sexta-feira, março 31, 2006

Entre um blog e outro*

Os homens são maravilhosos e adoro fazer-lhes muitas coisinhas, como se fossem ursinhos de peluche, mas a verdade deve ser dita: não é possível aturá-los muito tempo, porque são monótonos, desenxabidos, mentirosos ou dissimulados, incapazes de mudar, e infiéis, infiéis, infiéis, infiéis, oh, meu Deus como são infiéis, os cabrões! São execráveis. Isto é científico, não admite refutação.

* Só tenho pena de não ter sido eu a escrever isto...

Inerte

Faltam-me emoções.

As minhas pernas tremem aceleradamente e sem que consiga pará-las, às duas...

Não estou triste.

Acho que saí.

Boa noite.

quarta-feira, março 29, 2006

Classificados III

Procura-se livro de instruções para relações humanas. Serão os cientistas que decifraram o genoma humano capazes de descodificar o sinuoso código genético dos relacionamentos amorosos? Quando caiu em desuso a frase ‘queres namorar comigo’ perderam-se também as, já de si ténues, linhas que definiam relações de intimidade antes que estas passassem pelo crivo da bênção sacerdotal ou a oficialização no registo.

A pergunta pode ser bacoca, ridícula, como são todas as declarações de amor, mas convenhamos que era bem mais fácil! Com o Sim, ou um Não, ponham-se os pontos nos i’s. Esclareciam-se formas de estar. Agora somos todos tão liberais, tão ‘trendy’, que os homens já não pedem em namoro. As mulheres, que se recusam a dar parte de fracas, dizem que isso não as afecta.

Nos últimos dois dias perguntei a dois amigos pelas namoradas. A resposta foi a mesma. ‘Não tenho namorada.’ Ah sim? Então que nome dás à gaja com quem dormes? Que vai contigo jantar fora, a quem mandas mensagens e telefonas a desoras? Como chamas à mulher que vai contigo 'aquele' concerto, ver 'aquele' filme, com quem perdes a noção de espaço e tempo? Amizade colorida? Eu chamo medo de assumir compromissos, que cresce na proporção exacta da intimidade. Mas talvez eu seja conservadora. Bota de elástico, you name it.

segunda-feira, março 27, 2006

Memórias

Há quem tenha memória visual. A minha é olfactiva. E dá uma trabalheira que não sei que lhe faça! Desgraçada da Primavera, que ainda nem assentou arraiais, só está a bater à porta, timidamente, sem grandes confianças, e eu já a maldigo com todos os nomes (feios) de que me consigo lembrar.

domingo, março 26, 2006

Insurreição

Lua enamorada*


* Porque a lua também tem direito, diz o fotógrafo.

Foto tirada da minha varanda no dia 14 de Fevereiro

orgulho aromático*

OS AROMAS

OS AROMAS DO MAR
OS AROMAS DO VERÃO
OS AROMAS QUE NOS LEVAM
A MAIS QUE UMA RECORDAÇÃO

O AROMA A PRAIA
O AROMA A AREIA
O AROMA DO JANTAR
O AROMA DA CEIA

E OS MELHORES AROMAS
OS DO AMOR E DA AMIZADE
QUE CHEIRAM A ALGO FRESCO E LEVA
COMO O AROMA A FELICIDADE

*Poema roubado ao blog da minha sobrinha de 12 anos :)

Finalmente... vi-a!

Andou toda a manhã no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Estava vestida de sol e com nuvens daquelas azuis que fazem recortes bonitos no céu.

Nas redondezas todos corriam por ela. Ao pescoço traziam medalhas e vestiam t-shirts patrocinadas a condizer pouco com o resto da indumentária trazida de casa. Eram às centenas e fecharam Avenidas para, todos juntos, correrem na estrada sozinha. Diz-se que correram com pessoas importantes da Nação, homens da política e do meio social, que gostam de envergar calções de lycra, ou outros mais discretos, nestas ocasiões em que a discrição fica longe da meta.

Mas eu não. Segui o caminho contrário. Nunca gostei de correr e nas aulas de ginástica improvisadas num Pavilhão qualquer da Escola secundária da Damaia a professora dizia-me 'tu não sabes correr'. Ai não? Pois só correrei se e quando necessário, para o que for preciso. Claro que deixei de correr para apanhar transportes públicos, deixei de correr para às aulas, e odiei correr na ginástica.

Eu gosto é de andar calmamente. E hoje vi-a por causa disso. Também ela ignorou o rebuliço dos corredores de meta e encheu-se de música e flores dentro do CCB. Andei por lá a ouvir cantares de outros tempos, a ouvir e a ver umas fantásticas artistas, performers que punham o mundo a rir, tocavam lindamente violino e ainda deixavam marcas de lábios pintados nas caras dos pais que ali chegavam com os seus curiosos miúdos. E vi as flores. Corredores imensos de flores que conheço, outras novas, cheiros que nunca tinha experimentado, cores bem misturadas e a assentar bem naquele cenário.

Levei o meu sobrinho à Festa.
E vi, finalmente, a Primavera.

Que fique entre nós.

Mais uma hora

Quando peço ao tempo para andar depressa ele atrasa-se e faz-me perder num passado que não deixa o presente.

Hoje, que preciso tanto de dormir, lá me rouba mais uma hora.

Preciso de aprender a gerir cada minuto, para não me voltar a incomodar com estas coisas passageiras.

sábado, março 25, 2006

Há companhia por aí?

E que o faz tão uma miúda tão gira quanto eu sozinha em casa num sábado à tarde cor de cinza a ouvir roxy music? Resposta: fantasia com o que não deve. Ou será que no reino da fantasia tudo nos é permitido?
Dance away the heartache.

sexta-feira, março 24, 2006

Primavera

Então mas ela não chega?

E vocês deixam-me sozinha neste blog, assim, à chuva?

Onde estão todas? As minhas amigas bloguistas e a Primavera?

O que aí vem... lá vai

Pode o futuro ser certo se o presente parece uma grande incerteza.
Pode a certeza valer a pena se um dia já se viu que certo, certo, nada é?

