Esqueçam que eu existo
Às 10H30 recebi o meu primeiro telefonema do dia. Era trabalho.
À meia-noite e meia recebi aquele que, espero, seja o último do dia. Trabalho.
Durante o dia não têm conta os telefonemas que recebi. Mais os e-mails a que respondi. E as pessoas com quem falei. Fazem fila, às vezes, e repetem o meu nome mesmo que mais alguém já esteja a usá-lo. Começam a falar comigo com frases do género 'deixa-me só fazer-te uma perguntinha', ou então, 'desculpa lá', ou ainda - a que eu mais odeio - 'tu sabes isto, de certeza'...
Dediquei hoje 3 minutos ao meu irmão. Porque ele me ligou. Dois à minha cunhada - mulher do outro irmão - porque ela me ligou. Sete à minha mãe. E mais dois ou três à mais assídua companheira deste blog. Cinco ao Rei. Sempre ao telefone. Feitas as contas, passei menos de meia hora com as pessoas de quem gosto. Mesmo onde trabalho, e onde tenho amigos, não tive um minuto com eles. Mas nem um só se passou sem crises, solicitações, reclamações, perguntas, chatices, dúvidas... Nem um minuto, sequer.
À uma da tarde fiz a minha primeira refeição do dia. Uma sandes de chourição, porque a fila para o cozido à portuguesa dava a volta ao bar.
Às quatro tive de fazer um reforço. Tosta mista. Ando esfomeada.
Jantei às 11 e meia. Em casa, pela primeira vez desde há uns quantos dias. E tenho frio.
Preferia não existir, aos olhos de tanta gente, nos dias que são como o de hoje. Talvez comesse a horas, talvez dedicasse mais tempo aos que também mereço, talvez não tivesse frio.
Porém... sinto-me gelada, hoje.
2 comentários:
Não esqueço. Recuso-me. E quero dizer ainda mais vezes o teu nome. Vou-te raptar para jantar, para ir ao cinema, para dizermos disparates, para darmos gargalhadas e para nos aquecermos com um chá de camomila.
E eu vou-te poupar ao baby-sitting às nove da madrugada de sábado, enquanto eu escalo regaladamente uma falésia, talvez a olhar para o mar, talvez a pensar que com uma rotura muscular "made in ski" teria sido melhor ficar em casa. Mas tens de prometer que desligas o telefone, acordas cedo, vais tomar o pequeno-almoço a uma esplanada com vista de mar e almoças como deve ser. Liga-me e eu dou-te o cartão de crédito dourado para que não haja constrangimentos à minha noção de "almoco como deve ser"...
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