terça-feira, março 21, 2006

A noite em que a química ficou em casa*

Ponto prévio: Juro que não ando a ouvir Rui Veloso. Limito-me a ter uma memória extraordinária para coisas inúteis. Esclarecida aquilo que me parece ser uma questão de bom gosto, vamos ao tema da posta. Diz a música que “não se ama alguém que não ouve a mesma canção”. Reformulo e adapto: não amo alguém que não lê os mesmos livros.

Anos de experiência comprovam a ‘teoria’ que me caiu em cima na noite em que a química ficou em casa. Na noite em que sai com um homem lindo de morrer e não pensei em me apaixonar. Incomodou-me esta falta de vontade. Intrigou-me não sentir vontade de o seduzir. Nunca fui conquistada, sempre conquistei. Percebi que um homem que nunca leu Auster, nem Philip Roth, que não sabe o que é percorrer as ruas de Barcelona à procura da Bea, que nunca se encantou pela Teresa de Perez-Reverte, nem chorou com as angústias de Briony, que não se apaixonou pela sensatez de Clea, preterindo-a a estouvada Justine, que não aprendeu o que é a solidão com o Ballester, não é homem para partilhar os meus lençóis.

* Work in progress

9 comentários:

Leão da Lezíria disse...

Carrie:
Um (grande!) amigo meu dizia que a génese da incompatibilidade entre homens e mulheres está em razões de dinheiro ou sexo. Nada mais. Eu acredito nesta verdade. Por isso, acredito que as incompatibilidades literárias (ou, interpretando livremente o teu post), de "mundo" poderão, mais do ser um impedimento, ser uma oportunidade. Descobrir outros mundos. Dar Auster em troca de Enid Blyton. Dar Roth e receber Dan Brown. Ainda tens na tua memória de coisas inúteis o telefone desse homem lindo? Liga-lhe...

joana disse...

Cara Carrie,
Eu acho que o problema é que as mulheres são cada vez mais exigentes...há que ser, talvez, mais tolerente, tolerar as diferenças de leitura, de gostos, de cores, de desejos....o velho ditado de os extremos atraem-se (acho que é assim) mantém-se actual, e o resultado é muito mais completo e diversificado .
Agora se ele era lindo de morrer e não deu vontade de seduzir, é porque não era aquele o tal: o que tiver que ser nosso à nossa mão vem parar, mais tarde ou mais cedo. Há que aguardar serenamente...

Catarina disse...

Eu acredito que mesmo nas diferenças basta sentir orgulho. É disso que se faz química.

Carrie disse...

Leão, Não exclui Enid Blyton nem Dan Brown das minhas leituras. Aliás Não excluo quase nada. Mas estamos a falar de um gajo que simplesmente não lê! O que para mim é um handicap inultrapassável, e são, sim, incompatibilidades de ‘mundo’.

Cas, é verdade que somos cada vez mais exigentes, o que não é de todo um problema. O facto de querer um homem que leia o mesmo que eu, a quem possa sugerir os melhores livros que me passaram pelas mãos [como faço com os amigos] não significa que não aceite a diferença. Não levem tão à letra tudo o que escrevo. Até lá aguardo serenamente...

Lady, bons olhos a vejam por esta Cidade. A química é feita de muita coisa, mas não percebi como é que o orgulho aqui entra.

Anónimo disse...

Se calhar o rapaz faltou à aula em que ia aprender a ler. Eu falhei a aula que ia aprender a ver as horas... hoje é um problema!

joana disse...

Carrie,
tenho que lhe apresentar o meu "blind date"...é feito para si, em termos literários; e tem montes de piada... em termos fisicos não posso opinar, porque não conheço as suas preferências.
Qd nos encontramos ele estava com um livro em inglês (pride and prejudice)e eu (que já o li em versão portuguesa) perguntei-lhe porque andava a lê-lo em inglês. Resposta: Mas o livro não foi escrito em inglês? Confesso que me apeteceu, sei lá, zurrar ou mandá-lo à merda!

Carrie disse...

Anónimo, o rapçaz não só aprendeu a ler como até sabe escrever, e bem! Mas não gosta de ler. Temos pena.

Cas, Sou exigente mas não arrogante e no seu lugar tinha de certeza mandado o rapaz ler o 'Pride and Prejudice' à maezinha dele...

Anónimo disse...

Carrie,
nem imaginas o quanto te compreendo e como me identifico com esse problema de incompatibilidades. Também já passei pelo mesmo mas no campo gastronómico. Uma moçoila linda, inteligente, mas detestava essa iguaria que são os torresmos. A relação durou pouco e acabou muito mal. Caíu sobre mim a responsabilidade sobre algumas nódoas num vestido. Senti-me como o Clinton, mas as nódoas de que me acusavam eram só de gordura. E não foi necessário recorrer a testes para o provar.
Hoje não falamos. E para evitar dissabores procuro a minha cara-metade em talhos e nos hospitais, nas salas dos ACVs.

Carrie disse...

Gosto dos nossos anónimos. A sério que gosto!