Pode uma mulher gostar de um homem quando, já se já sabe, a priori, não vai resultar, aquela relação?
Pode a relação resultar se ela não acreditar em pontos de partida viciados?

Pode o amanhã começar hoje a mostrar caminho? Pode o camino fazer-se com as passadas de hoje?

Poderia isto tudo ser mais claro se me deixasse de tretas????

Não me parece. Não seria capaz.

quinta-feira, março 23, 2006

Dúvidas

Há noites em que não me largam, as dúvidas. Então, deito-me. E espero que a que dizem ser boa conselheira me faça acordar com respostas.

Será amanhã?

terça-feira, março 21, 2006

No Dia da Poesia

Eu, que não a aprecio, roubei um texto a um amigo, que também é namorado, que também é jornalista... e que hoje escreveu isto, para publicar na 'caixa'.


"O Poeta é um fingidor.
Finge tão completamente,
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente".

Sabe-se com segurança que as estrofes são de Pessoa. O Fernando que era poeta e que tinha vários nomes. Com menos segurança se sabe se o poeta finge, realmente e, a ser verdade, o que finge. Portugal, rectângulo salgado pelo Atlântico, é há oito séculos país... e sempre foi de poetas. Populares como Aleixo, eruditos como Camões, pragmáticos como Gedeão, contemporâneos como Eugénio de Andrade, inconformados como Ary dos Santos, revolucionários como Manuel Alegre.

(...)

Não se sabe também se a Literatura afasta os Portugueses, ou se são os Portugueses que se afastam da Literatura. A verdade é tão mais... verdadeira quanto se fala, de menos, em Poesia. Coisa erudita, dirão uns, inantingível, acusarão outros, inútil rotularão os menos atentos. Porque se o não fossem talvez entendessem que um verso, uma estrofe, uma redondilha, uma rima, uma quadra, não são conceitos de escola, são apenas modos diferentes de ver o que se vê, de dizer o que se diz.

(...)

E assim Portugal pode ser de poetas. Todos dias. Desde que o queiramos. Os livros estão aí, e com eles os autores. Todos os autores; e as palavras deles. Por vezes só faltamos nós. E aquilo que de nós disse Natália Correia:

"Ó subalimentados do sonho.
A poesia é para se comer".

Que bem que se está no campo

Gaja que é gaja nunca perde a compostura. Anda de saltos de cinco centímetros, calças pretas, casaco cintado e óculos Gucci a segurar o cabelo, mesmo quando é para limpar o pinhal*. Gaja que é gaja talvez perca a figura quando leva com uma nuvem de fumo nas ‘ventas’, porque o vento mudou. Sufoca no meio de uma cegueira branca, tosse e quase perde o equilíbrio para dentro do poço de queima controlada (isto de fazer queimadas no dia mundial da árvore parece-me muito pouco ecológico). Gaja que é gaja diverte-se a arrastar ramos para dentro da fogueira, a apanhar pinhas, a enterrar os saltos na terra amolecida pelas chuvas dos últimos dias. A arranjar ramos para depois acender a lareira [como quando tinha cinco anos e queria imitar a avó a levar um braçado de lenha à cabeça]. Gaja que é gaja gosta do campo.

[* ‘Dondoca’, mas não tanto(!), principalmente porque não é prático. Tinha acabado de chegar da cidade e fui ver de onde vinha o fumo. Acabei por ficar a ajudar.]

A noite em que a química ficou em casa*

Ponto prévio: Juro que não ando a ouvir Rui Veloso. Limito-me a ter uma memória extraordinária para coisas inúteis. Esclarecida aquilo que me parece ser uma questão de bom gosto, vamos ao tema da posta. Diz a música que “não se ama alguém que não ouve a mesma canção”. Reformulo e adapto: não amo alguém que não lê os mesmos livros.

Anos de experiência comprovam a ‘teoria’ que me caiu em cima na noite em que a química ficou em casa. Na noite em que sai com um homem lindo de morrer e não pensei em me apaixonar. Incomodou-me esta falta de vontade. Intrigou-me não sentir vontade de o seduzir. Nunca fui conquistada, sempre conquistei. Percebi que um homem que nunca leu Auster, nem Philip Roth, que não sabe o que é percorrer as ruas de Barcelona à procura da Bea, que nunca se encantou pela Teresa de Perez-Reverte, nem chorou com as angústias de Briony, que não se apaixonou pela sensatez de Clea, preterindo-a a estouvada Justine, que não aprendeu o que é a solidão com o Ballester, não é homem para partilhar os meus lençóis.

* Work in progress

domingo, março 19, 2006

Dia do Pai

Quem diria que saberia hoje que este dia também vai ser teu?

Dilúvio

Ao fim de dois dias, nada me espantaria menos do que ver a Arca de Noé a descer pela Serra abaixo.

Pai

Não te zangues quando chamo primeiro 'Mãe'!
Nõ estás esquecido, nem tão pouco em segundo plano.
Ela às vezes ouve melhor porque tu não estás à espera de ser chamado.

Amanhã vou a um casamento...

... Não é o meu.
Mas faz-se no mesmo sítio onde um dia também celebrei um.

Vou a um casamento de uma rapariga que mal conheço e de um rapaz que conhecerei sempre, porque, sendo mais novo do que eu, é daqueles com quem cresci e vi crescer. Em certa medida, e presunção à parte, daqueles que 'ajudei a criar', como diz o outro...

O M. é um rapaz pacato. Já não se fazem assim. Toca viola, dá catequese, também ensina viola e faz da vida uma aprendizagem. Usa assim uma barbichinha daquelas pequenas - que não aprecio - mas que nele fica bem, porque o envelhece sem o fazer velho e faz-me ver que já não é o puto a quem dei conversa e mais conversa sobre temas do género 'fazer o melhor pelos outros', 'nunca desistir dos projectos em que acreditamos' etc, etc, etc.

