Insónias e Pesadelos
Aos 6 anos levantava-me da cama e saía de casa a dormir.
Acordava em pânico, a chorar, porque a minha imaginação nocturna ultrapassava a minha capacidade de controlar o medo. Lembro-me de sonhar com um comboio em chamas... não a arder como se se queimasse, mas com chamas por baixo dele... e eu estendida na linha, entre carris, com o fogo a passar-me por cima. Acordava em pranto e a ferver.
Uma vez saí mesmo. Felizmente a minha avó ouviu os meus passos escada abaixo e chamou-me. Subi e voltei para a cama. E ainda bem... o meu pijama não era muito bonito e lembro-me de dormir com umas pantufas de lã, por essas noites. Nunca se sabe quem podemos encontrar na rua, madrugada fora, de pantufas nos pés...
Aos 10 anos tinha sonhos mais elaborados. Sendo eu fã dos livros de BD, especialmente dos da Disney, sonhava muitas vezes com o Mancha Negra. Nos meus sonhos o Mancha aparecia à janela e eu espreitava com medo, ansiosa por vê-lo escapar-se, ansiosa por não ser vista por ele... Nos meus sonhos não entrava o Mickey, o justiceiro!
E depois passei a ter outro, recorrente: era em casa. Eu estava lá dentro. E havia sempre alguém a querer entrar. Este sonho, tive-o tantas vezes, que deu para todo o tipo de larápios, malfeitores, criminosos... me baterem à porta. O medo que este sonho me dá. Às vezes volta. Acordo sempre antes da última volta da chave.
Depois dos 30 o natural era sonhar acordada. Mas não. A minha vida pode ser um pesadelo de dia que, tenho sempre a garantia, sê-lo-á também de noite. Hoje foram umas aranhas... eram assim grandes e carnudas e andavam em cima da minha cara. Acordei, agradada por perceber que elas não estavam no meu quarto, mas no do meu cérebro. Voltei a fechar os olhos mas logo percebi que é treta, aquela história de os olhos serem as janelas do espírito... porque os meus estavam calefetados e lá andavam, no meu espírito, as malditas aranhas.
Esta noite deve aparecer outro bicho qualquer, ou outra coisa qualquer suficientemente assustadora. Há um mês que é assim. Noite após noite. E mais o passado... também me visita.
Não sei como posso sonhar. Em tempos perdi a vontade, já a esperança tinha desandado. Agora preferia sonhar mas o sono não me deixa. Não me deixa dormir para sonhar. E acordo de tal maneira cansada que nem os sonhos do dia querem alguma coisa comigo: 'precisas é de dormir' - pensam eles. E se não durmo de noite pregam-me a partida de manhã. E se não durmo de noite é porque os pesadelos não me largam.
Bocejo. Mas não me adianta de nada...
Irei para a cama?
3 comentários:
Querida Samantha, os sonhos e os pesadelos, são como a boa sorte. Nunca vêm ter connosco os sonhos e nunca vão dar uma volta ao bilhar grande os pesadelos se nós ficarmos sossegaditos no nosso canto. A uns, temos que os perseguir, temos que lutar por eles. Aos outros, temos que os enxotar, mas com veemência, de forma a que eles percebam que é mesmo para ir embora de vez. Passa-se o mesmo com os impostos, que não ficam pagos se nós não preenchermos (e enviarmos...) as declarações do modelo 2. Até os jardins, pasma tu Samantha, não se cuidam sozinhos, há que adubar, regar, cortar, eliminar as daninhas. Os jardins bonitos, como as declarações de impostos preenchidas, os pesadelos enxotados e os sonhos realizados só acontecem se nós quisermos. Tu queres, Samantha?...
Achei graça ao Mancha-Negra.
Tu sonhavas com ele. Eu vi-o. E lembro-me como se fosse hoje.
Chovia a potes numas férias de Natal e eu, sem nada para fazer fitava a rua da janela do quarto dos meus pais (penso que a PlayStation estava avariada).
Chegou a carrinha do leite, aquela que trazia as garrafas de leite à porta… e o leiteiro? Esse mesmo, era o dito, em carne e osso ou lá o que aquilo é, dirigindo-se para a minha porta!
A minha mãe insistiu no facto de o homem nem de preto estar vestido. Ainda hoje acho que ela não amparou a minha história só para me arreliar.
Dorme bem. Tenta perverter o teu sono e vence os seus protagonistas, ridicularizando-os, enfrentando-os, combatendo-os.
Por exemplo as aranhas são feias, não vão à depilação, não têm dentes, são bem mais pequenas que tu e por isso nada giro lhes serve. Mais... não têm amigos e quase não têm cérebro uma vez que têm o tórax fundido com a cabeça. Néscias e Imbecis!
Eu quero Leão. Nem sempre consigo.Mas sabe bem deitar-me com o pensamento nestas novas visitas do blog de quatro raparigas com mais cidade que sexo.
Voltem sempre.
Enviar um comentário