Sentou-se na minha mesa com o namorado. Era a mesa 'Londres', do casamento da M. com o M. Nenhum deles é meu amigo, mas ele, o noivo, é amigo do Rei, e eu lá fui, arrastada. Estava deslumbrante, é certo, mas de má vontade naquela festa que nada me dizia.
Eu já tinha reparado nela na Igreja, porque não parava quieta e porque, em vez de um chapéu, usava um penacho 'tipo' avestruz que lhe saía do topo da cabeça deixando, atrás, escorrer em rabo-de-cavalo uns longos cabelos negros. Pirosa, pensei.
Quando a vi na minha mesa sentei-me no lado oposto, já ciente de que não queria fazer conversa com ela. Nós éramos quatro, e havia mais um casal - que entrou mudo e saiu caldo - e três rapazes simpáticos. Um deles, de aparelho nos dentes, ficou ao lado dela. Coitado.
O estafermo que esta miúda era - nem sei o nome dela - também tinha aparelho nos dentes, mas o metal não a impedia de falar alto, rir às gargalhadas das suas próprias piadas, beijar o namorado de boca aberta, e mostrar-lhe os dentes, na expectativa de ele lhe encontrar um ou outro resto de sopa, um ou outro resto de hortaliça, um ou outro resto de framboesa, que fazia parte do doce. A comida era boa e o estafermo comeu de tudo, em quantidade, sempre sem se calar.
Falava dela... das experiências com o namorado que conhecia há seis anos mas que namorava há mês e meio - desejei-lhe sorte, a ele, e que não durasse outro tanto - falou do trabalho que tinha, e dos colegas, e do facto de estar a usar aparelho, e do casamento, e dos convidados, e de tudo e mais alguma coisa. A ponto de, o rapaz do lado ter alegado uma grande dor de cabeça para se ir embora. E eu, que pensava que eles eram íntimos - pois se ela não o largava - fiquei a saber que se tinham conhecido naquele preciso momento e que em comum tinham, apenas, o aparelho nos dentes! É dose!
Acalmou com o abandono do ouvinte lateral, mas não desistiu. Batia no namorado, chamava-lje nomes e impedia-o de falar sempre que ele tentava uma palavrita, abria muitos os braços e gesticulava para exprimir as ideias que não tinha.
Eu estive naquele casamento até ao partir do bolo. Pura obrigação. A M. e o M. estavam felizes e nem deram pela estaferma do aparelho. Sorte deles, que puderam ir dormir descansados, e resumiram-se a trocar com ela duas ou três palavras de circunstância.
Eu, que não bebi alcool, saí de lá enjoada. Enojada, farta.
Porque tem de haver um estafermo nos momemtos que se querem felizes para os outros? Eu até evito os casamentos... e se usasse aparelho tinha mais cuidado com a boca.
PS: isto não é um post contra os aparelhos, mas contra os estafermos.