Amanhã vou ao casamento do M. Acho que o dele vai durar. Vão viver para casa da mãe dele, porque o pai morreu no ano passado e a casa que ambos remodelam há uns anos ainda não está pronta. Quando casei, andava a construir uma casa com o meu namorado. Decidimos casar, mesmo assim, porque estava 'QUASE' pronta. O quase durou mais tempo que o nosso casamento. Mas com o M. não! Vai ser diferente. Digo isto com convicção porque sei que ele ponderou tudo, porque sei que aceita com calma e candura, paciência e lealdade tudo o que corre mal na vida. E recebe com um sorriso o que corre bem.

Eu quase não falo com o M. Há alguns meses. Valentes... (tirando a parte do convite)Mas trago-o na memória em situações tão dignas e tão bonitas que nunca poderei esquecer. Como o dia em que subimos aquela montanha suiça, cansados, mochila às costas - alguns, porque o M. às vezes levava duas - sol na saída, chuva quando a montanha ia a meio, e neve já no topo. Uma viagem na qual a transformação do clima parecia querer provar-nos que até podemos estar em diferentes fases da vida, em diferentes estados de humor, mas a montanha será sempre a mesma, e teremos de chegar lá a cima, seja como for... preferencialmente juntos. Todos.

Amanhã vou de branco ao casamento do M. Não como noiva - nem queria tal coisa e atenuo a cor para não parecer deselegante - mas vou como uma espécie de tia que se vê de quando em quando, e que vai chorar quando sentir que o 'sim' dele, esse sim, será para sempre.

Como as amizades. Mesmo as que assentam no passado muito atrás.

sexta-feira, março 17, 2006

Mais um recado

«Ele censurou-se: "Pelo amor de Deus pára! Pára de pensar! Abre os olhos! Vê! Deixa o mundo entrar!"»

Se tiveres dúvidas... volta lá ao lugar onde foste feliz...

Quinta-feira, 20H. O Café Medeia serve hamburguers e massas para quem tem pressa e quer comer para aguentar duas horas de filme. Fomos lá por acaso. Não íamos ao cinema. Tínhamos dois bilhetes para um espectáculo diferente, com mão de Chico Buarque, nome de ópera e malandrice no título. Era no Coliseu daí a uma hora: A Ópera do Malandro.

Mulheres da cidade, cientes do que acontece no Rossio quando há Coliseu cheio, La Feria em cena e não sei mais o quê... metemo-nos num taxi. Pontaria: 4 euros depois estávamos à porta e ainda evitámos a chuva que começava a cair.

Camarote 26. Vista satisfatória. Sala Cheia.

Começa o espectáculo, sotaque brasileiro - já se sabia - uso e abuso de expressões só por eles usadas, um Rio que ficava, para mim, ainda mais distante... outros tempos, outras expressões, e um cantar quase sempre afinado que, de quando em vez, me fez sorrir. Nunca aplaudir.

Eu e a Carrie saímos no intervalo. Quando desci a rampa do Coliseu olhei para trás só para me certificar de que não estava a sair da Canção de Lisboa, ou assim... Eu até gosto de musicais. Tenho visto alguns... Revista é que não suporto e muito menos suporto espectáxculos onde as pessoas só se riem se se fala de sexo, quando se diz puta ou quando se apalpa um rabo em palco. Como diriam os brasileiros... baixaria. Não chega, para o preço dos bilhetes...

Somos umas resistentes da Cultura e sabíamos que (quase) ali ao lado, no Lux, Ursula Rucker tinha outro tipo de música para dar. Subimos a Avenida a pé. Primeiro a da Liberdade, depois a Fontes Pereira de Melo que, talvez pela ligação às águas (apenas no nome), trouxe de volta a chuva. Chegadas ao carro lá fomos, Avenida - desta vez -abaixo, destino : Discoteca Lux.

Esgotados os bilhetes para a Ursula, esgotavam-se também as nossas possibilidades de fazer qualquer coisa de digno, nesta noite que decidimos cultural. Nisto eram já 23h30... e nem um pingo de sono.

Podia ter havido uma operação STOP naquela bendita Avenida que as probabilidades de sermos apanhadas aumentavam. Voltámos a subir, direcção Saldanha, em concreto, cinema Monumental.

O Syriana é um filme que requer atenção. Está filmado com cores assim de documentário - disse a Carrie e eu concordo - o Clooney não está bonito, nem feio, mas está muito bem no papel de Bob (óscar de melhor actor secundário merecido). E o Matt Damon também está bem, com aquele ar sempre de inocente, puto perdido por quem nos apaixonamos no fim. A história é uma autêntica teia que nos leva a viajar de Teerão para Marbella, e depois para os Estados Unidos, e de volta ao Irão e com planos (cinematográficos) que podem ser de um mundo onde árabes, chineses, europeus e norte-americanos se misturam. Um mundo real, portanto... O petróleo é o ponto de partida. Ou a gota d'água, se preferirem... E foi filmado no Dubai!

Nós escolhemos o Syriana. Deixámos o 'Boa Noite e Boa Sorte' para outro serão com menos voltas e com outro Clooney, ainda a preto e branco. Mas sentimos que esta valeu a pena. No fim o Medeia estava fechado mas, a mim, ainda me chegou à boca o bom sabor do Tagliatelli...

terça-feira, março 14, 2006

A felicidade depende de quê?

Se voltar ao lugar onde fui mais feliz volto também ao lugar onde fui mais infeliz. E se a companhia nesses dois estados de alma era a mesma, de quem é a culpa? Do lugar ou da companhia?

Talvez seja minha...

É por isso que nunca sei se, para onde, para quem, e quando voltar...
Deixo-me estar?

