Tantas vezes ouvimos dizer 'a minha vida dava um filme' que também acreditamos ser esse o destino da nossa. Logo de seguida pensamos que só podia ser um drama, uma comédia, um filme de terror... ninguém diz, de si, que a história da vida que leva terminaria, por exemplo, num romance em tela grande...
Eu adoro cinema mas decoro poucas coisas. Melhor dizendo, a minha capacidade de memória fica àquem das personagens desse fantástico filme de animação que conta a história de uma fuga, a partir de uma galinheiro. O meu cérebro é bicado todos os dias, como se lá se abrissem buracos de onde sai tudo o que aprendi, absorvi, nas 24 horas que antecedem a bicada...
Por isso, e antes que me esqueça, aqui seguem as razões para ver dois filmes sobre vidas reais e inventadas, sobre dramas e histórias de terror... que vi ultimamente no cinema.
Os filmes chama-se 'Capote' e 'Coisa Ruim' e em nada (?) são comparáveis. Mas ambos devem ser vistos para que, realidades que desconhecemos ou outras que nos omitem, sejam pensadas, ponderadas, lembradas. Nem que seja apenas no momento em que nos sentamos ali, naquela cadeira dobrável.
Por ordem cronológica das minhas idas ao cinema...
'Coisa Ruim' é um filme que roça os medos. Foi apresentado no Fantasporto deste ano - aliás, abriu-o, com a honra de ter sido, pela primweira vez, um filme português a fazê-lo. Foram precisos 26 anos para que tal acontecesse - e tem uma beleza estranha e que nos agarra a um filme que nos quer, afinal, assustar. A fotografia é maravilhosa e os diálogos fazem sentido. E se não fazem é de propósito, porque ir ao cinema é também pensar no que pode ser e no que gostaríamos que fosse. O actor principal - Adriano Luz - é muito bom, e o miúdo da história - Afonso Pimentel - cresce ao longo do filme como um actor que vale a pena fixar. Coisa Ruim leva-nos a um mundo de interiores. Não é só o de uma casa, o de um País, o de uma Serra coberta de curvas de vento e geada. Coisa Ruim fala de tradições, chama as coisas pelos nomes, e remete-nos para um Portugal que todos sabemos que existe. Mas que não faz parte dos roteiros.
Outra coisa é Capote. Primeiro porque me mostrou um Truman Capote que não imaginava. Um escritor que é um vígaro, um mentiroso, um egoísta, um homem capaz de tudo, tudo mesmo, para ter a sua história. E não precisava de tanto... a sua própria história, como é contada neste filme, basta-nos. E o Phillip Seymour Hoffman é, simplesmente, genial. O óscar para melhor actor é mesmo merecido. Pela minha parte, agarrou-me ao filme, fez-me pensar que até podia ter pena daquela criatura intragável, que até podia compreendê-la mas que, sobretudo, tinha de lê-la. E já tenho comigo o 'A Sangue Frio', obra que desconhecia...
Quando era miúda e jogava ping-pong com os meus irmãos, era frequente levar 'Capote', o mesmo que dizer 7 a zero. Essa coisa ruim que eles me faziam - ganhar todos os jogos - também me fez crescer com o sentimento e a vontade de tentar ganhar o próximo. É o que farei no cinema. Não posso perder os bons que por aí andam. E os que hão-de vir.
Há bilhetes?