quinta-feira, julho 06, 2006

Logo hoje...

... que não queria ouvir falar de futebol. Logo hoje que passei o dia a virar as primeiras páginas dos jornais da sala de fumo. Logo hoje, leio isto...

"e no coração as bandeiras desfraldadas ao vento. e a malta que grita. é golo, é golo é golo. o mesmo mar. os mesmos pescadores. e os braços que se me arrepiam. a rádio que grita. a tsf. sempre a tsf rádio jornal. aquela voz num sangue desbragado perdido ao vento. o jogo. o abraço do meu pai. o furor. o calor. e tudo isto aqui, também, diante do mar. as bandeiras desfraldadas ao vento. e a malta que grita. a festa em furor. é golo é golo é golo, é golo, é golo de Portugal. é golo de Portugal. o teu piano por dentro. um piano lento. e eu vejo tudo isto em câmara lenta. um piano que sobe. naquela voz em anéis de fogo. naquelas gargalhadas desmedidas. e por dentro daquele ser, a multidão enfunada na tua voz inesquecível. que bonito é. e de novo as bandeiras desfraldadas ao vento. e a malta que grita a festa. é disto que o meu povo gosta, dizias com todas as tuas veias. e de novo aquele aperto no peito. e o meu pai a ferver no sofá. e os punhos fechados. aguenta coração. aguenta coração. tal é o furor de ser o jogo, este furor de amar, de ser esta paixão dura e árdua no excesso de ser português. e poder chorar, e poder ser muitos. e poder ser toda a gente em toda a parte. e poder ser nada. e poder sentir tudo em toda a parte."

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Dia disse...

E quando ele me enviou, no Sábado, uma sms a dizer: "Ganhámos, Diana", eu suspirei, e pensei, "também tu, David?" E depois li isto. E nesse dia, quase o convencia a vir comer bacalhau à Gomes de Sá a minha casa, assim, sem mais nem menos, abro as portas a um perfeito estranho que me entrou pelo blogue a dentro (foi assim contigo, foi assim com a T), e enquanto mexo a cebolada no fundo do tacho lembro-me do avô do Miguel, do meu melhor amigo, que se chamavaLeopoldo e era assim como eu. E acho que ele às vezes me ilumina apesar de não nos termos conhecido. O Leopoldo ia passear ao Chiado e apanhava estranhos, vagabundos e pedintes com a mesma destreza que a cadela da minha mãe apanha pombos bébés sem os aleijar para ela os criar à mão (na gaiola da sala há, agora, seis pombos apanhados pela Boneca, em franca recuperação); e depois, levava-os para jantar à sua mesa, mandava as empregadas porem a melhor porcelana. E nunca me dei mal, e se ele for o principezinho neste, talvez eu seja a sua raposinha amiga, diz-me ele antes de ir escerever a mais bela prosa sobre o Mundial.