Volta sempre aos lugares onde foste feliz

Não voltes a um lugar onde foste feliz. Diz a sabedoria popular, dizem as ‘regras da sensatez’ escritas pelo Carlos Tê. Lembrei-me destas palavras enquanto apanhava sol numa esplanada onde fui feliz. Acto contínuo, saltaram da caixinha verde alface, milhares de frames coloridos de sorrisos. O cenário eram as ruas desta cidade, mas também o rio da minha adolescência, o pelourinho que nos acolhia nas noites quentes de Agosto, uma casa em miniatura numa aldeia da costa algarvia. O areal da Comporta. O som das gargalhadas, o barulho do mar, as cigarras da Serra, acompanhavam a sucessão de imagens como banda sonora. Percebi que nunca poderia deixar de voltar a cada um destes sítios. Não voltes a um lugar onde foste feliz. Aforismo idiota. Regressar é ter de novo um pouco de nós mesmos. É perceber quanto de nós ficou no umbral de um edifício centenário numa rua de Lisboa. Quantos neurónios perdemos com as ganzas fumadas no parque infantil. Compreender como ficamos mais ricos por ter vivido cada um daqueles momentos. O que aprendemos com os outros. Esclarecer de uma vez por todas se aquela história ficou resolvida. Seguir em frente. Dói quando percebemos que ainda há pontas por atar, mas de cada vez que o fazemos corremos o risco de ser um bocadinho mais felizes. Por isso volto todos os anos àquele Rio, ao recanto de uma igreja sobre o elevador da Bica, ao mar da Comporta, volto todos os dias ao meu tapete vermelho…

Geografias

- O que procuras nela?
- Quero contar-lhe as sardas, Piloto. Já reparaste…? Tem milhares, e quero contá-las a todas, uma por uma, percorrendo-as com o dedo como se fosse uma carta náutica. Quero traçar rumos de cabo a rabo, ancorar nas enseadas, fazer navegação costeira na sua pele… Compreendes?
- Compreendo. Queres fodê-la.


O Cemitério dos barcos sem nome
, Arturo Pérez-Reverte

Dúvidas

A minha melhor amiga convida-me para jantar com três homens lindos. Todos eles comprometidos. Começo a questionar-me sobre se valerá a pena manter esta amizade ou se bastará mandá-la a um psicoterapeuta para tratar estas tendências sádicas.

domingo, março 12, 2006

Time out

(...)
- Quer jogar?
- Não, eu não jogo.
- É uma pena. Tencionava apostar o meu restaurante contra o seu carro. Se perdesse, esperava pelo fim das chuvas, atravessava o rio a pé e seguia viagem. Se ganhasse, pegava no carro e voltava para trás, para a vida que deixei...
Eu não queria voltar para trás. Não queria regressar à vida que havia deixado. Hesitei um instante e depois disse-lhe que sim, que estava disposto a jogar, que aceitava a aposta. Os olhos dele brilharam. Tirou do bolso das calças um par de dados muito gastos. Reparei que lhe tremiam os dedos e que tinha as unhas manchadas de nicotina. Venceu-me sem dificuldade. Entreguei-lhe as chaves do carro e pedi um café. Sentia-me de repente muito cansado.
- Então isto é o fim?
- Não. – Respondeu-me Máximo sem perder o sorriso. – Não há fim. O que há são intervalos.

Eduardo Agualusa in Pública

De olhos bem abertos



Tantas vezes ouvimos dizer 'a minha vida dava um filme' que também acreditamos ser esse o destino da nossa. Logo de seguida pensamos que só podia ser um drama, uma comédia, um filme de terror... ninguém diz, de si, que a história da vida que leva terminaria, por exemplo, num romance em tela grande...

Eu adoro cinema mas decoro poucas coisas. Melhor dizendo, a minha capacidade de memória fica àquem das personagens desse fantástico filme de animação que conta a história de uma fuga, a partir de uma galinheiro. O meu cérebro é bicado todos os dias, como se lá se abrissem buracos de onde sai tudo o que aprendi, absorvi, nas 24 horas que antecedem a bicada...

Por isso, e antes que me esqueça, aqui seguem as razões para ver dois filmes sobre vidas reais e inventadas, sobre dramas e histórias de terror... que vi ultimamente no cinema.

Os filmes chama-se 'Capote' e 'Coisa Ruim' e em nada (?) são comparáveis. Mas ambos devem ser vistos para que, realidades que desconhecemos ou outras que nos omitem, sejam pensadas, ponderadas, lembradas. Nem que seja apenas no momento em que nos sentamos ali, naquela cadeira dobrável.

Por ordem cronológica das minhas idas ao cinema...

'Coisa Ruim' é um filme que roça os medos. Foi apresentado no Fantasporto deste ano - aliás, abriu-o, com a honra de ter sido, pela primweira vez, um filme português a fazê-lo. Foram precisos 26 anos para que tal acontecesse - e tem uma beleza estranha e que nos agarra a um filme que nos quer, afinal, assustar. A fotografia é maravilhosa e os diálogos fazem sentido. E se não fazem é de propósito, porque ir ao cinema é também pensar no que pode ser e no que gostaríamos que fosse. O actor principal - Adriano Luz - é muito bom, e o miúdo da história - Afonso Pimentel - cresce ao longo do filme como um actor que vale a pena fixar. Coisa Ruim leva-nos a um mundo de interiores. Não é só o de uma casa, o de um País, o de uma Serra coberta de curvas de vento e geada. Coisa Ruim fala de tradições, chama as coisas pelos nomes, e remete-nos para um Portugal que todos sabemos que existe. Mas que não faz parte dos roteiros.



Outra coisa é Capote. Primeiro porque me mostrou um Truman Capote que não imaginava. Um escritor que é um vígaro, um mentiroso, um egoísta, um homem capaz de tudo, tudo mesmo, para ter a sua história. E não precisava de tanto... a sua própria história, como é contada neste filme, basta-nos. E o Phillip Seymour Hoffman é, simplesmente, genial. O óscar para melhor actor é mesmo merecido. Pela minha parte, agarrou-me ao filme, fez-me pensar que até podia ter pena daquela criatura intragável, que até podia compreendê-la mas que, sobretudo, tinha de lê-la. E já tenho comigo o 'A Sangue Frio', obra que desconhecia...

Quando era miúda e jogava ping-pong com os meus irmãos, era frequente levar 'Capote', o mesmo que dizer 7 a zero. Essa coisa ruim que eles me faziam - ganhar todos os jogos - também me fez crescer com o sentimento e a vontade de tentar ganhar o próximo. É o que farei no cinema. Não posso perder os bons que por aí andam. E os que hão-de vir.

