quarta-feira, julho 26, 2006

Daisy

Pegou-ne na mão com força e esperou que atravessássemos juntas. A rua era estreita mas as matrículas deconhecidas, do país do lado, não deixavam enganar: estávamos num lugar estranho, e ninguém conhece o que nunca viu. Por segurança, apertou-me mais a mão e só me largou do outro lado, passeio estreito, sombra a deambular nas nossas cabeças, calor insuportável.

Chamo-lhe Daisy porque assim escreveu a rapariga do Starbucks Café quando teve de lhe identificar o copo de sumo de laranja natural. Desenhou depois o rato Mickey como se as duas personagens da Disney fizessem realmente par. Mas a minha Daisy sorriu com a brincadeira e ainda ganhou um balão, cheinho, para trazer na mão, pelas ruas que então conhecemos.

Era o início de Julho. Fazia calor em Sevilha.

Coonversámos sobre tudo, mas sobretudo conversámos. Passeámos à toa, a pé ou em transportes que a todos os lados nos levavam, mesmo que sem destino fôssemos. Aconteceu irmos parar a um Carrefour onde ainda comprámos iogurtes e pão, como se já vivêssemos naquela cidade desde sempre. Era assim uma espécie de Amadora, onde a morada serve apenas para dormir e receber cartas de pagamentos.

Agarrou na minha mão com força quando subimos à roda gigante. Nunca tinha andado numa e a altitude pareceu-lhe assustadora. Mas descansou à medida que subimos, e quando já se sentia à vontade rodopoiava na cabine e fotografava o mundo à nossa volta. Daisy estava a perder receios. Eu ganhava uma companheira para os meus gostos.

Daisy é tão doce como o mel. Doce no sorriso, nas palavras, nas brincadeiras de criança: canções que entoa sozinha, caricaturas de Floribella, passos de bailarina de improviso. Sonha acordada e à noite, por vezes, acordou-me com o seu sonhar. Às vezes sofria. Mas quase sempre dançava. Daisy é assim. Não pára. E gostava de a ver dormir.

A minha mão foi ainda apertada mais vezes, já na Ilha Mágica onde percorremos um mundo de aventuras mais juvenil. Quis mostrar-me a valentia e arriscou quase tudo. Tremeu, no comboio fantasma; arrepiou-se, nos rápidos rio acima; fechou os olhos na Anaconda, uma montanha russa onde a água nos entra pela casa dentro. Mas nunca desistiu. E acabou sempre a sorrir.

Daisy tem um sorriso lindo. Cheio. Daqueles que basta olhar uma vez para nunca mais esquecer. tem 9 anos, mas conquista as idades que lhe aparecem à frente... sem beicinhos, sem gracinhas, sem mordomias. Daisy é uma criança a saber crescer.

À noite, também de mão dada, pedia-me que lhe cantasse uma canção - aquela de quando eu era pequenina - e eu cantava até ouvir o respirar suave de quem já fechou os olhos por mais uma madrugada. Daisy não sabe que ainda é pequena para mim, mas vale o maior de todos dons. É um bocadinho minha.

3 comentários:

Leão da Lezíria disse...

Daisy é do melhor que a vida nos pode dar. E o Goofy não lhe fica atrás...

meninadalinha disse...

Lindo!!!
Comovente!!!
Obrigada. Pela parte que me toca.

Chatterbox disse...

Enternecedor...
Pela tia e pela M.Daisy