quinta-feira, janeiro 19, 2006

Nunca peças desculpa por teres orgasmos múltiplos

Na televisão o Michael Douglas diz à Kathleen Turner ‘nunca peças desculpa por teres orgasmos múltiplos’. As pessoas bem-educadas pedem desculpa quando abusam da generosidade dos outros. Eu pelo menos sou assim. Mudo de canal, com vontade de mudar de vida. Tenho a cabeça feita em água. Talvez por isso as palavras não saiam, ficam por lá a boiar e não querem saber se eu preciso de desabafar. Sim, A., eu sou aquela que passa a vida a queixar-se.

Eu que sempre achei que isto era fácil, era só juntar as letras que os textos se escreviam por si, fico em pânico em frente ao ecrã branco do Vaio, sem nada para dizer. Amedrontada desde que esta cidade ficou mais completa, que os padrões de qualidade subiram. Só nos falta ter um ISO 900, mas a atribuição é certa. Bloqueada desde que um inominável, também os tenho Dia, nos linkou num blog que tem mais visitas por hora do que nós temos por dia.

Tenho a cabeça em água e amanhã tenho que acordar de madrugada para ir ouvir um senhor com trissomia 21. Não me venham dizer o contrário porque não acredito. A linha que separa a loucura da genialidade é frágil, mas este é o primeiro espécime vivo que conheço, ainda que na verdade só lhe reconheça a loucura. Vou por o despertador para as 7h porque alguma alminha descobriu que eu sou uma mina, falta-me saber se o mineral vale alguma coisa, em potência. Dizem-me para aproveitar o bom momento. Não percebo o que tem de bom acordar de madrugada, mas devo ser eu que sou de compreensão lenta.

Eu não queria escrever nada disto. Só queria mesmo era queixar-me porque a semana nunca mais acaba. Porque tenho a agenda cheia e não tenho cinco minutos para me organizar. Porque já passaram 18 dias desde o início do ano e ainda não pus os pés na melhor esplanada de Lisboa, o livro é o mesmo do ano passado e ainda só vou na página 200. Porque ando ocupada com milhentas coisas que em nada contribuem para a minha felicidade e não tenho tempo para o que realmente me apetecia fazer. Não tenho tempo para passar uma tarde a dar mimos à Miranda. Faltei ontem a um jantar com a Samantha. Não liguei à Charlotte para saber como está. O Gui, o meu mais que tudo, também precisa de mimos, e quando chego já está a dormir. Fico a vê-lo respirar com dificuldade e é uma dor de alma por não poder fazer nada.

Ainda não mandei o fax aos senhores a netcabo a dizer para passarem bem, mas que por mim podem fechar a loja que já não preciso deles para nada. Também não liguei para a segurança social para mandarem de novo um reembolso miserável que não fui depositar. Ando há uma semana para marcar cabeleireiro, mas quando me lembro de ligar já fechou. Idem para a depilação. Não consigo ir comprar os sapatos com que vou estrear aquela mini-saia linda de morrer que vai deixar os gajos todos com torcicolos. Aí as coisas melhoram. Não há como uma boa dose de piropos para massajar o ego.

2 comentários:

Dia disse...

No Sábado vamos dançar, é uma boa ocasião para estrear essa mini-saia :)
Ano difícil, sim senhora, mas as noites, as minhas, têm sido bem melhores, na companhia do meu Ibook e de uma menina de cabelo desalinhado atrás de um Vaio (computadorzinho lindo).
E de inomináveis não reza a história, meu amor, queremos gajos que se possam citar e nomear à vontade. E mais nada!

Carrie disse...

Levar aquela mini-saia para os sítios para onde vamos é a mesma coisa que levar uma tabuleta a dizer: Violem-me.
Quanto ao resto, é mesmo ‘e mai’nada’!