Há bilhetes?

sábado, março 11, 2006

De tolos todos temos um pouco

Zangaram-se. Brigaram feio. Não foi a primeira vez, não seria certamente a última.
Em jeito de desafio, ele disse: "Aposto contigo que amanhã até às tantas horas arranjo outra namorada".
Ela esperou para ver. Dito e feito. Ele cumpriu, ela comprou bilhetes de camarote para assistir.

E os desafios continuaram e por vezes ela pegava no carro a meio da noite e fazia quilómetros impensáveis ao longo dos quais ia perdendo o orgulho. E a lucidez de cada vez que lhe vasculhava o telemóvel à procura de pistas feitas ou provas recebidas. E a auto-estima em cada insulto ou agressão

Foram loucos os dois ao não perceber que o respeito é o pilar de qualquer relação sã.
Se calhar, fomos todos os que assistimos e celebramos um pouco tontos. É difícil contrariar o brilho dos olhos apaixonados. Querer acreditar é mais fácil. Até ao dia...
Já era altura desta história terminar. Não fosse ela acabar mais tarde e pior. Há vida pela frente.
Disse-te há dias, querida Samantha, meio a brincar, que a auto-comiseraçao não combina contigo. Se tivesse tido coragem, tê-lo-ia dito de forma mais assertiva.

sexta-feira, março 10, 2006

Não existem filhos (as) da puta... Apenas tolas e tolos

Raramente uso saltos altos e muito menos sapatos de ponta certeira capazes de bicar o fecho da braguilha à minha frente sentada. Nesse aspecto, não sou uma filha da puta.

Se conheço um tipo interessante com quem fico umas boas horas a falar, mudo de tom se ele tem aliança, se me fala da 'mulher' ou da 'namorada', mesmo que me venha com a conversa da tanga 'as coisas não andam bem', 'sinto-me sozinho', 'ela nunca aceitaria o facto de eu ter uma amiga...' Tenho por princípio evitar os comprometidos - o que é difícil, hoje em dia - o que talvez faça de mim, outra vez, uma 'não' filha da puta.

Porém...

E para tentar provar que não existem filhos, nem filhas da puta, deixo-vos hoje - haverá mais - um caso que quer provar a existência, isso sim, de gente tola. Gente burra que aceita tudo por causa de um tipo ou de uma gaja que se julgam filhos da puta. Não o são. Os outros é que são demasiado tontos.

Senão, vejamos:

Caso 1:

Seguem cinco pessoas num carro de marca fraquinha, idades entre os 16 e os 22 anos, flor da idade, esperanças e outras parvoíces da geração. Um casal - novos - segue à frente. Ele conduz. As curvas - da estrada - são sinuosas e ele conhece-as bem. Mas há perigo. Ela alerta-o. Ele prossegue. 'Tem cuidado', diz ela quando o carro resvala - há um ribanceira à direita dela, suficientemente inclinada para dar cabo daquela tarde que se previa quente a mergulhar numa fantástica barragem de águas azuis.

Sai! Diz ele. Se não estás segura, sai. Pára o carro - desafia ela. O carro pára. Ela bate a porta e segue a pé. O carro avança com uma daquelas acelerações viris e nervosas.

Ela conhece-o. Ela sabe que ele voltará para vir buscá-la assim descarregue o resto da miudagem. São sete quilómetros até ao destino, entre pinheiros e eucaliptos que erguem para o alto as chatices daqueles dois miúdos a jogar ao 'rato e ao rato'. Ele regressa, como previsto. Não a vê. O arvoredo esconde-a de propósito.

Vão cruzar-se sete quilómetros mais à frente, ele já deliciado nos mergulhos da piscina natural, ela cansada e de orgulho ferido. Mergulha, ela própria, numa profundidade que não será apenas a das águas.

Refrescada, decide regressar sozinha. Ignora todas as perguntas de vizinhos e amigos que por ela passam. Ali todos se conhecem e ela segue a pé porque quer. O carro dele há-de passar. E passa. Não pára, não abranda, nada. Segue como se passasse por mais um arbusto ali plantado à beira da estrada, daqueles que as rodas tocam e por pouco não estragam. Ela não sabe se o retrovisor repara nela. Ela já não vê nada.

Está quase a chegar a casa quando o velho carro se aproxima. Já só traz o condutor. Anda, diz-lhe ele, não vou, responde ele. Tens de vir, está a ficar frio, insiste. Não quero, diz ela.

A Lua desce.

E ela acaba por ir. Faltar-lhe -iam uns 500 metros para acabar aquele percurso e ter um bom pretexto para pôr fim ao jogo. Mas não. Desistiu quando era fácil parar. A tola desistiu e acreditou que os lugares vagos no carro eram todos para ela. Seriam sempre... Não eram.

Naquele entardecer na serra o carro seguiu com os dois. Mas a gasolina teria acabado ali mesmo, se houvesse verdadeira justiça. Não acabou. E chegaram juntos como se nada se tivesse passado naquele tarde.

quarta-feira, março 08, 2006

A hora da verdade... ou o sexo dos anjos?

Na sequência de posts anteriores e respectivos comentários, é então altura de abrir hostilidades. Estarão os homens e as mulheres condenados a reclamar para todo o sempre a incompreensão do sexo oposto? Genuinamente, seremos assim tão diferentes? Até onde é que essa diferença nos afasta e nos atrai?

Como não sou sabedoria no tema, recorro aos académicos. A editora Difusão Cultural tem dois livros editados: "ELE - Chaves para a piscologia masculina" e "ELA - chaves para a psicologia feminina", da autoria de Robert A. Johnson, psicanalista da escola de Jung de renome internacional que recorre, no caso dos homens ao mito do Santo Graal e, no das mulheres, ao mito de Eros e da Psique.

