terça-feira, julho 25, 2006

Adultério


Passo a Ponte de comboio. Mantenho-me junto à porta enquanto o Rio corre lá em baixo. Volto para o lugar quando chegamos ao Pragal. É uma viagem nova. Pela primeira vez desço ao Sul no meu transporte de eleição. Lembro-me de outros caminhos. Viagens em que me sentei à porta do comboio. O braço entrelaçado no corrimão. A curiosidade, a vontade de absorver tudo, que se sobreponha ao medo. Maior que o vento que me cortava a respiração e que me obrigava tantas vezes a olhar para trás. Engolir o ar em golfadas urgentes, para poder de novo virar a cabeça para a frente. Lembro-me da subida do Tua. Um comboio vermelho centenário, sobre uma escarpa ameaçadora. Pouca-terra-pouca-terra-pouca... Todos os anos prometo a mim mesma que vou voltar. Antes que fechem a linha. Mais uma no mapa do esquecimento. Estou longe desse Rio. Estou ainda mais longe desses dias de angústia. Vou para Sul. Janelas fechadas para conter o ar demasiado frio. Nem uma nesga para deitar a cabeça de fora. Nem uma porta para abrir em andamento. Aos poucos afasto-me da paisagem. Olho sem ver. De tempos a tempos reparo no castanho dos campos, aqui e ali sarapintados pelo verde dos sobreiros. Olho sem ver e acabo por me entregar ao adultério... Posted by Picasa

2 comentários:

Vampiria disse...

Tmb me entrego a esse adultério diariamente, tmb vou para sul, para o meu ninho... beijo

PedroNuno disse...

Os comboios da CP ou os electricos da Carris: memorias ligadas, diferentes, em que nuns se aproveita a vertigem e noutros a promiscuidade de num unico percurso viajar em varios carros. Ao sabor da idade, da paisagem, do tempo. E o Tua! ainda havemos de comprar aquilo e montar um percurso para Ingleses!
Boas férias!