura numa aldeia da costa algarvia. O areal da Comporta. O som das gargalhadas, o barulho do mar, as cigarras da Serra, acompanhavam a sucessão de imagens como banda sonora. Percebi que nunca poderia deixar de voltar a cada um destes sítios. Não voltes a um lugar onde foste feliz. Aforismo idiota. Regressar é ter de novo um pouco de nós mesmos. É perceber quanto de nós ficou no umbral de um edifício centenário numa rua de Lisboa. Quantos neurónios perdemos com as ganzas fumadas no parque infantil. Compreender como ficamos mais ricos por ter vivido cada um daqueles momentos. O que aprendemos com os outros. Esclarecer de uma vez por todas se aquela história ficou resolvida. Seguir em frente. Dói quando percebemos que ainda há pontas por atar, mas de cada vez que o fazemos corremos o risco de ser um bocadinho mais felizes. Por isso volto todos os anos àquele Rio, ao recanto de uma igreja sobre o elevador da Bica, ao mar da Comporta, volto todos os dias ao meu tapete vermelho…

18 comentários:

Leão da Lezíria disse...

Carrie:
Escreve lá um post para eu concordar contigo. Só uma vez, vá lá...

Carrie disse...

Pois é! Quando estou a escrever penso sempre no que poderei dizer para te contrariar... Ao caso porque não concordas?

Leão da Lezíria disse...

Não será uma contradição e ficarem conversas por esclarecer ou pontos por desatar? Nos sítios onde fui feliz, fui plenamente feliz.

Carrie disse...

Expliquei-me mal e penitencio-me por isso. O que poderá estar por resolver são questões ligadas às pessoas com quem partilhamos esses lugares. Coisas que aconteceram depois e que, por enquanto, ainda ‘assombram’ lembranças mais felizes.

Dia disse...

Eu ainda hei-de voltar a Porto de Galinhas :)
Sou como tu, minha amiga.

Leão da Lezíria disse...

Esclarecido, Carrie. Gosto de dar atenção aos pormenores. è por isso que sou tão chato (esta a deixa para dizeres que não sou nada chato, que é exactamente nos pormenores que está a diferença, que é magnífica a capacidade de valorizar os pormenores, e tal...)

Carrie disse...

Dia, com tanto sítio bonito na terra porque raio havias de ser feliz logo em Porto Galinhas?! És capaz de me explicar? Ainda por cima…

Leão, Tu sabes que eu acho que não és chato, que é exactamente nos pormenores que está a diferença, que é magnífica a capacidade de valorizar os pormenores, blá, blá, blá… Já agora… e uma vez esclarecido, concordas?

Leão da Lezíria disse...

Não concordo. O meu racional (adoro dizer isto, o meu racional, soa tão tecnocrata, tão de acordo com o meu fato de riscas, gravata lisa e camisa branca...), o meu racional, dizia eu, são dois: primeiro, prefiro o desafio de ser feliz noutro sítio que não aquele em que sei que serei feliz (isto não soou nada bem...). Depois, estatísticamente, podemos sempre lixar tudo e a história não se repetir. Resumindo, voltar ao sítio é fazer um bocadinho de batota, é distender a nossa procura de felicidade, é um bocadinho o "coito" dos tempos em que jogávamos à "apanhada" e, além disso, há risco queimar uma boa recordação.

Dia disse...

Em Porto de Galinhas, eu achei que os contos de fadas eram possíveis. Com uma errata, é certo, que estava à solta no meio das folhas, e que envolvia o que tu sabes nesta história, onde, ingenuamente, eu pensei que eles iam "viver felizes para todo o sempre". Fui verdadeiramente feliz e emagreci cinco quilos em Porto de Galinhas e fiquei sete noites sem conseguir dormir, com o calor do ar, com o calor dos corpos. Mas, ainda assim, fui feliz, sim - em cima do tejadilho de um jipe no meio de uma mini-selva onde pintei com pólen de flores riscas encarnadas nas bochechas, fui feliz numa jangada no meio do maguezal, fui feliz a nadar ao lado de peixes coloridos e recifes.
Explicado?

PS - E levas-me à Comporta porque eu nunca lá fui, sim, pode ser que eu seja lá terrivelmente feliz?

Carrie disse...

Leão, vamos lá ver se a gente se entende, pode ser?
1. Voltar a um sítio onde fomos felizes não invalida que rejeitemos o desafio de o sermos noutro sítio.
2. A história dificilmente se repete. Quando volto aos sítios em que fui feliz não vou à procura da felicidade, mas sim porque são sítios que gosto. Desconfio que seria incapaz de ser feliz na Trafaria ou no Barreiro, por exemplo. Também duvido que fosse feliz na Lapónia, dou-me mal com o frio.
3. As boas recordações não se queimam. Ficam guardadas na caixinha verde alface.

Dia,
Só por este comment desculpo-te o facto de teres sido feliz em Porto Galinhas! E sim, levo-te à Comporta.

PedroNuno disse...

Leao, desafio: com todo o devido respeito pelas nossas caras metades (muito bem vindas na passeata), proponho 'a Carrie e porque nao 'a Dia um pequeno tour guiado pela Trafaria. Pessoalmente tive muitos bons momentos de felicidade exactamente aii. Fantasticos Pores do Sol. Uma tasca com excelentes petiscos perdida numa das ruelas. O forte com as batarias de costa no topo da falesia, com aquela fantastica vista para Oeste. Nao me deixou mas recordacoes!

PedroNuno disse...

PS - esqueci-me, tambem gosto da Comporta. E de Porto de Galinhas ha' 12 anos atras.

Anónimo disse...

concordo contigo. vale a pena voltar aos lugares onde se foi feliz. pelo menos, tentamos repetir. se não for possível, percebemos que, afinal, qualquer felicidade é transitória.

[p.s. - não tenho nada a ver com isso mas gosto muito de perguntar: não foi o msn feito para os diálogos? ah!... agora usa-se também o comments do blogger.tem menos piada, mas...ok!]L.

. disse...

Bom, eu tb concordo contigo. Acho que devemos voltar sempre que pudermos e faça sentido aos lugares onde fomos felizes. Não devemos ter medo de recordar; pelo contrário, eventualmente devemos é ter medo de esquecer...

**

Carrie disse...

Rosebud, a menina acaba de passar no exame com 20 valores! No meio de tanta gente foste a única que percebeu alguma coisa do que eu tinha escrito.

Pedro, Trafaria?!?! Não arranjas nada melhor?

Chatterbox disse...

'Regressar é ter de novo um pouco de NÓS mesmos'... independentemente de quem connosco partilhou o momento.
Boa Carrie.
O Leão é um medricas, tem medo de se decepcionar.

Anónimo disse...

A felicidade é efémera, é o momento e pouco mais. Os lugares onde ela acontece são o que menos importa. O que nos fez feliz naquele momento é que é importante. Já fui feliz em paraísos azul-turquesa, em serras e praias e em tascas menos aconselháveis. Se lá quero voltar? Não! Quero novos momentos de felicidade, seguir em frente! Dos lugares onde fui feliz fica só a lembrança e o sorriso que esboço quando algo mos traz à memória. E sigo em frente!

Anónimo disse...

Uma questão: visitar o local onde fomos felizes com alguém, mas desta vez com outra pessoa, e ser mais uma vez feliz: impossibilidade kármica ou apenas a vida a acontecer?

JP