Diz o entendido:

"A crónica da vida de uma mulher pode descrever-se na sua luta e evolução em relação ao princípio masculino da vida - quer a encontre exteriormente numa criatura humana, quer no seu íntimo, como animus"

"O homem depende largamente da mulher para a existência de luz na família, pois não está bem preparado para encontrar um significado só por si. A vida apresenta-se lhe frequentemente seca e árida, até que alguém lhe incute um significado"

"A mulher é a portadora do crescimento, na maior parte dos relacionamentos. O homem receia isso, mas ainda mais a sua ausência".

Tentei ser imparcial, mas o autor não colaborou :) Por isso, vejo-me na obrigação de pedir ajuda a Ruth Barnhouse, da universidade de Harvard. Que diz:

"As mulheres sabem muito menos do que imaginam a respeito dos homens. Desenvolveram, ao longo dos séculos, técnicas notáveis para se lhes adaptarem, mas isso não significa que os compreendam."

terça-feira, março 07, 2006

Faz-me um desenho

A tinta da china. Traço carregado. Faz-me um desenho para que eu perceba onde foi o fim da linha. Mostra-me, preto no branco, qual o comboio que perdi. Diz-me com todas as letras, tens o alfabeto inteiro, em que apeadeiro fiquei. Ajuda-me a subtrair os dias que perdi, multiplicando as horas mal dormidas, somando as noites vazias. Ensina-me a prova dos nove para que eu perceba se nesta equação ficarei sempre a perder.

segunda-feira, março 06, 2006

Filhas da Puta – Modo de usar

Mais Cidade que Sexo proundly presents: Leão da Lezíria

Depois da saudável discussão sobre o facto de algumas mulheres gostarem de homens que as tirem do sério, impõe-se um estudo sério sobre o “modus operandi” que os filhos de Adão deverão seguir quando têm a sorte de lhes sair na rifa uma daquelas mulheres com uma moral sexual vincadamente masculina, das que tiram os homens do sério. Uma filha da puta (fdp), portanto.

Uma boa definição de fdp será aquela colega de trabalho que se senta à nossa frente no jantar de Natal da empresa. Depois de fazermos saber a mesa que nossa mulher está grávida de oito meses e são trigémeos, sentimos um pé descalço, vindo da cadeira em frente à nossa, percorrer languidamente a nossa calça do fato às riscas, detendo-se quando chega ao joelho. Um olhar de relance permite-nos concluir que é a fdp a iniciar a sua versão de Missão Impossível III. Há que reagir.

Uma reacção básica e de todo desaconselhável será a de entregar imediatamente o ouro à bandida. A travessia do deserto por que estamos a passar (lembrem-se: oitavo mês de gravidez…) tira-nos discernimento. Os menos avisados sairão do restaurante rapidamente, na esperança de que a fdp os siga. Bem podem esperar, a fdp não gosta de tanta facilidade. Nestas condições, em que entregamos os pontos, podemos contar com o desprezo eterno da fdp, que se rirá de nós no dia seguinte e ainda insinuará junto da Dona Maria da Paz (a senhora reformada que serve os cafés) que a tentámos assediar. “Coitadinha da mulher, no oitavo mês de gravidez…Animal!”, dirá a Dona Maria da Paz, que passará a olhar-nos com asco e passará a servir-nos o café em copos de plástico.

Uma reacção mais aceitável será a de ir a jogo. Tentar controlar a situação. Se os sapatos não forem daqueles com atacadores, podemos descalçar-nos recatadamente e responder na mesma moeda, isto é, afagando com o nosso pé descalço a perna da provocadora. Algumas precauções: antes de mais certificar-se que é efectivamente da fdp o pé que nos afaga (imaginem que, por erro de paralaxe, se nos afigura ser o pé da fdp quando, na verdade é o tipo do marketing). Por outro lado, ter a consciência que, no nosso caso, não nos livraremos de dar uma frouxa imagem de nós próprios se restringirmos o afago á zona abaixo do joelho. Durante toda esta acção devemos manter-nos imperturbáveis, continuando a falar animadamente sobre a OPA do Belmiro com quem está ao nosso lado. Esta acção requer técnica e muito treino, se não tivermos a certeza que conseguimos mover apenas a parte no nosso corpo abaixo da bacia, mais vale estar quieto e parar o exercício de contorcionismo.

Na hora de levantar, após o discurso do Administrador, ficar longe da fdp, isto para além de nos certificarmos que voltámos a calçar o sapato. Estratégia de toca-e-foge, portanto. Continuar a dar-lhe a primazia de ser ela a comandar a situação. Que será, será…

Normalmente a fdp nunca leva carro para os eventos sociais, pelo que será de esperar que nos aborde e pergunte se lhe podemos dar boleia para o sítio onde vamos continuar a noite. Esta é a ocasião para decidir se queremos ou não ir a jogo e, não indo a jogo, temos ainda que decidir se não vamos a jogo só esta noite (mantendo uma janela aberta para o futuro) ou se a queremos despachar definitivamente.

Não indo definitivamente a jogo, uma forma elegante de sair de cena é dizer-lhe que a nossa mulher não dorme sem nós chegarmos a casa e que Massamá Norte ainda é longe. Podemos ainda deixar o extracto de conta-ordenado em cima do banco do pendura. As fdp abominam gente que more em Massamá Norte, e abominam ainda mais homens que necessitem de ter uma conta-ordenado para pagar as contas. Prova superada, portanto.

Querendo deixar a continuação do jogo para uma oportunidade futura (porque bebemos demais e não estamos capazes de fazer boa figura com uma fdp), uma saída clássica é dizer que temos um jogo de póquer clandestino num bar mal afamado e não a podemos levar porque é perigoso. As fdp gostam da adrenalina, mas não lhes apetece acabar a noite numa espelunca na Cova da Moura. No entanto, sentir-se-á ainda mais atraída por nós, com a nossa vida paralela no bas-fond. No dia seguinte perguntar-nos-á se ganhámos ou perdemos. Naturalmente, diremos imperturbáveis e sem vacilar que perdemos cem mil euros e que estamos a precisar de desabafar com alguém. Segue jogo.

