Madrid me mata
Estava frio em Madrid. Aquele frio cortante a que não se habituam as pessoas que vivem perto do mar. Estava um gelo e mais uma vez não levei o sobretudo. Ainda não o vesti este ano. Tem sido gentil o Inverno de Lisboa. Mas não é do tempo que quero falar. Espanha é desde 1 de Janeiro mais um paraíso dos fundamentalistas antitabágicos. Não se fuma nos bares, nos restaurantes, no átrio dos hotéis, you name it. Lá voltei a passar três horas sentada num restaurante sem poder aceder um cigarro, com a agravante de o cicerone da noite ser um dos nossos excelsos governantes e parecer mal sair da mesa para matar o vício. Entre um ponto e outro éramos conduzidos por um charmoso espanhol e à chegada saíamos do carro e ficávamos uns minutos a enregelar, mãos a tremer, dentes a bater, e o pior é que os meus batem mesmo, e cigarro entre os dedos. A última paragem foi a embaixada portuguesa. A cena repetiu-se. Maços para fora, isqueiro na mão, e uma das pessoas que ia comigo a dizer vão entrando que nós vamos fumar um cigarro e lá ficam parados ao portão. Desculpem? Se bem me lembro das aulas de direito político, dadas com mestria pelo Basílio, deste portão para dentro é território português e que eu saiba em Portugal ainda se pode fumar. [Eu sei que tenho a mania] Lá fui, cigarro aceso na mão, porta dentro. Entro e segundos depois oiço uma tia histérica gritar em castelhano aqui no se fuma. Que eu saiba não há nada na lei que me proíba de fumar. Que no, que no se fuma. E vai a correr perguntar ao embaixador. À resposta afirmativa desfaz-se em sorrisos. Nas costas dela uma dezena de mãos, sem exagero, entra nos bolsos à procura dos cigarros.
2 comentários:
Muito bom. Genial. Vou fumar um cigarro. Enquanto se pode.
Grande Carrie!!! Muito bem, bela memória. Dentro da embaixada é Portugal, nem mais.
Mas deve ter-vos (aos jornalistas fumadores) dado um gozo especial obrigarem a espanhola a meter a viola no saco, não? Já para não falar no prazer do cigarro propriamente dito... :-)
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