quarta-feira, janeiro 04, 2006

Morre a noiva ou o casamento?


Será o casamento o maior e mais genuíno desejo de uma menina?

As bonecas - não as Barbies, que essas só têm amigos e só se importam com o casamento quando é para exibir mais um modelo de vestido de noiva de um famoso estilista - mas as outras bonecas, casam-se cedo. Pelas nossas mãos, de menina, são mães e dedicadas esposas. As bonecas reflectem um desejo desde muito cedo:

- Como é que se chama a tua boneca?
- É a Carolina (nome da moda - bonito, mas da moda. Esta conversa seria agora, já em 2006)...
- Ah... que bonita! E quem é este? Um amigo dela?
- Não. é o marido. A Carolina é casada com ele. Têm 3 filhos.

Pronto. Está casada a rapariga. De família feita. Não teve direito a boda, a preparativos, a um curso na Igreja da zona residencial onde vivia, enquanto solteira. Nada. Casou-se porque é assim que tem de ser. Ou não viverá feliz para sempre. E nenhuma boneca quer ser infeliz.

Tim Burton mostrou-me hoje uma Noiva. Cadáver. Pois se até as mortas voltam à vida para casar...
Bem vista - no filme - a condição 'até que a morte os separe'. Uma graça com nexo, quando o que está em causa é viver 'cá em cima'... ou 'lá em baixo'. O filme parece ter sido baseado n'As Intermitências da Morte, de Saramago. Também nele, a morte lá aparece, em forma de mulher, e o amor vence-a. À morte, porque a mulher ama.
Mas não foi o Nobel a inspirar Burton... O livro de José Saramago até provoca uns sorrisos, mas pela ironia, não pela candura. O filme de Tim Burton é cândido. Que é como quem diz, é muito bonito.

Lá está a noiva. De véu e grinalda. Vestida de branco - o sujo, morto, sobre um corpo descascado, mas com a leveza e a elegância com que sempre a imaginamos, a Noiva.
O filme de Burton tem duas noivas. Ambas querem casar. As duas por amor. O noivo ama uma. Mas, à falta dessa, não se importa de casar com a outra. Burton não terá feito por mal. Mas a noiva - cadáver ou em carne viva - é a que quer casar. E o não casamento só acontece por amor, pelo sacrifício de uma delas. Custa? Mas o amor vence tudo... até a morte.

Terá o casamento a candura que o vestido lhe veste?
Não sei...
Mas sinto que a noiva morre sempre primeiro... que o amor que a faz casar.

1 comentário:

Carrie disse...

Eu sabia que podia ficar sossegadita que tu tratavas do assunto. Uma prosa que, tal como o filme, sabe a pouco...