E pronto, como a comunidade masculina não me perdoaria se eu revelasse os ancestrais códigos para lidar com uma fdp, resta-me ficar por aqui, sempre à disposição, na secreta esperança de ter dado mais uma achega a esta fascinante temática.

domingo, março 05, 2006

A minha sogra casou-se*

Tentei interpretar o facto de estar presente no casamento da minha sogra ainda antes de ter estado no meu próprio enlace com o filho dela. Uhmmm... Não interessa elencar aqui as razões pelas quais ela deu o nó, nunca o tendo feito antes, e os motivos porque eu ainda não dei o meu, apesar de ter vontade disso. É talvez mais importante concluir que as convenções não nos devem prender sejam num sentido ou noutro. A minha sogra chegou à conclusão de que valia a pena fazer algo em que até agora não tinha acreditado, outros acalentaram este sonho toda a vida e tiveram uma desilusão. Ou seja, o importante é acreditar que os rituais são isso mesmo: partilharmos com família e amigos um momento singular na nossa vida. Pode ser o prelúdio de um desastre ou, de facto, o início de uma bela história. O importante é vivê-la, recordar os bons momentos e seguir em frente quando acabar. Para que, com ritual ou sem ele, vivamos todas as histórias que destino nos reservar.

Não tenho sogra. Se tivesse provavelmente também não estaria a casar-se. Gostava de assistir a um casamento este ano. Uma festa muito especial, de uma mulher que adoro. Adiante. Há temas que só para algumas de nós ainda fazem sentido. Hoje tivemos jantar a quatro. Juntamo-nos pela segunda vez este ano. Não foi precisa nenhuma desgraça, nenhum quarto de hospital. Estamos juntas porque sim. Para trocar mimos e prendas de Natal. A senha hoje pertence à Samantha. Assumidamente, a mulher do momento.

A minha 'sogra de facto' é divorciada. Já passaram mais de 10 anos e ela nunca superou o facto de lhe terem trocado as voltas quando parecia que já não era altura de dar mais volta nenhuma. Fugiu-lhe o tapete de debaixo dos pés, quando ela já nem se lembrava que ele estava lá.
A minha mãe é viúva de um casamento de merda. Já lá vão dois anos e ainda lhe vêm lágrimas aos olhos quando se recorda do meu pai.
E eu estou acompanhada há vários anos. Bem acompanhada. E mesmo assim são muitas as vezes em que me sinto demasiado só. Moral da história? Não sei se a há e nunca fui demasiado moralista. Mas talvez estas três histórias - e não só estas três - revelem que dificilmente nos bastamos a nós próprios. Se assim fosse, talvez algumas coisas fossem muito mais fáceis. Mas muito menos coloridas e ternas, certamente. Às minhas amigas do peito, desejo-lhes o mesmo que a mim própria: a manutenção do laço que nos une e que, quando tudo o mais falha, nos ajuda a atenuar a dor e a manter a capacidade de nos conseguirmos rir das nossas mágoas e ridicularidades menores.

A minha sogra é casada. E bem casada. Mas eu já me divorciei do filho dela. A minha sogra manteve um casamento feliz com um homem que a respeita mas não soube dar aos dois filhos a necessária 'formação' para eles lhe seguirem o exemplo. E ao pai. -- Só para que se saiba, e actualizando o encontro desta noite - a senha é agora da Carrie! -- Continuando... Os filhos da minha sogra - diz-se que esses laços familiares nunca terminam, mesmo que o casamento morra - casaram-se: um com uma mulher dominadora que o controla a 100 por cento; o outro comigo. Eu não controlei a coisa e lá se foi o casamento.
Como diria o Chico Buarque: 'Foi bonita a festa, pá...' mas acabou-se.
A minha sogra é boa pessoa. Ainda o é, de certeza, apesar de não nos vermos há mais de dois anos. Creio que não voltarei a ter outra. Creio que não voltarei a ter outro marido - mas nunca digo nunca, no que a este assunto diz respeito - mas tenho a certeza que, solteiras, casadas, juntas ou divorciadas, as três amigas deste 'mais cidade que sexo' me bastam.
E se alguma delas casar, lá estarei! Porque apesar de já não ter idade para o 'chá de panela', não desdenho uma boa festa de 'trem de cozinha'.


*Escrito a 8 mãos, com votos de felicidade à D. Conceição.

sexta-feira, março 03, 2006

Amizade

Almocei com um dos homens da minha vida. O meu maior amigo de liceu, o único que mantenho até hoje. Da última vez que estivemos juntos passei dois dias a pensar porque raio nunca me tinha apaixonado por ele. Perguntei-me mil vezes como pude deitar fora a paixão assolapada que tinha por mim. Hoje voltei a pensar no assunto. No final do almoço, enquanto conversávamos sobre a vida um do outro, ele deu-me a resposta. Disse-me qualquer coisa como “nunca consegui ser amigo das minhas ex-namoradas”. E eu seria incapaz de perder esta amizade. Guardo-te para a vida. Toda. Mesmo que esta tenha sido injusta e nos tenha separado durante tanto tempo.

Coisas que só a mim apoquentam*

Já foi um vício maior. A Miranda chama-lhe actividades pidescas. Concedo. Pelo Statcounter sei quem visita esta Cidade (conheço alguns IPs de cor, outros já me esqueci), como cá chegam, por onde andam, quais são os posts mais lidos. A verdade é que tudo isto é absolutamente irrelevante. Mas há uma coisa que me intriga há semanas. Porque raio temos nós uma visita da Sérvia? A sério! Ao início achei que era engano, mas depois percebi que é recorrente. Todos os dias, pelo menos uma vez. Por isso, todas juntas: Olá à(ao) nossa(o) leitor da Sérvia e já agora dê notícias. Chegue-se à frente. Apresente-se. Será sempre bem-vinda(o).

* Título gentilmente roubado ao Quatro Caminhos.

Uma verdade por Dia

Quando estamos com amores bomba relógio em mãos, quando há uma forte possibilidade de sermos felizes, que merda, que incrível chatice, deita fora, parte para o próximo, quero um gajo casado, um cheio de filhos e ex-mulheres problemáticas, quero curar um homossexual da sua bichice, quero um menino bonito, quero um toxicodependente, só quero amores impossíveis.O amor é tanto maior quanto a sua impossibilidade. O amor é inversamente proporcional à probabilidade de um final feliz.

Para o JP

"Alguém disse uma vez que no momento em que paramos a pensar se gostamos de alguém, já deixamos de gostar dessa pessoa para sempre.”
A Sombra do Vento, Carlos Ruiz Zafón

Se os conselhos valessem de alguma coisa não se davam, vendiam-se. Por isso, por não saber o que te dizer, mesmo que me tenhas dito que não precisas que te diga nada, deixo-te uma citação que me fez pensar. Pensar e agir. Também sei que não há dois casos iguais. Conheço quem tenha pensado muito nesta mesma frase e tenha decidido ficar. Pelo que vejo é feliz.

Os filhos da puta

Manuel Maria Tolentino escreveu 'O Livro dos Filhos da Puta'. É da Editorial Notícias e não é caro. Pouco mais de 5 euros.

A Feira do Livro decorre em Lisboa de 25 de Maio a 13 de Junho. Actualmente, o Mercado da Ribeira tem livros a um euro para celebrar a Primavera que aí vem. Até domingo, no primeiro piso...

Na FNAC não há nenhum exemplar disponível.

Achei que podia dar jeito, a informação...

quinta-feira, março 02, 2006

Há vidas piores...


Rio de Janeiro, S. Conrado

* mas não prestam. O ponto cor de laranja na primeira foto sou eu. A sensação de liberdade e leveza, que substitui o pânico inicial, é absolutamente indescritível. Na segunda estamos já em pleno voo…
[Créditos fotográficos: Borboleta]

quarta-feira, março 01, 2006

Quem tem uma mãe tem tudo

E para finalizar o capítulo das fofas nas capas, não resisto a aconselhar uma espreitadela à última edição da GQ. Sob o mote "jardins poibidos", Cinha e a filhota pimpinha desfilam num verdadeiro show de lingerie ao longo de 10 páginas. Diz a mãe que o fez porque tem muito orgulho na filha. Diz a filha que, se fosse para outra revista, talvez não o fizessem juntas (??????). Gostam muito uma da outra.
A minha mãe também diz que gosta de mim, mas é muito mais careta. Tentei convencê-la mas não consegui. Para começar, percebeu tudo ao contrário. "Uma revista de jardins??? Ah, que interessante..". Depois, apenas me disse que agora não tinha tempo porque andava a tratar dos papéis da reforma. Ora bolas. Ainda dizem que quem tem uma mãe tem tudo...

Pontes

Gosto da Vasco da Gama porque me leva a casa do meu irmão. Gosto dela por ser bonita, vista de qualquer sítio de Lisboa. Gosto de vê-la da margem sul, de observá-la do lado norte. Gosto desta ponte inaugurada 'à feijoada' e com um recorte fino de uma arquitectura que nenhum enchido envergonha.

Gosto da 25 de Abril. Gosto da história que traz na travessia, da infância que recordo quando, por ela, soube quem era o 'Dr. Oliveira Salazar' e ali ouvi falar de uma Revolução com cravos. Até cheguei a pensar que o material nela usado - aço, parece-me - era assim, vermelho, por causa da insurreição militar e das flores. Gosto porque se vê do alto, quando os aviões voam vindos do sul. Gosto, porque Lisboa é um presépio iluminado quando sobre ela já vimos Belém.

Gosta da Ponte de Brooklyn. Atravessei-a a pé com uma amiga que me fica na memória das viagens. Mesmo as imaginárias, porque ainda as fazemos. Por ela - pela ponte - comprei um livro do Paul Auster que me fez gostar - ainda mais - do autor norte-americano que vive do lado de lá, fora da grande Manhatan. Gosto da estética e dos cabos cruzados a deixarem ver arranha-céus aos quadradinhos. Gosto de sentar-me nela para observar as outras que também conduzem à Grande Maçã. E gosto de senti-la sobrevoavada por gente com as economias estabilizadas, o suficiente para circularem de helicóptero em Nova Iorque.

Gosto da Ponte de Vila Franca. Sei que tem um nome importante, mas não o recordo agora... Lembra-me tempos idos quando fazer a recta do Infantado era gozar uma viagem de mil quilómetros (parecia) e que, no sentido Lisboa, queria dizer 'estamos quase a chegar'. Gosto da antiguidade que tem e do rio que me ensinou a conhecer, ainda no estado puro. Além de recordar o medo de atravessá-la. Sempre.

Gosto da London Bridge. Gosto de vê-la iluminada mesmo que não sejam jóias as de uma coroa que vemos. Também gosto da nova ponte, a que celebra o milénio, em Londres. Gosto de ver a Tate de um lado, linhas direitas e cores rosadas e, do outro - mais ao fundo, e já noutra travessia - as linhas clássicas de um Palácio onde rainhas e princesas podiam ser, no imaginário, uma história de encantar...

E gosto da Ponte de D. Luís. Imponente sobre a invicta, a recordar outro monumento numa capital com classe como é Paris. Gosto de passar sob ela e ver a Ribeira, sentir-lhe o cheiro, ouvir os sons que das janelas saem sem pudor. E também gosto da outra, mais adiante, a da Arrábida, mais recente... marca de betão que um dia foi a maior arcada do mundo.

Podia referir mais... uma maravilhosa nos Picos da Europa, numa terra cujo nome esqueci mas que associo a uma feijoada (outra) célebre, das Astúrias. Uma ponte romana de cruz erguida ao meio... e uma mais pequena, mais simples, feita há menos tempo, mas há tanto outro, que por ela passou o meu avô enquanto menino. Numa Ribeira a que assim chamaram por por lá correr um fiozinho de água, mais forte no Inverno.

De tantas pontes eu gosto.




Só detesto as do funcionalismo público. Não é por não gozá-las. Mas por saber que, por causa delas, o dia de amanhã - hoje, tendo em conta a hora - será bem mais difícil de gerir. É que os que a ponte gozaram vão querer atravessar a semana mais depressa. E eu é que não caio ao rio...